Capítulo 52

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Já estávamos a dois dias navegando, a viagem em sua maioria era silenciosa, eu não podia ajudar muito no quesito de navegação, por isso, Zamir me incumbiu de enquanto ele tinha que fazer o trabalho pesado, que eu era a responsável por distraí-lo c...

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Já estávamos a dois dias navegando, a viagem em sua maioria era silenciosa, eu não podia ajudar muito no quesito de navegação, por isso, Zamir me incumbiu de enquanto ele tinha que fazer o trabalho pesado, que eu era a responsável por distraí-lo com as historias.

Algumas histórias ele ria de gargalhar, as vezes falava que era um absurdo o que eu estava lhe contando, que as ninfas tinham imaginação fértil de mais, outras ria por que seu feito tinha sido bem contado.

No momento eu contava para ele, sobre uma história que escutei dele ter matado um jovem humano de quinze anos, o esquartejando e dando os pedaços aos porcos.

Nessa história ele era retratado como um bicho papão, um ser sem piedade e coração, que destroçou um inocente garoto simplesmente por puro prazer.

- Inocente? – Ele ri alto - Aquele guri não era inocente, sou mais inocente do que ele.

- Como assim? – Fico surpresa com sua resposta.

Escutei as engrenagens de madeira rangerem, enquanto Zamir puxava uma corda e ajeitava a vela, pelo menos foi isso que ele disse que estava fazendo.

- Aquele moleque era um aprendiz de druida, onde foi rejeitado pelo seu próprio mestre por ter digamos, gostos pouco convencionais.

- Que tipo de gostos?

- Ele tinha prazer em torturar e matar criaturas indefesas como cachorros, cavalos, bodes, porcos... ele era sádico, tinha prazer por ver os bichos agonizarem, um belo dia ele encontrou uma criança élfica que estava na beira da floresta.

- Não me diga que...

- Digo, ela não devia ter mais do que cinco anos humanos, os pais relataram o sumiço ao rei e eu fui incumbido de rastreá-la, encontrei o corpo da menininha todo rasgado e jogado no chiqueiro dos porcos.

- Meu deus!

- Essa não foi a primeira vítima dele, quando vi o que ele tinha feito com o corpo daquela pobre criança, bem, resolvi colocar a minha licença poética em prática, mas todos só me veem como monstro, mas ali o monstro não era eu.

Fiquei calada, todas as histórias que eu sabia sobre Zamir eram distorcidas, mostrando somente um lado da moeda, o lado que o pintavam como vilão. Pelo que ele me dizia, ele matava e fazia coisas piores, mas sempre com um motivo, não era o assassino descontrolado que diziam.

Comecei a me questionar o que mais estaria errado sobre os elfos, o que mais foram histórias distorcidas e contadas de geração para geração, para nos assustar e continuar a manter esse ódio entre os povos.

Eu estava começando a compreender o porque Kael confiou essa missão ao orelhudo. Zamir não negou as atrocidades que fez, na verdade, de algumas até se vangloriava, mas todas, sem exceção, pelo menos das que conversamos, ele tinha motivos fortes para ter feito tal coisa.

Minhas noites ainda eram perturbadas por meus demônios interiores, eu ainda acordava gritando e tremendo de medo durante a madrugada. Uma certa noite, não consegui mais voltar a dormir, e fui para o convés do barco que estávamos.

- Não consegue dormir?

- Não.

- O que te atormenta?

Escuto ele vir em minha direção e se sentar ao meu lado. Não consigo responder a sua pergunta, falar em voz alto parecia tornar aquilo mais real e eu não estava pronta ainda.

Me pego esfregando os meus pulsos, lembrando daquele maldito metal avermelhado, um nó se forma em minha garganta, acabo soltando um suspiro profundo.

- Você foi presa pelos grilhões vermelhos não foi? Lá no acampamento humano.

Balanço minha cabeça em afirmativa.

- Olha ninfa, tenho uma ideia do que aqueles porcos fizeram contigo, sei como eles tratam prisioneiros de guerra – Viro o meu rosto em sua direção, algo em sua voz me dizia que ele falava aquilo por experiência própria – Mas saiba que ninguém, jamais conseguiria fazer nada com você se não fosse as algemas, não sei direito ainda a extensão dos seus poderes, mas sei que são grandes, então se agarre ao seu poder, deixe ele te lembrar que você está segura, que é você que está no comando.

- É isso que você faz quando tem pesadelos?

- As vezes sim, é um bom mantra, vamos tente.

- Como assim?

- Convoque a água, deixe que todo o seu corpo sinta o poder emanar de você, que todo ele sinta o contato com seu elemento, que ele te preencha de poder.

Meio receosa faço o que ele pede, invoco um pouco de água formando uma esfera em minha mão, deixo minha conexão com meu elemento se espalhar por cada fibra do meu ser, deixo que a água me acalme, que me faça lembrar que não sou indefesa, que sou eu que estou no controle.

Um sorriso largo se espalha pelo meu rosto, me sinto calma, o conselho do orelhudo até que serviu muito bem. Escuto ele me elogiando ao meu lado e uma ideia travessa me surge.

Brincando com a esfera de água na minha mão, vou jogando-a de uma palma para a outra, estou curiosa para saber como é o elfo que está do meu lado e por isso, jogo a esfera bem em seu rosto.

Zamir solta um palavrão bem alto e se levanta por reflexo, não consigo me conter e caio na gargalhada, ele fica me xingando, falando que isso é o que ele recebe por ser gentil.

- Por que raios fez isso?

- Estava curiosa para saber como você é, com a água em contato com seu rosto pude ter um vislumbre. – Falo ainda entre risos.

O elfo não me responde, mas ele volta a se sentar do meu lado.

- Se quer saber como eu sou era só pedir, não precisava me afogar.

Paro de rir quando ele segura delicadamente as minhas mãos, tenho reflexo de puxá-las, mas ele me explica o que iria fazer e então, deixo que ele segure em meus pulsos e leve as minhas mãos até seu rosto. Fico receosa no início de tocá-lo, mas minha curiosidade fala mais alta.

Vou passando meus dedos delicadamente por sua face, sinto a sua pele arranhar meus dedos com a barba que está por fazer em seu maxilar delicado, subo um pouco minha mão e toco em seus lábios carnudos.

Continuo minha exploração por seu rosto, Zamir tem um nariz fino e arrebitado, sua testa estava franzida, mas conforme passo meus dedos vejo ele relaxar com meu toque, alguns fios de cabelos rebeldes caiam sobre seus olhos, vou passando minha mão por seus cabelos lisos até chegar a sua nuca e vejo, que ao contrário dos outros elfos ele tem cabelos curtos.

- Qual a cor dos seus cabelos?

- Pretos.

- E seus olhos?

- Azuis escuros.

Minha exploração me leva para o lugar que estou mais curiosa, suas orelhas, começo a toca-las delicadamente, eram menores do que eu as imaginava, mas assim como os outros elfos era pontuda, o elfo é lindo.

Zamir é mais bonito do que eu me lembrava, pois na floresta pela circunstância que me encontrava, não parei para reparar no elfo bêbado que eu salvava.

- Olha só, eu tinha razão em te chamar de orelhudo.

Ele ri, uma risada gostosa que ainda não tinha escutado, percebo que eu ainda estou com as mãos em seu rosto e as tiro rapidamente, não me sentindo mais confortável com tal contato.

- Obrigada pelo conselho.

- De nada.

Me levanto apressadamente e vou em direção a cabine onde estava dormindo.

- Vou tentar voltar a dormir agora. Boa noite.

- Boa noite Lia.

Rainha Sombria - A Ordem da Rosa #2 Where stories live. Discover now