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Já havia se passado mais de duas semanas e Paolla e Fabiula não haviam tido mais nenhum tipo de contato. Paolla não fora capaz de responder àquela mensagem, sabia bem o que Fabiula queria dizer com aquilo, entendia o que aquilo significava, e, por mais bem resolvida que fosse, preferia não se magoar e manter a distância sugerida por Fabiula. Melhor do que insistir e ser rejeitada. Já havia sofrido preconceito o suficiente para se por, gratuitamente, em mais situações constrangedoras.

Valentina: Essa cirgular é pra você, mãe. — disse assim que entrou no carro, enquanto tomava seu suco de caixinha.

Fabiula havia ido buscar a filha na aula de inglês, dois sábados após o fiasco do cinema. A menina entregou para a mãe um aviso feito à mão com informações sobre uma apresentação que aconteceria na escola. Paolla gostava desse detalhe de escrever bilhete por bilhete, mesmo que não fosse a prática da instituição. Sentia mais proximidade com as famílias e criava laços, o que, segundo ela, ajudava na relação e desenvolvimento do aluno.

Fabiula leu o bilhete e ficou por alguns segundos calada, fitando aquela caligrafia meio desalinhada, algo apressada, muito casual

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Fabiula leu o bilhete e ficou por alguns segundos calada, fitando aquela caligrafia meio desalinhada, algo apressada, muito casual. Sentiu formalidade nas palavras. De repente se pegou questionando em silêncio se o aviso era padrão para todos os pais ou se ela havia sido carinhosa com os demais.
"Será que agora ela me tratará diferente?" elocubrou antes de ser chamada de volta à realidade pela filha, que já a chamava pela terceira vez, na verdade.

Valentina: Vamos, mãe? Daqui a pouco papai vai me levar ao cinema, lembra? — apressada para se aprontar pro passeio.

Fabiula apenas revirou os olhos, lembrando que encontraria o ex, e deu partida no carro ainda em silêncio.
Durante todo o trajeto Valentina trocava áudios no celular com as amigas, sempre rindo, mas Fabiula pouco ouvia... Seus pensamentos estavam bem longe dali, pra ser bem sincera.
Não que ela se importasse com Paolla, tinha problemas muito maiores com que se ocupar, mas então por que diabos lhe incomodava tanto a ideia da tal mulher estar magoada com ela? Ou pior, irritada. Não era o fim da possível amizade que queria? Então por que não conseguia parar de pensar no tal bilhete?
Bom, deixaria para pensar nisso depois, ou se possível nem pensaria mais sobre o assunto, já estavam bem perto de casa e tinha coisas a fazer.
Depois de muito postergar, havia retomado sua paixão: escrever.
Era uma amante da literatura e poesia, criava textos lindos na juventude, era muito sensível e culta, mas tudo isso fora soterrado pelos planos e julgamentos de Diogo. Ele nunca a incentivara, essa é a verdade. O que, infeliz e insconcientemente, ela permitiu. Mas agora, livre daquela âncora que só a afundava, decidira que era hora de voltar a se preencher com algo que lhe fazia bem.
Assim que chegaram, Valentina foi guardar a mochila para almocar, já que a aula dela terminava às 14h e ela apenas tomava um suquinho na lanchonete.
Pós almoço e um banho, claro, Fabiula permitiu que a menina ficasse no tablet até a hora de seu pai chegar e foi para o escritório. Estava em uma fase de pesquisas, a fim de buscar inspirações e, durante sua garimpada pelas histórias em livros virtuais, se deparou com um conto que havia lhe chamado a atenção: "Amar(ela)", história inspirada no famoso filme "Azul é a cor mais quente".
A capa do livro, onde duas mãos femininas se tocavam, lhe instigou e ela nem sabia bem porquê.

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