Vitor
Dirijo sem um destino em mente. Sinto a raiva percorrendo as minhas veias.
Olho Bianca sentada de braço cruzado e cara emburrada.
- O que foi ein?
- Você é um idiota!! Um IDIOTA!
- E você uma maluca, irresponsável, malcriada e desleixada consigo mesma!!!
- Cala a boca!!
- Cala você!!
Bato com as duas mãos no volante frustrado.
- Você consegue me irritar garota. Nada me irrita mais que você!
- Então me deixa em paz Vitor não pedi pra você vir me tirar daquela festa! Me deixa em paz! Me deixa sozinha como fez antes!
Ela se cala, e eu percebo que ela falou mais do que queria.
Estaciono o carro antes que eu bata. Fecho os olhos e tento me acalmar.
Passo a mão pelo cabelo.
- Do que você tá falando?! Quando eu te deixei sozinh....
Paro de falar e olho pra ela. Bianca não me encara, mas olha para rua pela janela.
- Bianca, olha só... Aquela vez...
- Não quero saber. Só vamos embora.
Fico em silêncio quando vejo a tristeza no rosto dela. Ela encara a rua e o olhar sempre afiado parece ter perdido o brilho de repente.
Não sei exatamente o que fiz, mas começo a sentir uma espécie de culpa e não sei porque.
Ligo o carro e dirijo, pensando nas atitudes dela.
Bianca é completamente contraditória. Se olhar para ela pelas roupas, maquiagem, o corte curto do cabelo, parece uma garota forte, destemida e segura.
Agora chegando mais perto, só consigo ver uma menina perdida. E não gosto disso. Aliás uma raiva renovada sobe pela minha garganta e antes que eu consiga frear abro minha boca.
- O que te deixou assim ?
- Você.
Recebo um olhar de desprezo. E mais alguma coisa que não identifico.
Como assim eu? O que foi que eu fiz?
Dirijo o resto do tempo em silêncio. Recebo uma mensagem de Tyler perguntando se estou com a Bianca ainda e pedindo para levar ela até a casa dele.Não falo nada para ela, apenas mudo o percurso. Uma chuva fina começa a cair na rua.
Chegamos ao condomínio de Tyler em quinze minutos. Entro pela garagem. Bianca desce em silêncio. Vamos para o elevador com um clima pesado entre nós.
- Olha só garota, eu não sei o que eu fiz tá legal, mas não gosto desse clima tenso, vamos manter a paz ...
- Estou realmente me lixando pra o que você quer ou deixa de querer Vitor.
- Você é muito mal educada.
O elevador abre e ela sai enquanto me responde:
- E você é um cretino, que tem esses malditos olhos, que ficam me hipnotizando e me afogando.
Ela termina a frase em lágrimas, e a essa altura a porta do apartamento de Tyler foi aberta pelos gritos dela e todos presenciam a cena.
- Bianca! Vem.
Escuto Larissa falar e a arrastar pelas escadas para, imagino eu, o apartamento do Tio Ricardo, pai de Tyler, que mora um andar acima.
Continuo parado onde estou, tentando entender o que ouvi. Como assim afogando?
Tyler me puxa pra casa dele. Em alguns segundos saio do torpor que estou e fico irritado.
Chuto a primeira coisa que encontro, e a porcaria de um vaso se arrebenta.- Ei ei ei, minhas coisas não tem culpa.
- Por que sinto que estou sendo acusado de algo que nem sei o que é?!?!
- Vitor...
- Mas que PORRA!
- Vitor... Se acalma tá?!
Sento no sofá e vasculho minha mente atrás de uma explicação para o que ela disse. Nós ficamos juntos a uns três anos atrás. Eu achei que tudo estava ficando muito sério e a afastei. Mais nada. A não ser que...
- Ela gosta de mim?
Pergunto incrédulo.
Tyler suspira e senta na minha frente.- É claro que gosta cara.
Não pode ser. Bianca está sempre por perto, temos um círculo comum de amigos, ela nunca deu sinal de ter qualquer sentimento por mim. A não ser talvez de repulsa.
- Não pode ser. Ela me detesta.
- Como você detesta ela?
- Eu não detesto ela...
- Exatamente. Ela te trata da mesma forma que você a trata.
Não consigo acreditar nisso. Levanto e vou até a geladeira. Preciso de uma bebida para absorver tudo isso.
Tyler vem atrás de mim e me acompanha na cerveja.
- Cara não pode ser. Fiquei com várias mulheres e sempre por pouco tempo com cada uma. Impossível alguém se apaixonar. Não foi diferente com ela. Ficamos poucas vezes quando eu achei que estava ficando demais terminei com tudo.
- Sim. Mas você continuou vendo ela. Praticamente todos os dias.
- Temos amigos em comum.
- Sim mas isso não aconteceu com as outras, essa proximidade foi só com ela.
Que merda. Nunca tinha pensado nisso.
- Se eu soubesse que ela...
- Teria feito o que?
Encaro meu amigo.
- Nada. Não quero relacionamentos. Você mais do que ninguém sabe disso.
- As coisas mudaram Vitor.
- Mudaram pra você!! Que está agindo feito um idiota! Rastejando atrás daquela garota. Não quero isso pra mim.
- Larissa foi a melhor coisa que me aconteceu. Mudou minha forma de encarar a vida. Me fez aceitar e encarar meus fantasmas.
Saio de perto dele porque não tenho paciência para toda essa baboseira.
- Me poupe. Se ela se apaixonou, sinto muito. Posso me afastar e isso logo passa.
Escuto uma risada baixa vindo dele. Me viro e encontro Tyler sorrindo.
- Distância não fará diferença.
- Sim você agora é um conhecedor da causa né?
- Eu vou ser pai Vitor.
Levo um susto com a mudança de assunto. Leva alguns segundos para a ficha cair. Porra.
- é sério isso?!
- É.
- Parabéns eu acho então.
Abraço meu amigo, e fico genuinamente feliz que agora ele terá uma família para chamar de sua. Os filhos ninguém poderá tirar dele.
- Fico feliz por você. Filhos jamais podem ser perdidos. Você terá isso pro resto da vida.
- Sim. Foi exatamente o que eu pensei.
Um sorriso toma conta do rosto de Tyler, e percebo que não o vejo assim a muitos anos.
- Já sabem o que é?
- O sexo? Não. Sabemos que são gêmeos.
Caraca.
- Porra meu fez dois só pra garantir né!
Rio mais um Pouco da cara de paspalho que ele está. Até uma ligação acabar com a alegria.
O pai dele ligou, avisando que Larissa passou mal.
Tyler sai correndo e eu vou atrás.
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VITOR - Livro 2 Série - Broken Ice- CONCLUÍDO
RomanceVitor nasceu e cresceu vendo o que a vida pode nos dar de pior ao acompanhar e amparar o melhor amigo Tyler em seus problemas. Como a vida podia ser tão boa para ele e tão ruim para o amigo. Vitor sabia que era abençoado, tinha tudo, amor da familia...