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J O H N

– Eita – eu disse quando vi o rapaz se aproximando de minha amiga – Qual a chance mano? Se não é destino eu não sei o que é. Vou indo nessa, não quero segurar mais vela não, já sou candelabro em todo lugar.

Girei os tornozelos e me afastei, não queria incomodar o casal. Como sempre.

É casal para todo o canto. Será que meus amigos não sabem fugir dessa melação toda? Ou será que eu estou me tornando num velho rabugento cego para o romance?

De qualquer forma, manti uma distância significante para dar uma olhada em como Marina estava. Talvez tenha sido uma péssima ideia deixar ela bêbada daquele jeito conversar com o menino que ela tem conversado e ainda não superado o ex.

Também fiquei por perto caso Erika e Pete voltassem de sua sessão de amassos. Nojento, mas eu ainda precisava de uma carona, sem condições para dirigir e sem dinheiro para pedir um táxi.

– Aquele é aquele surfista brasileiro famoso? – uma voz invade minha triste contemplação de minha amiga de longe.

– Sim – respondo suspirando para a fonte do início da conversa – E aquela é minha amiga.

– Puts, foi deixado de lado? – o outro disse com um pouco de sarcasmo.

Olho para encará-lo melhor e reparo que ele possuía as unhas pintadas de preto, assim como seu cabelo.

– Pior que era nossa noite de solteiros – revirei os olhos vendo de relance para Marina que saia do local acompanhada. Alguém foi dar uns beijos. E cá estou eu, sozinho.

– Sinto muito, amigo – ele exagera uma expressão de pena e termina a bebida que tinha em mãos – Isso deve ser um saco.

– E o que você sabe da minha vida? – susserei emburrado. Não gosto de estranhos palpitando da minha vida.

Um silêncio pairou entre nós. E eu gostava assim. Não foi o momento mais legal ter um estranho apenas reforçando minha solidão em comparação aos meus amigos. Muito menos com toda aquela energia de flerte que ele estava exalando. A última coisa, mesmo depois de minha morte, está o desejo de estar com alguém romanticamente. Repulsa.

– Meu nome é Jess – o de unhas pintadas falou chamando minha atenção.

– John.

Fiz questão de mostrar desdém e deboche. Não estou no pique de conhecer gente nova.

– Então – o menino continua a puxar assunto, caramba – Sua amiga e o surfista devem estar engolindo as línguas um do outro.

– Ela vai voltar – falei convencido e evitando olhar para a cara de Jess – E eu estou esperando outros amigos também, então estou bem aqui...

– É uma pena deixarem você aqui sozinho – ele deslizou um guardanapo com números – Um puta desperdício.

Fico sem reação e amasso o papel em meu bolso depois de forçar um sorriso aceitando o telefone dele. Isso é um absurdo, ele se aproveitando assim de meu estado para dar em cima de mim. Se ele acha que isso vai dar certo, ele está muito, muito errado.

– Eu, eu vou procurar a minha amiga, faz um tempo que ela saiu e ainda não voltou.

Sem mais delongas abandonei Jess e corri para a multidão perto de onde eu deixei Marina e Medina conversarem. Não os encontrei.

Trombei com diversos corpos e sem sucesso.

– Menino! – Uma voz familiar me barrou – Finalmente te achei.

– Erika, graças a Deus! – falei quase desacreditado em ter encontrado uma amiga – Eu estou procurando a Marina, ela estava de graça com o, pasme, Gabriel Medina e sumiu!

– Ai menino, mas eles foram beijar na boca – ela disse com um misto de malícia e ironia que só a Erika é capaz de atingir – Deixa ela, você vai querer carona?

– Quero mas – parei para recuperar meu fôlego que fora tomado pelas diversas tentativas falhas de encontrar alguém conhecido pela pista de dança – Mas é que ela estava muito bêbada, e eu to preocupado que alguma coisa aconteça com ela.

A expressão de Erika mudou de forma mortal.

Ela começou a andar para fora da muvuca e fomos para o deque em frente a praia, onde ela começou a pedir para que Pete tente ligar para a casa que ela ligava para o celular de Marina.

Freneticamente comecei a mandar diversas mensagens ao colocar meu celular no bolso de novo, senti o guardanapo amassado com o número do misterioso estranho que conheci.

Abri e visualizei os dígitos por uma fração de segundos, até que uma brisa da praia escorregou por meus dedos levando consigo o papel.

– Ela não está respondendo! – Erika gritou me despertando do meu transe – Vamos até a casa dela ver se está tudo bem, Pete, você leva a gente lá?

Ele concordou e saímos do bar.

Eu ainda perplexo, assistindo repetidamente em minha mente a cena do pequeno pedaço de papel deslizando em minhas mãos em direção ao ar angelino de uma noite do ínicio da primavera californiana. Parte de mim com o coração voando junto, desejando que eu tivesse decorado aqueles números, por mera curiosidade. Outra parte está grata que aquilo se foi. Uma preocupação a menos. Eu não estava nem um pouco interessado em saber o porque ele resolveu me dar aquele guardanapo, ou o que ele quis dizer com "um desperdício", ou porque ele pinta as unhas. Aquilo só me levaria a dor de cabeça, eu assisti minhas amigas sofrerem pelos seus interesses românticos e eu não estou nem um pouco a fim de passar pelo mesmo sofrimento.

Entretanto, passo a sofrer pela sensação de ter visto aquele papel escapar do meu toque.



2/? esse carnaval epa

e sim teremos mais jess daqui pela frente kkk...

see you again; tchalametWhere stories live. Discover now