Recaída

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Cassis se retira da sala do trono numa caminhada apressada, não sabendo ao certo em que ponto do trajeto ao quarto se colocou a correr. A imensa porta de madeira de seu aposento finalmente surge em seu caminho e, ainda do lado de fora, ele podia ouvir o choramingo de Sara, que parecia não ter mais forças sequer para expressar seu sofrimento.

Sara havia chorado incontrolavelmente a morte de seu último familiar, não se importando com a pompa de seu principado ou com o fato de estar sentada ao chão, com a cabeça apoiada na luxuosa cama. Porém, agora, somente seus soluços eram audíveis e apenas sua respiração continuava estável, já que seu coração parecia ter sido massacrado por uma carroça.

O vampiro abre a porta lentamente, parando automaticamente ao ver o triste estado em que sua princesa se encontrava. Violeta havia sido a única pessoa cuja dor da perda ele se lembrava muito bem e, com base nisso, o não-vivo tentava imaginar o tamanho de sua angústia.

Seus olhares se cruzam no exato momento em que Sara ergue o rosto úmido das cobertas, os olhos tristes encarando os olhos intensos, transmitindo ali uma espécie de mensagem que o vampiro não conseguia decifrar. As mãos femininas agarram o próprio vestido na região do coração, fazendo Cassis novamente se lembrar de seu grande medo, finalmente entendendo o que o semblante da humana queria lhe dizer: "eu o perdi, estou sozinha".

A princesa se levanta, derrotada e cambaleante, sabendo que não conseguiria pronunciar palavra alguma sem que o pranto a tomasse novamente. Encarando o rosto pálido de Cassis e o pesar que ele esboçava, ela chega à conclusão que deveria estar realmente péssima, talvez mais medíocre e digna de pena do que imaginava.

― Por quê? – questiona de repente, rompendo o silêncio e não conseguindo manter o controle de seu tom de voz. – Por que tenho sempre que terminar sozinha? Por que sempre me abandonam? Primeiro foi minha mãe, depois Richard e agora meu pai... Por que estão todos me abandonando?

― Sara...

Não houve tempo para concluir a frase, mesmo que ele não soubesse exatamente o que dizer. Pela primeira vez em muitos anos ele estava sendo surpreendido por um ser humano, que se lançou em seus braços sem aviso, abraçando-o fortemente enquanto uma nova onda de choro a invadia.

― Você também irá me abandonar? Eu não consigo sozinha, não me deixe Cassis, por favor, não me deixe! – grita em prantos.

― Não a deixarei! Por nada neste mundo te deixarei, estarei aqui para você, sempre – responde rapidamente, ainda surpreso com tudo aquilo. O abraço fora tão repentino e inesperado, que o vampiro tivera que agir rápido para que a princesa não entrasse em contato com a frieza de sua raça.

Suas palavras o chocaram ainda mais, pois jamais havia imaginado ter alguma relevância para ela a ponto de ter sua companhia requisitada tão firmemente. Porém, algo dentro de si não se agradou de vê-la pensar que ele poderia abandoná-la, e, por isso, com a mesma velocidade com que ela perguntou, ele a respondeu, exalando total convicção em suas palavras e em sua decisão: ele não a deixaria!

Cassis corresponde ao abraço de Sara, pressionando-a ainda mais contra seu peito, sentindo seu choro cessar gradualmente, até que não lhe restasse nada além do silêncio. O calor de seus braços preparados para a guerra, parecia de alguma forma alcançar a alma feminina, assim como o choro dela um dia o alcançou. Era um abraço gentil, protetor, quente... O corpo inteiro do jovem vampiro estava aquecido e ele fazia tudo isso por ela.

― Você promete? – questiona ela, finalmente.

― Prometo – sussurra no ouvido da humana, fazendo-a fechar os olhos involuntariamente e afagar suas costas num movimento tão curto, que se ele não fosse um vampiro, não perceberia.

Cassis (Série Alestia I)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora