Capítulo 4

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IV

Ao ouvir Mairon falar de "um anel muito especial", Moriel ficou esperto. Sabia que aquele anel tinha algo a ver com Melkor e seu retorno a Arda. Ele entendia mais da mente de Mairon que qualquer outro, e sabia que aquela forjadura tinha relação com a ideia que ele próprio dera a seu pai ainda no começo da segunda era.

Imediatamente após forjar ao anel, no entanto, Mairon saiu desabaladamente das Sammath Naur em uma forma terrível e colérica, com ódio e em chamas.

- Meu pai...! - exclamou Moriel, porém Mairon sequer parou para lhe responder. Apenas disse:

- Celebrimbor me traiu!

E foi, desabaladamente, até Eregion, desta vez com uma guarda pessoal bastante grande - grande o suficiente para subjugar a maioria dos elfos de lá caso quisesse. Moriel apenas observou. Sabia que havia relação entre aquilo e o anel o qual acabara de ser forjado pelo maia.

OoOoOoOoOoOoO

Na volta, Mairon e sua guarda voltaram com Celebrimbor preso. Com um meneio de cabeça, Mairon chamou ao filho para as câmaras de tortura - e foi junto. Dispensou os servidores menores e fechou a porta com uma magia muito forte, para que ninguém adentrasse ou saísse da sala enquanto a sessão ocorria. Moriel estremeceu. Sequer ele poderia abrir a porta caso quisesse sair. Estavam ambos, o elfo e o ainu, nas mãos de Mairon.

Com habilidade, já muito experiente naquelas artes negras, Mairon prendeu a Celebrimbor em uma mesa de tortura e o olhou fundo nos olhos. Já não lembrava em nada a Annatar, o senhor das dádivas. Era agora apenas Gorthaur, o Cruel.

- Você entregou os anéis élficos àquela senhora...! A tal de Nerwen. Não foi?

- E o que lhe devo eu a respeito dos anéis?! Eu os forjei! Eu os dou para quem quiser portanto!

- Sem minha arte, vocês insignificantes eldar jamais poderiam ter forjado aqueles anéis! Eu os ensinei por mais de duzentos anos! E é assim que me agradece? Com traição?!

- Você nos traiu! Você pelo que vejo é Gorthaur, o segundo em comando de Morgoth! Tentou fazer os anéis para ler nossas mentes e nos manipular! A senhora Nerwen estava certa...! Eu não devia ter virado as costas para o conselho dela...!

Mairon riu, um riso cortante cheio de malícia.

- Você a ama, não?

- A senhora Nerwen...?

- Vê-la todos os dias de braço dado com aquele tonto submisso...! Celeborn não a merece! Quem ela pensa que é para rejeitar ao neto de Feanor...? Você e ela têm um parentesco, distante mas é um parentesco... ambos são nobres e altos, e belos. Ela merece coisa melhor...! Escuta! Revela-me o paradeiro dos anéis, e eu te dou o amor de Nerwen. Eu amarrarei o destino de vocês dois para sempre, e a separarei do marido! Sou feiticeiro poderoso, posso fazer o que prometo.

Os olhos de Celebrimbor brilharam em temor, mas também em dúvida. Ao ver aquela centelha neles, Mairon continuou:

- Eu sou o senhor da morte, da lua e da feitiçaria. Nem mesmo o vala mais belo, poderoso e magnífico pôde resistir a mim e a meus encantamentos!

- O que...? Está a falar de Melkor?

- Sim! Ele era avesso ao amor e tudo que provinha daí, mas eu o enfeiticei. Ele se casou comigo e eu lhe dei um filho. Vê aquele rapaz? É Moriel, o filho da escuridão. Meu filho com Melkor.

O elfo mirou ao outro ainu, o qual mal vira até então, concentrado no odio de Mairon que estava. Era verdade...! Moriel era lindo como nenhum elfo era; seus olhos brilhavam como o fogo dos de Mairon; as linhas de seu rosto tão perfeitas que quase doía olhar para elas. Era um ser digno de veneração...

O filho da escuridãoWhere stories live. Discover now