Capítulo 45

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Vitor

Sete meses. Malditos sete meses e 2 dias.
Esse é o tempo que ela está longe.

Não que eu esteja contando. Não estou. Não é de propósito. Mas é a primeira coisa que lembro quando acordo.

Não tenho notícias. Nem uma mensagem ou email. Sei que ela mantém contato com as meninas.

Uma tarde na casa do Tyler eu escutei Larissa ao telefone. Quase me joguei para arrancar o aparelho dela.

Mas me segurei. Primeiro para não parecer um idiota, segundo por que acho que não iria adiantar. Ela provavelmente desligaria na minha cara.

Tive muito tempo para pensar.

Em tudo que fiz de errado. Fiz muitas coisas é verdade. Mas não acho que eu mereça estar onde estou hoje.

Vivo em um limbo.
Não sei para onde minha vida vai me levar.

Eu me formei.

Estou abrindo meu escritório. Terminando de mobiliar meu apartamento. Me mudo com Gabi em dois meses no máximo.

Dei a sorte nos últimos meses de fazer alguns bons investimentos, praticamente triplique o  que eu tinha em um investimento arriscado. Joguei boa parte do que tinha em ações de uma start UP brasileira, que estava começando.

As ações triplicaram de valor, eu as vendi e lucrei muito.

Sorte no jogo. Azar no amor.
Posso mudar o ditado para sorte no trabalho.

Passo tempo com meu filho. Trabalho e volto para casa. Algumas vezes vejo meus amigos. Mas é só.

Perdi o interesse em boa parte das coisas. Sou assaltado toda hora por pensamentos perigosos.

Do tipo que me deixam desmotivado e triste.
Sinto falta dela. Me pego questionando o propósito disso tudo.

Conquistar tudo que estou conquistando, mas não ter ela ao meu lado. A todo momento sou invadido pela sensação de que falta alguma coisa, e que nada  vale a pena.

Para controlar isso, eu vou até meu novo lugar preferido.

Não consegui ir a praia por meses, por que não podia tirar Gabriel da cidade.

Então descobri um novo lugar para pensar.
Larissa comentou que tinha a chave da casa da Bianca. E que tinha que ir lá dar uma olhada. Prontamente eu peguei as chaves dela. E fiquei responsável por verificar a casa de vez em quando.
Só que não vou de vez em quando vou pelo menos duas vezes por semana.

Depois do primeiro dia lá, fiquei viciado.
O cheiro dela estava lá.

Me senti um completo idiota, sentado no sofá dela curtindo o cheiro que aquela casa tinha.

Eu sei. Meu estado é além do deplorável.
Tyler não perdoa.
Outro dia ele me lembrou do que eu vivia dizendo a ele.

- Como que era mesmo Vitor? Mulher nenhuma vai ter poder sobre você?

Acho que estou pagando pela minha língua. Apenas uma mulher tem poder sobre mim.

Demorei muito tempo para aceitar. Primeiro que realmente a amava. Segundo que ela foi embora. E terceiro que isso não importava, mesmo com ela longe, provavelmente para sempre fora do meu alcance, eu não conseguiria matar o que sinto.

Ela tem poder.

Vir na casa dela, me trás paz. Coisa que eu não ando conseguindo. Estou sem paciência. Andei arranjando brigas, bebendo demais.

Meu pai andou até me chamando atenção, que eu não quero que Gabi me leve como exemplo, essas coisas.

Então eu venho aqui. Leio. Escuto música. Limpo a casa. Faço comida. Molho as plantas.

Tem sido difícil. O que mais sinto é raiva. Quase o tempo todo. Raiva de ter sido tão cego, causei minha própria infelicidade.

Saí algumas vezes. Fiquei com algumas garotas. Não senti nada com nenhuma.

Nada.

Ao ponto de me levantar dos lugares e ir embora sem dar maiores explicações.

É como se algo tivesse sido desligado. É um sentimento muito louco.

Me lembro que Bianca me falou um dia, que se sentia viva quando estava comigo. Acho que me sinto meio assim.
Tenho medo de não voltar ao normal. Como ela aguentou isso tanto tempo?

Cheguei a comprar uma passagem para o Canadá. Desisti na última hora não podia deixar meu filho pra trás. Não é obrigação dos meus pais cuidar dele. Ainda estou em processo pela guarda. Não posso viajar e deixá-lo, e também não posso sair da cidade com ele, que dirá do país.

Não. Eu tive que ficar. Me contentar. Aceitar.

Hoje me sinto pior. Nunca gostei de aniversários. Quando eu era criança não gostava por que os meus eram sempre grandes festas e os de Tyler era esquecidos. Eu me sentia mal. Depois achei muito mico quando adolescente. Quando fiz dezoito bebemos tanto e nos envolvemos em uma briga horrível. Preferia sempre não comemorar. É sempre um dia triste pra mim. Eu não gosto.

Mas esse dia sempre chega. Hoje eu completo vinte e cinco anos. Ano passado a Larissa organizou uma festa surpresa na casa noturna que eu mais gostava. Eu odiei, e avisei que se ela fizer de novo corto relações com ela.

Não. Sem festa. Resolvi passar o dia aqui. No sofá dela vendo uma série.
Faço uma fornada de cookies. Sou viciado neles e aprendi a fazer por causa do Gabriel. Ele gosta tanto quanto eu.

No final da tarde resolvo checar o celular. Tem algumas mensagens de parabéns. Uma ligação perdida do Leo.

Resolvo ligar e ver o que ele queria.

- Alô?

- O que você queria?

- Vitoorrr meu amigo queridoo...

- O que você quer...

- Cara eu tenho que ir numa festa de quinze anos. Acompanhar a minha irmã. Preciso de mais alguém pra amiga dela.

- Fora de questão.

- Eu imploro. Faço qualquer coisa. Não quero passar por isso sozinho. Só tenho você...

- Não.

- Porra Vitor me ajuda. É só dançar com a menina, uma dança e a gente tá livre...

- Não.

- Eu posso ficar de babá do Gabi quando você precisar...por favoor!!

Penso melhor...as vezes preciso que alguém fique com ele, quando meus pais não podem...

- Ok. Uma dança e vamos embora.

- Valeuuu, você é o melhooorrr! Precisa por um smoking ok?

- Não tenho smoking.

- Tá, tá eu tenho. Vem aqui pra casa.

Desligo a chamada e já sinto o arrependimento.

Tudo por uma babá.


VITOR - Livro 2 Série - Broken Ice-  CONCLUÍDOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora