dom pérignon

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Dom Pérignon: champagne inventado por um monge beneditino de mesmo nome, é feita pela casa Möet & Chandon, na França



Olhos diferentes. Heterocromia. Sua vista tingindo-se de vermelho. A pele branca manchando-se pelas gotas em carmim. A sua visão ficando turva, caindo no abismo da escuridão. Mas ele não gritava ou se desesperava, era uma sensação esperada. Era como dormir novamente, e ele sorria, pois era o que ele queria.

Mas quando acordava, sempre era sobressaltado, com o corpo banhado em suor frio e o pulso acelerado. Não sabia se assustava com as imagens, com os olhos lhe perseguindo, com as sensações ou com o conjunto no total, só sabia que estava ficando farto disso, todas as vezes, todas as noites. Sempre acordava cansado, com olheiras, nunca sentia que aproveitava a sua noite de sono e passava o dia a bocejar, sendo regado a várias xícaras de café para conseguir ficar desperto e sem pensar em imagens difusas e sonhos estranhos. A luz, durante o dia, feria os seus olhos. Ele já não se sentia o mesmo durante os períodos diurnos, mas pelo menos quando o sol se punha estava um pouco melhor. A noite lhe abraçava.

Não podia se dar ao luxo de descansar mais, ainda tinha que estudar e trabalhar à noite. E foi o que fez, ignorando os sintomas que o seu cérebro poderia estar sobrecarregado ao longo do dia.

Felizmente, notou que durante todo o seu turno o cliente de ontem não tornou a aparecer. Tampouco aconteceu algo de suspeito envolvendo os demais funcionários ou sua gerente. Se o homem da noite anterior não gostara da rejeição, soube levar na elegância e não fora prejudicado em seu trabalho. Bom.

Mas ainda assim, havia uma sensação bizarra por todo o seu corpo durante a noite, como uma paranóia de estar sendo observado. Não podia levantar os olhos muitas vezes mas tinha absoluta certeza que ele não estava no bar na noite de hoje, muito menos se aproximara de si. E quando fora embora, a sensação era ainda mais latente. Quando já estava saindo do beco tinha certeza que havia alguém atrás de si, ele se virou rapidamente para questionar quem era mas, mais uma vez, não havia ninguém lá, somente uma sombra profusa no frio da noite.

Uma sensação muito esquisita.

Voltou para a casa. Fez o seu lámen cremoso com ovo, assistiu algum programa que deveria ser supostamente engraçado praticamente no mudo - já que o seu colega de quarto já estava dormindo - respondeu algumas mensagens de Jackson, que estava no fuso horário da França, e apesar de estar esgotado, só a ideia de ir dormir o apavorava. De repente, ele não queria mais ficar no escuro, mas era inevitável.

Se preparou para dormir, dessa vez deixando a luminária ao seu lado acesa para não ficar no completo breu. Não que tivesse realmente medo do escuro, mas aquela sensação estranha estava intensa demais e ele não queria ficar sozinho, se pelo menos Jackson estivesse ali com ele para lhe confortar... Não que já estivessem nessa fase da relação, mal começaram a sair, ainda tinha poucos meses, mas gostava de pensar que um dia a sua relação se desenvolveria o suficiente para Jackson vir protegê-lo do escuro só porque estava paranóico. Era fofo pensar desta forma, estava sendo romântico. Suspirou, sabendo que estava pensativo demais para conseguir dormir. Talvez passasse a noite inteira jogando no celular.

Mas é claro que o corpo sempre cobrava o seu esforço.

E óbviamente que ele não conseguiria lutar contra os seus sonhos.

.

.

A pouca paz que tinha - pois com sonhos como aqueles e a constante paranóia lhe sondando ele não poderia dizer que estava de fato sentindo alguma paz - se findou quando após uma semana os velhos conhecidos olhos heterocromáticos voltaram a lhe aterrorizar em seu turno.

Sangria [ 2jae ]Where stories live. Discover now