see you again; tchalamet

𝟴𝟮

E R I K A

Acordei com muita disposição. Sim, é triste que hoje é nosso último dia na Disney, e sim, eu já estou morrendo de saudades do Olaf. Mas, é de deixar o coração quentinho saber que meu namorado está planejando uns dias de folga reservado para nós dois. Assim que acordo, perto das nove, ligo para ele numa chamada de vídeo e ele atende quase que imediatamente e vejo seu rosto no escuro e seus olhos lutando contra a luz do celular e o cabelo todo bagunçado provando que eu o acordei. Esqueci que Los Angeles está a três horas atrás de Orlando.

– Bom dia! – forço uma voz fina como se eu estivesse falando com um bebê – Parece que alguém acabou de acordar!

– É – ele boceja – Por sua causa.

– Você que lute – solto uma risada provocativa – É o preço que você paga por me namorar!

– Nunca reclamei – ele muda sua posição e fica sentado – Única reclamação que eu tenho é que eu to com saudades dela.

– Quem?

– Minha namorada – Pete estende o braço no vídeo acendendo a luz – Conhece ela?

– Conheço bem – ajusto o ângulo de meu celular para que a luz da varanda me favoreça – E como você está vivendo sem ela?

– Terrível, cara – ele consegue tão bem manter a brincadeira de me citar na terceira pessoa e eu aqui me segurando para não usar minha voz de bebê para falar com ele – E pelo visto as coisas só vão piorar daqui pra frente.

Ok. O meu sorriso é brutalmente assassinado de meu rosto.

– Co-como assim, Pete?

– Erika, a gente precisa conversar – suas mãos esfregam seu rosto e ele respira fundo – VocÊ me ligou três horas antes do que eu planejava te ligar, preciso te falar uma coisa. Eu tive que cancelar nossa reserva para quando você voltar pra cá, sinto muito.

– O que passou? – protesto ainda sem entender e mais uma vez ele respira fundo. Muitos suspiros longos nunca são um bom sinal. E a minha própria respiração também começa ficar descompassada com o clima tenso que Pete criou em tão pouco tempo.

– Mo – um sorriso triste ocupa sua face avermelhada pelo sol californiano – Eu-Eu recebi uma oportunidade de dar umas palestras num evento da MIT, é um evento de dois finais de semana, então vou ficar em Boston pelas duas próximas semanas.

– Mas a gente sairia depois de amanhã, não tem como você ir no final da semana tipo sexta?

Ele nega com a cabeça de maneira desajeitada.

– Eu tenho uma reunião amanhã com o pessoal do evento para mostrar meu material e tudo mais... Então eu vou amanhã cedo.

Respiro fundo mimicando seu gesto de nervosismo.

– Ah – solto uma exclamação abalada – Tudo bem, fico feliz pela sua conquista! Tomara que dê tudo certo!

Antes que ele pudesse reagir a minha frase, desligo e finalizo a ligação apertando com força meu celular contra meus dedos e repreendo qualquer lágrima que ouse escapar de meus olhos.

Erika Mendes! Fique feliz por seu namorado! É uma grande oportunidade que pode trazer mais futuras conquistas! MIT – Massachusetts Institute of Technology – A escola para nossa área que envolve cálculos e matemáticas, uau, o quanto eu teria dado para me formar naquele lugar. Deus! Meu namorado realmente é um nerd do caramba!

Mas... Meu cérebro sabe que eu tenho que me alegrar por suas realizações mas, meu coração não abraça essa felicidade e está dolorido ao saber que quando eu chegar na Califórnia, não terei ele comigo para me forçar a assistir seus estúpidos filmes geeks e ficar pausando para explicar cada referência ou para me levar em um restaurante caro e me alimentar como criança levando os talheres a minha boca e por fim, ir ao cinema assistir a um filme péssimo apenas para me beijar durante o filme todo.

Estar rodeada por casais e, principalmente, ter a notícia que Ana foi pedida em casamento nessa terra mágica, tem sido um gatilho enorme a superar e ignorar. Afinal, eu sou romântica nata ao extremo e o fato de que Pete poderia estar comigo aqui me fez pensar o que faríamos juntos se estivesse aqui. E digamos que isso acumulou toda minha carência e... hormônios para quando eu chegasse em casa.

E o que me deixa mais frustrada sobre tudo isso é o quanto desdém ele tratou de dar a notícia. Às vezes seu jeito de ser parece que ele não valoriza tanto nossa relação. Eu sei que não é verdade porque é natural as pessoas demonstrarem amor de formas diferentes. Mas sei lá, queria que ele fosse mais presente, andasse mais com meus amigos, investisse mais de seu tempo para se esforçar estar comigo.

Você só está chateada que as coisas saíram dos planos, Erika! Fique feliz por ele!

Costuro esse pensamento em minha mente e me obrigo a aproveitar bem meu último dia aqui com meus amigos. É impossível negar que eu não tenho me divertido com eles. Tem sido um tempo de qualidade altíssima! É sempre risada garantida com eles e eu os amo tanto!

– Erika! – Ana aparece na varanda – Tudo bem?

– Sim! – grito meio assustada com a presença repentina da garota.

– Mesmo? – seu rosto se curva em dúvida, e ela tem direito, ela me pegou desprevenida no meio de um longo discurso interno sobre meu relacionamento.

– Sim, de verdade – relaxo minha postura.

– Beleza então – ela sorri gentilmente – Vou descendo para me encontrar com meu namorado e o Shawn para irmos já ocupando a mesa reservada para o café ok? E o John pediu para avisar que ele já já também vai! Vê se você acompanha ele, se não ele vai passar nas lojinhas e gastar o que não tem.

– Sem problemas – dou risada do comentário dela sobre John – Vou mandar mensagem e ver se combino algo com ele!

Ela se despede mais uma vez e depois volta:

– Ah! E vê se você consegue acordar a Marina, porque tá impossível!

Entro de volta ao quarto e vejo a menina jogada na cama dormindo profundamente.

– Menina! Hora de acordar!