Três

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SINA

Desci para o térreo e busquei minha pizza com o entregador, subindo o mais rápido que pude. Estava faminta. Vi que Noah ainda estava sentado no sofá e me sentei no mesmo, um pouco longe dele. A televisão estava em um canal qualquer, enquanto ele dava sua atenção para seu celular. Queria entender o porquê dele ser tão revoltado e ao mesmo tempo parecer ser tão interessante. Sinto que ele é um cara legal, se não fosse por essa máscara que ele persiste em usar, fingindo ser um garoto que não se importa com nada e com ninguém.

— Quer? — abro a caixa da pizza e levo em sua direção.

Estou tentando uma oferta de paz.

— Não, obrigado. — ele olha rápido para mim e volta para a tela pequena em suas mãos.

Deixo a caixa em cima da mesinha em nossa frente e inicio:

— Olha, se vamos morar juntos, precisamos impor regras. — digo.

— É? E qual seriam elas? — ele bloqueia a tela do telefone e se vira pra mim.

— Primeiro, se for trazer sua namorada, manda ela fazer menos escândalo, vão pensar que ela está morrendo. — ele ri nasalado. — Segundo, preciso deixar claro que você não pode tocar na minha comida e nem eu tocarei na sua, a não ser que ambos permitam. Terceiro, nada de entrar no quarto do outro. Quarto, sem festas ou muita gente por aqui.

— Hum, e que tal não escutar música alto demais? Isso me atrapalha.

Seu olhar frio e seu jeito quieto me faz questionar se ele de fato está aceitando pôr a lista em prática ou se está apenas fingindo e irá me irritar o quanto puder.

-—Justo. Outra, você tem seu banheiro, nada de entrar no do corredor, ele é só meu. — mordo um pedaço da pizza em minha mão e ele se inclina para pegar uma fatia.

— Ei, o que eu falei da comida? — falo após engolir o pedaço.

— Você já tinha me oferecido. — deu de ombros.

— E você negou. — rebato.

— Que seja! Você me ofereceu e ponto final. É o nosso trato selado. — ele bate seu pedaço de pizza no meu e leva para sua boca.

Decidir conversar com ele não foi fácil, ele ignorou diversas perguntas minhas e me chamou de inxirida. Sobretudo, eu apenas quero conhecer mais ele, estamos morando juntos. E o que eu consegui puxar dele foi: ele é solteiro — que pega várias —, cursa direito, por incrível que pareça tem amigos e eles virão aqui amanhã, por sinal. Tem uma irmã e um irmão mais velhos, tem uma banda chamada Chump Change junto de três amigos seu. Ele canta, toca violão, guitarra, bateria e se tem outro, eu me esqueci. Até pedi para ele cantar para mim e o que ele me disse? "Você não merece". Sinto vontade de quebrar a cara desse garoto.

Depois de suas confissões, poucas palavras, direto, nada de prolongar o assunto, me senti um tédio. Nossas vidas comparadas são absolutamente distintas. Eu só estudo, trabalho, durmo e como. Que tipo de vida é essa? Já tive um hobby, era dançar, não obstante, parei por ter que focar em conseguir uma bolsa. Eu lhe contei algumas coisas sobre mim — o que são poucas —, e, no fim, ele indicou um filme para assistirmos. Enquanto a internet estava sendo finalizada para usarmos. No meio da nossa conversa o técnico chegou para instalar o precioso Wi-Fi. Por causa da nossa faculdade, precisamos o mais rápido dela. É algo essencial, que não poderia faltar aqui.

Mistake | NoartWhere stories live. Discover now