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Paolla: Fico! — respondeu com um sorriso terno — Fico sim. — voltando a puxar a mais nova colega para outro abraço, agora menos choroso, mas tão carinhoso quanto.

Sabe-se lá porquê, mas sentia certa satisfação na confiança que lhe fora depositada ali. Ser um ponto de equilíbrio, ainda que superficial, em um momento tão delicado e de tanta dor era uma responsabilidade enorme.
Faria o possível para que Fabiula não se arrependesse do pedido.

Era atirada mesmo, um pouquinho espaçosa – sem maldade – e, assim que finalizaram o abraço, foi logo tratando de abrir alguns armários em busca de um copo, encontrando na terceira porta que tentou. Apertou alguns botões do filtro que ficava na porta da geladeira inox e em seguida voltou para perto de Fabiula, agora já sentada no banco alto próximo à bancada de mármore escuro.
Fabiula era metódica, observava Paolla "invadir" seu espaço mas nem ousava reclamar, sua cabeça estava com outras preocupações agora.

Paolla: Ele nunca mais veio ver a Valentina? — observando Fabiula beber o copo de água e lhe tocando uma mecha de cabelo solta, colocando atrás da orelha.

Chegava a ser engraçado como Fabiula ficava algo incômoda e sem reação com a intimidade em demasia, mas há tanto tempo não era cuidada assim... Seu interior agradecia, na verdade.

Fabiula: Veio duas ou três vezes. — apoiando o copo na bancada, largando as mãos também por ali, cutucando as unhas sem objetivo, só por fazer — Mas ela sente, tava ansiosa pra ele vir.
Paolla: Posso imaginar... — lembrando das vezes em que Valentina citara o pai nas aulas, cheia de empolgação e amor — Mas você precisa ser forte, por você e por ela.

Aproximou um pouco o banco em que estava e segurou ambas as mãos de Fabiula, falando em tom baixo, porém sério.

Paolla: A Valentina precisa ver a mãe dela bem. — os olhos dela encararam fundo os olhos de Fabiula, correndo do direito ao esquerdo com rapidez, sem nunca quebrar o contato visual — Eu nem te conheço tanto assim pra falar, mas... Reaja! Saia com as tuas amigas, vá se distrair, viver.

"Você só se separou, você não morreu!" finalizou Paolla, fazendo Fabiula absorver aquilo... Engraçado que era exatamente assim que ela se sentia nas últimas semanas: morta.

Fabiula: Minhas amigas são as mães das colegas da Valen, que eu encontro em festinhas, nas reuniões de escola, agora do inglês... — levantou a sobrancelha rindo, fazendo Paolla rir junto.

Era uma mulher muito sozinha.
Por alguns segundos o silêncio ganhou vida.

Paolla: Ei... Gosta de filme? — retomando seu ar vívido de sempre, mudando o assunto do nada — Topa um cinema qualquer dia? — tentando descontrair o clima e dar um apoio, parecer amigável, sei lá.
Fabiula: Cinema? — não dissera mas chegava a achar ridícula a ideia, ela não era mais uma criança para ir com a amiguinha nova ao cinema.
Paolla: Hein?! — vendo que ela demorava em responder.
Fabiula: Claro. — sem nenhuma empolgação — Eu gosto de filmes sim... Por que não?

Não acreditava no que acabara de topar, um cinema com uma desconhecida?
Talvez fosse a empolgação de Paolla que mal a deixava pensar antes de responder... Mas, por outro lado, talvez fosse bom, estava precisando mesmo de algo que ocupasse seus pensamentos que estavam tão derrotistas ultimamente.

Achava Paolla seu completo oposto, jamais se imaginava sendo amiga dela, os jeitos eram totalmente incompatíveis... Mas a forma como ela se mostrava disposta a ajudar, como era solidária, fazia Fabiula a querer por perto de alguma forma.

"Eu tô ficando doida, só pode!" mentalizou, observando Paolla sentada ao seu lado.

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