Felizes para Sempre?

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Escurece! A noite mais almejada pelos alestianos finalmente chega. Assim que sua alteza real se entregasse ao marido, o casamento estaria consumado e eles estariam inteiramente sob a proteção da aliança e do príncipe não-vivo. É claro que a donzela em questão achava tudo aquilo bastante desagradável. Ter todo o reino pensando em sua noite de núpcias era, no mínimo, tenebroso, e se imaginar entregando-se carnalmente a um vampiro, era ainda pior.

Em contrapartida, Cassis vagava pelos corredores do castelo desde que fora deixado para trás, admirando o interior daquela construção e tentando não pensar em sua recém-iniciada vida conjugal. O clã havia partido no início da noite, sob a segurança do manto noturno, deixando-o para trás, no reino que agora teria que aprender a chamar de lar.

O não-vivo pôde considerar seu passeio solitário bastante produtivo, no fim das contas, pois, além de conhecer a localização dos quartos da realeza e dos hóspedes, ainda encontrou o caminho para uma instrutiva biblioteca, o escritório usado por Arthur para tratar de assuntos reais e confidenciais, a sala de recordações da família real, as escadarias para as diferentes torres de vigia e o trajeto para o impressionante calabouço.

Já era tarde da noite quando o vampiro resolveu conhecer seus próprios aposentos e finalmente encarar a esposa humana. Ele adentra seu novo quarto devagar, parando a um metro da porta para que sua presença fosse notada. Sara escovava seus cabelos frente a uma penteadeira cuidadosamente polida, vestida com suas roupas de dormir que não eram nem transparentes e nem sensuais, mas que moldavam com respeito as curvas de seu corpo, fazendo-a parecer a menina puritana que o vampiro sempre achou que fosse.

A princesa termina de ajeitar seus cabelos e logo se levanta, caminhando em direção ao marido como se já o esperasse.

― Quero deixar uma coisa bem clara por aqui!

― Prossiga – incentiva ele, percebendo sua pausa.

― Esse casamento foi realizado para proteger o meu povo, entretanto, não sou e nunca vou ser o cordeirinho que é enviado para o sacrifício. A família real é conhecida como os leões de Alestia, o estandarte carrega o nosso símbolo, e leões não são presas, são predadores!

― Reconheço a glória da família real, mas não entendo o que estás querendo me expor com esta história de presas e predadores.

― Quero dizer que não serei subjugada às vontades de ninguém – retoma, num tom alto de ordenança –, as coisas acontecerão à minha maneira e de acordo com a minha vontade, este casamento não será consumado nem hoje, nem amanhã e nem nunca!

― Milady! Entendo impecavelmente que estás...

― Pare de falar assim – interrompe bruscamente, batendo o pé direito no chão –, não faço parte de "sei lá que época" que possui esse linguajar. Fale direito comigo, de forma clara e objetiva, sem ladys, miladys, altezas ou qualquer outra frivolidade da etiqueta! – Caminha em direção à cama, disposta a se recolher sem ao menos desejar-lhe uma boa noite.

― Ficarei louco desta forma – retruca o vampiro consigo mesmo –, obedeça às normas da etiqueta filho, fale direito comigo marido... Que inferno!

Enquanto Sara se aconchegava em seu imenso leito, repleto de tecidos finos, travesseiros de penas e uma coberta de pele vinda da Terra dos Portos, Cassis limitou-se a sentar na poltrona de mogno ali perto, com uma carranca tão grande quanto a dela, tornando nítido o descontentamento de ambos.

― Vai dormir aí? – critica Sara de forma desdenhosa.

― Não quero lhe causar mais infortúnio – resmunga mal-humorado.

― Ótimo! E não ouse deitar-se em minha cama durante a noite.

― Não se preocupe com isso, não faz parte de meus planos furtar sua castidade – rosna irritado –, até porque, não estou tão desesperado a ponto de desejar alguém como você!

Cassis (Série Alestia I)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora