Capítulo 12: Reminiscências

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Despejava água quente delicadamente no interior das xícaras de porcelana dispostas sobre o bistrô de centro.

Estavam sentados em confortáveis cadeiras de jardim na varanda, de modo que era possível ter a visão perfeita do grande jardim no quintal da imensa casa de Sasori. As várias fontes ecoavam o som de água corrente, os pássaros sentavam nas folhagens das árvores baixas, de modo que seu canto ressoava. Naruto sentiu que a paz o preencheu naquele lugar. Se era verdade que locais se enchem de energia acreditou que ali havia uma sobrecarga de boas vibrações.

Agradeceu pelo chá e pela cheirosa quiche de frango sobre o prato, mas na realidade não estava com a menor vontade de comer coisa alguma. Sasori pareceu perceber isso e decidiu desconversar.

-... Itachi tem álbuns cheios de fotos de Sasuke quando criança. Ele era um bebê adorável – riu, tentando fazê-lo relaxar. Funcionou, porque Naruto abriu um imenso sorriso em resposta.

- É mesmo? Sasuke nunca me mostra essas coisas mesmo que eu implore!

- Se ele souber que te mostrei fotos dele tomando banho quando criança eu serei morto! – gargalhava.

- Não acho. Vocês parecem se dar muito bem.

- Acredite, não foi sempre assim. Logo que me casei com Itachi, Sasuke se afastou completamente de mim. Ele achava que eu estava só brincando com o irmão dele, que o abandonaria quando as coisas se complicassem, que o faria sofrer.

- E o que o fez mudar de ideia? Sei que Sasuke pode ser muito teimoso quando quer.

-... Meu bebê – ergueu as íris rubras para o rapaz, que engoliu forte – Engravidei pouco tempo depois de me casar oficialmente, nessa época já era claro para todos que Itachi e eu não estávamos brincando, que nossos sentimentos eram sérios. Obviamente o clã Uchiha não aceitou nada bem, e tentaram a todo custo nos separar.

- Posso imaginar.

- Eles nunca foram a favor de meu relacionamento com Itachi. Por eu ser "de fora" da família tudo foi mais complicado. Minha cor de cabelos, meus olhos, minhas raízes, minha condição financeira... Tudo era motivo para me incriminar.

-... E como Itachi se sentia sobre isso?

- Itachi sempre foi muito gentil, muito protetor... Ele abdicou dos direitos como herdeiro para ficar comigo, para termos nosso filho em paz. Eu me sentia mal por ele, estava transformando sua vida num inferno. Mas ele sempre me dizia não suportar mais a pressão do clã, que daria tudo para se ver livre dos laços que o prendiam à família.

- Sasuke me diz a mesma coisa...

- Quando conheci Itachi eu estava destroçado, havia acabado de perder meus pais. Ele me devolveu a vida, me acolheu, sou muito grato por isso. Se não fosse por ele eu não teria conseguido seguir em frente.

Baixou o olhar para a flor de jasmim abrindo-se vagarosamente no interior da xícara, o calor desprendendo o aroma e sabor do chá na água.

Suas lembranças eram ao mesmo tempo dolorosas e inacreditavelmente reconfortantes.

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A noite parecia mais fria e sombria que as demais, talvez porque uma tempestade se aproximasse. Sasori se sentia um tanto culpado, tivera uma crise de falta de ar e por esse motivo, Itachi voltara de sua viagem de negócios exclusivamente para cuidar dele. Já se sentia bem, mas a culpa o perseguia.

Estava sentado no sofá quando o telefone soou. Estranhou, já era um tanto tarde.

Naquele momento não fazia ideia de que toda a sua vida mudaria drasticamente após aquele telefonema.

Entre a razão e o desejoOù les histoires vivent. Découvrez maintenant