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Fabiula: E a gente tá tentando manter a vida da Valentina o mais normal possível... — concluía a história do drama atual que vivia enquanto remexia a pequena colher plástica na xícara de café puro ainda quente.

Estavam sentadas na lanchonete da escola, ocupando uma mesa próximo ao balcão.
Paolla apenas a observava falar, notando como sua voz falhava em alguns momentos do desabafo, como as mãos ficavam inquietas cada vez que citava o ex marido, como o olhar era baixo.
Mal a conhecia mas já sentia uma empatia enorme por aquela mulher de coração partido.

Paolla: Você é uma mulher linda, pelo que contou é independente... — largando a xícara do expresso na mesa — Vai superar tudo isso muito bem. E a Valentina é uma menina incrível, se o amor de vocês por ela não mudar, vai dar tudo certo! — sorriu de forma tão doce que Fabiula chegou a sentir ternura no momento.

Se julgou louca por estar ali, abrindo seu coração para uma pessoa que acabara de conhecer, mas a moça a fazia se sentir bem de alguma forma, parecia se importar, era bom.

Fabiula: Ah, professora, eu... — sendo interrompida.
Paolla: Paolla, por favor. — riu — Só Paolla.
Fabiula: Tá certo! — rindo fraco também — Paolla. A gente chega numa certa idade em que fica mais difícil recomeçar, sabe? — voltando a ficar mais séria.
Paolla: Bobagem. A gente sempre pode recomeçar, em qualquer fase da nossa vida. — concluiu, vendo em seguida Fabiula reagir em negativa com a cabeça.
Fabiula: Não tenho mais ânimo, não, pra sair por aí atrás de alguém... — dando de ombros — E acho que amar já não é mais pra mim.

Paolla diria alguma frase motivacional, mas talvez não fosse o que Fabiula precisava no momento, talvez só um ombro calado que a deixasse cuspir toda a desilusão fosse mais útil.
Ao invés disso, apenas lhe tocou o braço de forma sutil e desejou baixo: Força!
Fabiula retribuiu o apoio com um sorriso comedido e pousou sua mão sobre a mão de Paolla, como em agradecimento pela conversa.

Paolla: Eu não sou do tipo que acha que a gente só é feliz com um homem do lado... — bem cara de pau, expondo suas opiniões — Nem que seja bem com a gente mesmo, já é um grande recomeço.

Ela deu mais um sorrisinho fofo e levou novamente o café à boca, sobre o olhar intrigado de Fabiula.

Fabiula: Você é casada? — de repente, curiosa.
Paolla: Não. — dando um outro gole rápido — Minhas prioridades são outras...
Fabiula: Mas você não sente falta?

Paolla riu, talvez entendendo a linha de raciocínio dela. Era do tipo romântica. E careta também.

Paolla: Eu já morei junto com uma pessoa, uma vez... — olhando pro nada, revivendo o passado com as lembranças — Mas não deu muito certo, éramos iguais demais, não funcionou, não tinha emoção.
Fabiula: E você superou bem? — nem percebia o quão curiosa estava sendo — Você ainda gosta dele?
Paolla: Dele? — riu divertida — Não, não gosto mais dele não.

Fabiula apenas assentiu com a cabeça, intrigada com aquela resposta final... Paolla parecia misteriosa, mas não faria mais perguntas, já estava sendo invasiva demais.

Fabiula: Bom, obrigada pelo café... — recolheu a alça da bolsa, fazendo menção de se levantar — Obrigada pela conversa também, ajudou muito... Mas eu preciso ir agora.
Paolla: Imagina! — dando um último gole rápido na xícara e levantando também — Foi um prazer te conhecer e saber quem era a mãe da minha princesa.
Fabiula: Obrigada por isso, por esse cuidado com a minha filha... Faz toda a diferença.
Paolla: Quando precisar, eu tô por aqui. — mexendo na bolsa por um breve instante, tirando de lá um pedaço de papel retangular — Aqui meu número... Se precisar falar algo sobre a Valen, ou só conversar, chama.

Fabiula estranhou aquilo. Como ela era dada!
Sorriu meio sem jeito e pegou o cartão, mesmo achando que era inútil, jamais ligaria... Não sabia nem porquê havia falado tanto sobre si. Talvez fosse a carência, mas não se repetiria.

Fabiula: Claro, pode deixar. — revisando o nome "Paolla Oliveira" no cartão preto fosco — Mais uma vez, obrigada.
Paolla: Eu que convidei. — alertando assim que viu Fabiula abrir a bolsa na intenção de talvez pegar sua carteira.
Fabiula: Obrigada. — já estava pra lá de envergonhada, apenas lhe deu um beijo no rosto, como um tchau cordial, e saiu, ainda com o cartão na mão.

A professora se manteve no mesmo lugar, vendo aquela mulher de estatura média e macacão de linho azul escuro de afastar...
Claramente ela precisava de um apoio.
Antes de cruzar o corredor à esquerda e sumir de vista, Fabiula virou para atrás e encontrou Paolla olhando-a... Acenou brevemente e seguiu seu caminho.

RECOMEÇAR ⏳Where stories live. Discover now