Capítulo 9

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IX

Por um tempo houve barulho, e dança, e canto, e festa, para comemorar a volta de Melkor em Arda; no entanto, Mairon, quem havia justamente organizado as canções e outras coisas, delas não conseguiu participar. Ainda se encontrava prostrado ao lado de Melkor no trono, a cabeça baixa, respirando com dificuldade.

Melkor resolveu sair do meio da algazarra. Levantou do trono, tomou-o pela mão e saiu do templo. Muitos quiseram seguir os dois ainur, mas Melkor disse que precisava falar a sós com Mairon. Os edain assentiram e se retiraram com uma reverência.

Quanto ao maia, ainda não estava completamente em si. Estava como que "flutuando", ainda não crendo que tinha ao vala ao seu lado.

Melkor andou junto com ele até um jardim que ficava próximo do templo porém afastado de todas as pessoas. Sentou-se lá, os sentidos ainda se acostumando com as coisas por ter ficado tanto tempo no Vazio, e trouxe Mairon para perto de si. Ele somente teve energia para deitar-se no colo do outro e ali ficar, ainda soluçando. O vala acariciou seus cabelos loiros e o deixou assim por mais um pouco.

Após algum tempo, falou enfim:

- Meu bem... eu não tenho como agradecer. Você fez mais ainda do que eu precisava. Eu pedi para que reconstruísse ao reinado da escuridão, e além disso você me faz um templo.

- Sim... eu disse que ia fazer, e fiz.

Foi o que conseguiu falar. Estava ainda fraco, ainda tentando se recuperar. Melkor respeitou a sua fraqueza, a qual de resto estava bem justificada. Após algum tempo assim, Melkor voltou a falar.

- E Moriel? Ainda não o vi desde que cheguei aqui.

- Ele não está aqui. Está em Mordor.

- É? E você tem tido alguma forma de comunicação com ele?

- Sim... é uma longa história. Foram mais de dois mil anos de ausência...

- Verdade. Ainda teremos muito o que conversar, meu bem... estava com saudades de você.

Mairon permaneceu calado. Não conseguia falar. Vinha tanta coisa em sua mente que ele simplesmente não conseguia. Ainda encontrava-se em estado de choque.

- Melkor...

- É tão bom ter você aqui de novo. Já é a nossa segunda longa separação. Fico pensando que já está bom, mais de quatro mil anos longe de você se juntarmos a minha prisão da primeira era...

E então, ele fez algo que Mairon não esperava, mas sabia que ocorreria em breve: o beijou na boca, primeiro suavemente, mas depois com intensidade.

- Hun...

O maia gemeu no meio do beijo, mal acreditando que o beijava outra vez. Eles haviam se beijado no Vazio, mas sem corpo. Agora, ao sentir a língua dele novamente na sua, era como se nunca antes o houvesse beijado. Era muito estranho, apesar de bom. Era como se despertasse de um longo sonho ruim para um novo estado de realidade.

Quando acabaram de se beijar, Mairon sorriu. Mas ainda estava cansado. Deitou a cabeça no ombro de Melkor e ali ficou, até adormecer por completo. Apesar de ser maia, havia gasto a uma energia que nenhum maia se atrevera a gastar antes. Quando deu por si, havia adormecido.

Melkor o tomou nos braços e o levou para seus aposentos que, de resto, já eram os mais belos e bem guarnecidos de toda Númenor, à exceção dos aposentos do próprio rei. Lá, deitou-o na cama e ficou a acariciar seus cabelos e a beijar seu rosto e lábios. Mairon por sua vez só podia sentir a esses beijos e essas carícias de maneira semi-consciente, porém sabia que era algo que desejava muito e esperara muito para ter. Apenas não podia forçar a seu corpo para ficar acordado a fim de senti-las em plena consciência.

O filho da escuridãoWhere stories live. Discover now