Capítulo 2

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Vitor

Cansaço me define. Acordei cedo, viajei horas com meu amigo para que ele pudesse vir resgatar sua indefesa donzela.

Agora estou nessa festa sem graça, esperando Tyler achar a menina e podermos ir dormir.

Preciso rir com o pensamento. Quase não reconheço Ty. Depois de tudo que passamos ele virou um cachorro idiota atrás daquela garota.

Consegui uma bebida e uma loira para me entreter. Talvez eu nem espere pelo Ty.

Meus olhos são atraídos para a pista de dança. Vejo Bianca dançar. Um cara está colado nela, percorre o corpo dela com as mãos. Ela parece completamente alheia.

Uma irritação conhecida começa a formigar em mim. Garota idiota. Não entendo o que se passa na cabeça dessa maluca.

Caminho até eles no caminho vejo ele abraçá-la, puxo ele com mais força do que pretendia. Bianca cai sentada e me olha com raiva.

- Me ajuda a levantar seu idiota!

Entendo a mão e a puxo para cima. Bianca cheira a vodca.

- Por que fez isso Vitor?!

- A Qual é Bianca? Baixou tanto teu padrão que já abre as pernas publicamente?

Me escuto dizendo, e me arrependo de imediato, mas antes que eu consiga pensar recebo um tapa bem estalado no rosto. Sinto queimar onde os dedos pequenos me tocaram com força.

- Idiota!

Bianca vira as costas e caminha para o bar. Não me impeço de concordar com ela. Eu sou um idiota.

Será que sou mais idiota por ter dito o que disse ou por ter gostado do tapa?

Minha vida sempre foi simples, uma infância feliz e incrível, todo dinheiro que precisei, viagens, carros, mulheres. Tive tudo. E sempre me senti dividido.

Metade de mim abre os braços e recebe tudo agradecido. A outra metade contesta essa puta vida injusta. Cresci com meu melhor amigo, vendo ser negado a ele todo o amor que eu tinha. Como se fosse uma compensação macabra do universo.

Meus pais eram presentes, me amavam. Os dele o renegavam. Quando ele teve uma família junto ao tio e o primo, a vida resolveu lhe arrancar isso também. Com a morte do primo dele Tyler se perdeu.

Restava apenas eu. Tinhamos 15 anos na época. Quando o encontrei depois do acidente, eu soube. Se eu não fizesse nada perderia meu amigo.

Quando seu pai o trouxe para o Brasil, eu quis vir junto. Convenci meus pais. Meu pai trabalha com o pai de Tyler então deu tudo certo.

Com o tempo achei que ele se recuperaria. Mas isso não aconteceu, eu era a última parte que o conectava a humanidade. Então o segui para tudo. Para todas as brigas, festas, irresponsabilidades.

Aos poucos outras pessoas entraram em nossa vida, novos amigos, que são como uma família para ele. Ainda assim, ele nunca mais se conectou a alguém. E tudo isso me ensinou uma lição.

Aproveito tudo da vida, mas não me apego a nada. Nem material, nem a sentimentos, nada. Não se pode perder o que não se tem.
Não vou permitir que ninguém chegue tão perto a ponto de me devastar como aconteceu com Tyler.

Olho para o relógio em meu pulso. Já são cinco da manhã.
Não acredito que Tyler não tenha achado aquela garota. Aquele filho da puta me deixou aqui.

Eu estou tão cansado. Suspiro e resolvo ir embora. Vou chamar um táxi. Olho para o bar e vejo Bianca lá ainda. Eu sou um homem de paz. Mas Bianca sempre conseguiu me despertar para guerra.

Caminho até ela e vejo ela virar outro copo de vodca.

- Vai te dar uma cirrose garota.

Ela arrasta o olhar até o meu rosto.

- O que você quer aqui?

- Estou indo embora.

- E daí?

Ela volta a olhar para o copo agora vazio.

- Vai ficar aí sozinha?

Bianca sorri antes de responder.

- Quem se importa.

- Eu me importo.

- Ah não! O babaca número um se importa com a jovem perdida.

- Bianca...

- Não, não, como é que você diz pra todo mundo? A puta que dá pra todo mundo não é isso Vitor? Meu poupe tá, vai embora.

Estou cansado e agora frustrado.
Não vou discutir com uma bêbada.

Passo a mão na cintura de Bianca e a puxo para meu ombro.

- Me solta Vitor!

Sinto ela socar minhas costas, as pessoas a volta observam a cena.

Sim apreciem o cavalheiro salvar a dama. Que piada.

Quando chegamos na frente do lugar desço ela. Mantenho um braço firme em volta da cintura.
Chamo um carro pelo aplicativo e aguardo.

Bianca se rebela. Tenta pisar nos meus pés, tenta me morder, se debate.
Seguro com mais força, sinto cada curva do corpo pequeno. Apoio meu queixo no topo da cabeça dela.

- Para quieta, não vou soltar.

- Idiota!

Desço o rosto pelo cabelo escuro até chegar ao pescoço, aspiro o cheiro de baunilha. Fecho os olhos com o prazer que isso me traz. Esse cheiro.

Sinto Bianca tremer, os pelos na nuca arrepiam e sei que a mesma sensação que me atinge, pega ela também.

- Vitor...

Escuto meu nome e antes que eu possa pensar sinto o peso do corpo dela. Bianca apagou.

O carro chega, entro com ela atrás. Apoio a cabeça dela na minha perna. Afasto o cabelo do rosto. Passo o dedo pelos piercings na orelha, pela bochecha até a boca perfeita.

Garota louca.

Quando estamos chegando meu telefone toca.

- Fala!

- Onde você tá?

- Chegando aí.

- Tudo bem?

- Não.

Não estou com paciência para conversa.
Pago a corrida e levo Bianca no colo.

Subo até o apartamento de Tyler, abro a porta equilibrando ela no colo.
Tyler levanta e vem em minha direção.

- O que houve com ela?

- Passou a noite bebendo.

Sinto um olhar inquisidor de Tyler.

- E você ficou com ela?

- Fiquei de olho nela né, vocês todos sumiram e ela tava muito louca. Não quis vir embora, até bateu em mim.

Tyler a puxa do meu colo. Sinto algo no peito, como uma perda.
Ele a leva pra o quarto e eu me jogo no sofá.

Preciso realmente dormir.

VITOR - Livro 2 Série - Broken Ice-  CONCLUÍDOWhere stories live. Discover now