Capitulo 1

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"Com medo de ser abandonada, faz qualquer coisa para impedir o fim do relacionamento."

(Grupo MADA)

Suzana

Para começar, sempre fui boa em falar o que sentia, mas às vezes essas explosões de sentimentos vinham em forma de raiva. Eu gritava, quebrava as coisas... Xingava. E sim, sentia muito ciúmes e dessa vez, eu fui internada porque esfaqueei o homem que eu amava. Foi apenas no braço, acho que não era para ser tão dramático, mas foi tudo um início para um relacionamento que já estava ferradinho por uma mulher ciumenta, que fazia barraco e que achava que amava demais... e achava que ele amava menos. Eu achava que podia moldar ele só para mim. Bom, para vocês entenderem minha história, aí vai o blá blá blá...

Eu sou adotada, exatamente!!! Mas não tenho nenhum problema com isso, vivi em um orfanato dos meus 6 aos 11 anos, sem ninguém querer me adotar. Acho que era porque eu era feinha e já velhinha demais. Ai surgiu na minha vida dona Adelaide, minha mãe. Ela era a governanta de dona Angélica... E Dona Angélica, que era rica e não tinha muito que fazer, fazia de conta que ia lá ao orfanato para fazer caridade. Mas Adelaide, minha mãe, viu alguma diferença em mim e quis me adotar. Pediu a Dona Angélica para ajudar a ela me adotar, pois tinha se apegado a mim e aí, em duas semanas, eu já era a filha oficial de Adelaide, minha mãe.

Com muito sacrifício, me criou, pagou meus estudos até o segundo grau. Ela tinha orgulho de mim, mas ela já estava cansada e muito... Eu sentia isso e via isso, mesmo quando ela não falava. E como ela me deu um lar, amor, carinho e era minha mãe, me sentia na obrigação de ajudar, éramos pobres, passávamos sufoco, e eu queria dar tudo a ela, como ela me deu. Morávamos em uma casa de espaço mínimo e eu sonhava em dar uma vida digna a minha mãe, com melhores condições. Mas era difícil arrumar emprego, não conseguia e o único que consegui, foi na casa de Dona Angélica, eu era a faxineira e foi aí que conheci o meu sapo desencantado.

Pedro era lindo, educado e sexy... Eu ainda, naquela época, acreditava em contos de fadas e senti que ele enxergou em mim tudo o que eu queria encontrar no espelho e não via. E com 18 anos, eu já me sentia dele. Ele estava terminando a faculdade de medicina. Ele era tudo que qualquer garota, que acreditava em príncipes encantados, poderia sonhar. Ele dizia que me amava e eu dizia que o amava mais. Seis meses depois, minha mãe morreu... Ataque cardíaco. Pensei que ia morrer junto com ela. E foi ali que ele me assumiu como namorada para família dele. Ele disse pra Dona Angélica que eu ia ficar na casa até ele reformar o apartamento... E se eu disser que com toda dor que eu sentia, fiz dele um porto seguro, vocês vão acreditar. E era verdade, porque é sempre o mesmo clichê da história da "cinderela"... a pobre menina com o cara rico... Mas eu não era a "cinderela", eu era a faxineira. A garota de corpo gostoso que ele transava quando queria. E hoje eu sei... que ele não era meu "príncipe encantado". Olhando para trás, vejo que um dia, ele me amou ou pensou que me amava. Ou talvez, naqueles meses, ele queria realmente ser o meu príncipe encantado.

A mãe dele me odiava... Vamos falar a verdade, qual mãe quer o único filho, com todo um futuro, indo morar junto com a filha da governanta? E posteriormente, a faxineira da casa? Nenhuma mãe quer isso. Fomos morar junto no apartamento dele, eu sentia que me faltava algo... E me faltava tudo. A única pessoa, que me deu amor, foi morar com os anjos... E eu não podia brigar com Deus. Ele começou a fazer residência e aqueles plantões eram horríveis para mim. Eu me sentia sozinha e me apegava ele a cada dia mais. Fiquei um ano achando que ele era minha tábua de salvação... E fui burra achando que ele poderia me salvar, sem enxergar que só eu poderia salvar a mim mesmo.

Minha relação com Pedro era baseada em sexo, ciúmes e paixão. Sabe aquela coisa de pele, que quanto mais a gente tem, mais a gente quer? Era assim. Brigávamos muito por ciúmes, tanto ele comigo quanto eu com ele.

A casa dele vivia dando muitas festas e reuniões que eu não podia ir. A mãe dele me detestava e ele não insistia com a mãe, pois tinha medo de magoá-la. Ele ia para as festas e eu ficava em casa bebendo, imaginado mil possíveis traições na minha cabeça. Eu tentava me controlar, mas quando ele chegava, quase de manhã em casa, embriagado, eu me descontrolava e acusava ele de traição. Eu quebrava tudo, xingava-o, ele me xingava, nos machucávamos e quando eu dizia que ia embora, ele me pedia para ficar e transávamos selvagemente. Era uma paixão doente.

Com raiva de mim mesmo e não aguentando mais ficar presa naquele apartamento esperando ele chegar, passei a sair. Estava uma noite em uma boate, quando ele chegou, me pegou pelos cabelos, me chamando de vadia e outros xingamentos. Eu estava bêbada e atiçava-o mais ainda, dizendo que toda noite que ele saia, eu transava com aqueles caras da boate. Ele ria dizendo que era mentira, que meu corpo era só dele. Ele rasgava meu vestido assim que chegávamos ao apartamento e me fodia com raiva, chegando até, por várias vezes, me deixar roxa em algumas partes do meu corpo.

Depois que transávamos, ele me largava lá embriagada, machucada... E saia, sumia por uma semana, ou mais. Esses dias era um inferno para mim, ele não atendia minhas ligações. Depois, ele voltava, me pedia desculpas, dizia que me amava, que eu só era dele. Foi quando ele sumia que passei a ir atrás dele. Ia ao hospital, na casa da mãe dele... em todos os lugares possíveis que eu imaginasse que ele estaria, eu estava lá atrás dele.

Em todas as vezes que eu conseguia encontrá-lo, tinha sempre uma mulher perto dele, eu avançava em cima deles, queria bater na vadia, bater nele. Ele conseguia me segurar, me jogava no carro, me levando de volta para casa. Gritava comigo, me xingava e depois transávamos com violência, igual a dois loucos.

Tudo mudou quando ele tinha sumido mais uma vez. Eu estava alucinada fuxicando o facebook dele, olhando se tinha alguma notícia dele, onde ele poderia ter ido. Me subia um ódio quando eu via várias fotos dele junto de mulheres. Quando atualizei o perfil dele de novo, apareceu uma foto do Pedro e uma mulher linda vestida de noiva e um cara, marcado: #casamentodopedrobombando...

Eu quase enfartei, joguei o notebook longe. Virei outra dose de tequila... Ele não podia fazer aquilo comigo. Senti como se uma faca entrasse no meu coração e no meu corpo todo. Fiquei cega de ódio e fui atrás dele.

Imaginei que a festa estava sendo na casa da mãe dele, reconheci parte do jardim atrás da foto. Fui para lá e consegui entrar pela porta dos funcionários. Um dos seguranças me reconheceu e me deixou entrar, achando que eu tinha ido ajudar a servir.

Quando o encontrei, ele me pegou pelo braço e saiu me arrastando para a cozinha, me dizendo que eu era louca, doente, que não tinha que está ali. Eu o xingava e avançava em cima dele, ele dizia para eu me acalmar e ir embora, que depois conversava comigo. Começava a entrar gente na cozinha e cada vez mais ele dizia que eu era louca e começou a chamar os seguranças.

Ele tentava me segurar, eu pisava no pé dele, o arranhava. Eu parecia um animal fora de controle. Foi quando um dos seguranças chegou, ele me largou, me empurrando... Eu juro para vocês... eu só via as coisas nubladas em minha frente... eu não conseguia enxergar nada... eu só sentia dor, mágoa e ódio.

Eu peguei uma faca e voei em cima do Pedro. Senti as mãos dos seguranças me puxarem, os gritos das pessoas eram ensurdecedores. Vi o Pedro caindo, segurando o braço, as pessoas em cima dele. Eu apaguei.

Acordei no dia seguinte, à noite, com um médico me perguntando se eu estava me sentindo bem. Eu estava amarrada e tinha dois enfermeiros atrás do médico, olhei ao redor, me sentindo zonza e desorientada quando vi Pedro no canto. Ele estava com o antebraço enfaixado, com olheiras. Pediu ao médico para nos deixarem sozinhos e me desamarrassem.

Ele me disse que casou porque a mulher dele estava grávida, mas que me amava. Eu disse a ele que não acreditava, pois ele saia com outras mulheres também. Ele disse, se aproximando e me beijando, que ele era assim, mas me amava e não ia me perder. Que ia dar um jeito de ficar comigo, que eu era só dele. Eu não resisti e transamos ali mesmo.

Antes de ir embora, ele disse que ia ficar uns quinze dias fora resolvendo uns problemas... Mas a gente já sabe qual o problema "a esposa". Ele me fez prometer que eu iria esperar por ele no apartamento, dizendo que ia concertar as coisas.

Mas algo tinha quebrado dentro de mim. Pedi a ele dinheiro, dizendo que eu tinha zerado a minha conta do banco e estava devendo valores altos no cartão de crédito. Ele me passou um cheque de 50 mil. E foi a última vez que o vi... porque eu fiz uma coisa que nunca imaginei que faria, eu abri mão dele.


Intenso Demais - Série Destinos Traçados - Livro 1 ( Degustação )Donde viven las historias. Descúbrelo ahora