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O chocolate servido no Nôitibus ficou na calçada em frente ao Caldeirão Furado assim que Isis se jogou para fora aos tropeços

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O chocolate servido no Nôitibus ficou na calçada em frente ao Caldeirão Furado assim que Isis se jogou para fora aos tropeços. Podia ter sido pior caso tivesse aceitado jantar na casa de uns velhos conhecidos, mas não possuíra o ânimo necessário para levar adiante horas de conversa catártica sobre os últimos meses. Se fosse uma aposta, não colocaria toda a culpa no veículo e a forma desembestada como o motorista o guiava. O assunto "guerra" exigia um preparo psicológico que ainda carecia de progresso.

A condutora ajeitou o blazer roxo do uniforme, fingindo não ver o que se passava, e foi buscar o malão da bruxa. Isis permaneceu encurvada, com as mãos nos joelhos, até ouvir um gemido de esforço atrás de si. Ela puxou um lenço de dentro do casaco longo e enxugou a boca, ajeitando os cabelos castanhos atrás das orelhas. O cansaço se assomava sobre seus ombros, transformando cada movimento, por menor que fosse, em um martírio.

— Ei, tudo bem. Não precisa... — começou a condutora quando Isis foi na sua direção, mas não adiantou.

Ela pegou o malão pesado, tomando cuidado para não o colocar na parte suja, e agradeceu à jovem antes de o Nôitibus Andante sumir de vista em um piscar de olhos. O relógio marcava 22h45 e apesar de não ser tão tarde, havia poucas pessoas circulando pela estrada Charing Cross. Isis soltou um suspiro aliviado e fez seu caminho até o bar-hospedaria de aparência desmazelada. Estivera ali poucas vezes e nenhuma das visitas fora guiada por ocasiões alegres. Tinha suas dúvidas se seria diferente naquela noite de agosto.

Isis quase deu meia-volta ao ver a quantidade de pessoas ocupando as cadeiras velhas e os cantos escuros do estabelecimento. Nuvens de fumaça pairavam sobre as cabeças dos fregueses, graças aos cachimbos acesos em comemoração; uma que iniciara com o fim da guerra e não tinha data para terminar. Todos bebiam e conversavam sem poupar a garganta, mas isso não camuflou a sutil atmosfera de luto, como um respeito silencioso a cada palavra, a cada brinde. Risadas não duravam muito, logo abafadas por um olhar desolado ou saudoso.

Não foi difícil passar despercebida pelas pessoas, empurrando-as para fora do caminho sem se preocupar em pedir licença. Ninguém se importaria com educação naquele instante. Isis deu dois murros no balcão grudento para conseguir a atenção de Tom, o dono, que secava um copo de maneira displicente enquanto conversava com uma bruxa tão enrugada quanto a barra malpassada de seu vestido.

— Ah, seja bem-vinda ao Caldeirão Furado. Como posso ajudá-la? — Ele precisou gritar para Isis ouvi-lo acima do vozerio.

Ela tirou um pedaço de pergaminho amassado do bolso e o entregou ao estalajadeiro, estudando os arredores para se certificar dos olhares que atraía. Felizmente os outros não estavam preocupados com sua presença, porém, considerando sua situação, todo cuidado era pouco.

— Sim, sim. — Tom sorriu, exibindo uma boca de poucos dentes, e fez sinal para que Isis o acompanhasse. — Ela já está aqui, senhorita.

A bruxa o seguiu por um corredor estreito até entrarem em uma saleta reservada. A lareira já estava acesa, iluminando o semblante sério de Aurora Sinistra, a professora de Astronomia de Hogwarts. O chapéu azul turquesa combinava com suas vestes e servia de alento para as mãos inquietas da astrônoma, que amassava a aba sem ao menos se dar conta. Ao avistar Isis, os olhos escuros faiscaram com o tom de laranja das chamas.

Solace ϟ PotterversoWhere stories live. Discover now