O castelo minuciosamente ornamentado era o ponto mais iluminado de toda a Cidadela e da noite que acabava de cair. Tecidos e luminárias foram importados às pressas da Terra dos Portos para deixar a sala do trono preparada para o aquele evento, e, em seu exterior, um imenso tapete vermelho indicava o caminho que os convidados deveriam seguir.
Carruagens de todos os cantos se aglomeravam a entrada do palácio e até mesmo os oficiais mais graduados das três fortalezas de Alestia se locomoviam para o notório encontro daquela noite. Era essencial que todas as pessoas influentes fossem convidadas e estivessem presentes para o grande anúncio, e, apesar dos preparativos terem sido feitos às pressas – tudo em menos de uma semana para o terror dos criados e mensageiros –, todo esforço e trabalho duro pareceram suprir com maestria as expectativas de seu rei.
O reino de Alestia estava em festa, celebrando e anunciado ao público o noivado de sua princesa, que havia debutado aos quinze anos, mas nunca havia aceitado uma proposta de casamento sequer, até aquele momento. Aquela era uma noite de festejo e alegria, apesar dela própria não parecer muito contente.
― O senhor só pode estar caçoando de mim! Sou uma nobre e uma humana, não posso me casar nestas condições, ele sequer pode ser considerado um cavalheiro – retruca ao pai, fazendo uma careta, ao mesmo tempo em que tentava não chamar a atenção dos convidados. – Sem mencionar que sequer fomos apresentados.
― O objetivo desta festa é justamente esse: apresentá-los um ao outro e anunciarmos o noivado. – Suspira pesadamente, cansado de repetir a ela, os motivos que os levaram até aquele momento e aquela comemoração. – Precisamos fazer isso.
O rei era um homem alto e corpulento, tinha olhos castanhos e um bigode grisalho engraçado, mas que não lhe retirava o andar altivo e o ar majestoso. Trajando sua coroa de ouro e o anel real, a presença do rei impunha respeito e ninguém ousava cruzar seu caminho sem lhe prestar as devidas reverências. Entretanto, apesar de sua reconhecida e respeitada nobreza, ele sentia-se dez anos mais velho todas as vezes que pensava ou falava sobre um possível casamento para a filha, como se a coroa repentinamente pesasse toneladas em sua cabeça.
Sua filha, Sara, tinha os cabelos e os olhos castanhos médios, pele branca como veludo e bochechas levemente rosadas que sempre conseguiam deixar seu rosto quadrado ainda mais atraente. O rei a considerava o primor da monarquia alestiana, principalmente por possuir os cabelos compridos e encaracolados como os de sua falecida mãe. Contudo, seus acessos de raiva ao ser contrariada a tornavam uma donzela difícil de lidar e, em consequência disso, nenhum de seus pretendentes conseguiu conquistá-la, desde os quinze anos, o que totalizavam três belos anos de solteirice e cortejos insuportáveis.
― Sara! – chama o filho caçula do rei, correndo em direção à princesa e segurando-lhe a mão direita. – Ainda não consigo acreditar que você irá se casar com um vampiro, eles são tão legais e fortes, um dia quero desposar uma vampira também – comenta feliz, demonstrando claramente não saber do que estava falando e do que um não-vivo era realmente capaz de fazer.
― Você não sabe o que quer, Richard, tem apenas nove anos, é uma criança ainda – responde de maneira ríspida, sacudindo a mão para se livrar do toque do irmão –, o que de interessante consegue ver em pessoas que agem como sanguessugas? Eles são frios e carrancudos, devem ser horríveis de se conviver também – conclui, sentindo um calafrio subir-lhe a espinha ao imaginar um deles a tocando.
― Silêncio, Sara, nossos convidados mais importantes chegaram – diz o rei em sinal de alerta ao ver dois homens adentrarem o salão, já preocupado com o comportamento de sua princesa diante de seres tão perigosos.
Os cavalheiros trajavam roupas de cores escuras e elegantes, carregavam um semblante enigmático e uma ferocidade contida em seus olhares frios, como se nenhum humano ali presente fosse digno de suas presenças ou de olhá-los.
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Cassis (Série Alestia I)
VampireA imortalidade para os que erram é como uma floresta densa e escura, cujas árvores se transformam em labirinto e os nega qualquer chance de sair. Cassis é um vampiro de 190 anos que se vê obrigado a unir-se a humana Sara pelos laços do matrimônio, p...