Capítulo 8

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                                 "A vida necessita de pausas..."

                                             (Carlos Drummond de Andrade)


Suzana...

Acordei meia zonza, sentei no sofá, esfregando os olhos, tentando me situar onde estava. Lembranças do que aconteceu flutuaram na minha mente parecendo distante, lembrei-me do quanto tinha bebido, imediatamente senti um enjoo, estava morrendo de sede.

— A bela adormecida acordou.

Levantei os olhos, Daniel estava na minha frente, me oferecendo um suco e dois comprimidos.

— Beba, vai melhorar sua ressaca e seu enjoo. — Disse ele piscando para mim.

Bebi aquele suco como se eu estivesse no deserto, enquanto engolia os comprimidos.

— Obrigada.

-Quer tomar um banho? — Ele me encara

Daniel não está mais com o terno, ele está simplesmente maravilhoso dentro de um jeans, uma blusa branca e descalço, com os cabelos meio bagunçados. Dou um suspiro.

— Não, tenho que ir embora, nem sei que horas são e pelo jeito está tarde. Obrigada por tudo, senhor Daniel. — Me levantei, indo em direção a cadeira que estava a minha bolsa e meus sapatos.

— Já são duas horas da manhã Suzana, acho que já está um pouco tarde para chamar um táxi, e não estou nem um pouco a fim de acordar meu motorista para te levar debaixo dessa chuva e me chame de Daniel, por favor. — Ele deu um sorriso desgostoso.

Assenti para ele, pegando meu celular na bolsa, tinha vinte chamadas de Mariane, várias mensagens de voz e texto dela, preocupada comigo, perguntando onde eu estava. Fiz uma careta, olhei para ele.

— Tocava sem parar seu celular, tive que colocar no silencioso, espero que você não se incomode, o som do seu celular tocando direto estava me irritando. Fique essa noite aqui no quarto de hóspede, tome um banho e relaxa um pouco, você ainda está um pouco tonta pela bebida.

— Como você me encontrou naquele bar, Daniel?

— Tenho meus meios, Suzana. Agora, você quer subir, tomar um banho e depois deitar em uma cama confortável? Ou vai querer ficar aí me fazendo perguntas que não vou responder.

Dei um suspiro, eu estava tonta ainda e mentalmente cansada, realmente eu queria um banho, aliás, precisava de um banho urgente, olhei para as roupas do meu corpo todas amassadas.

— Preciso de um banho.

Ele assentiu, pegou a bolsa e os sapatos da minha mão e me guiou pelas escadas até um quarto. Colocou minha bolsa e meus sapatos em um canto no quarto e saiu, fechando a porta, me mandando ficar à vontade.

Peguei meu celular, mandei uma mensagem para Mari não se preocupar, que eu estava bem e amanhã conversava com ela. Liguei o chuveiro, a água me batia no corpo, me fazendo relaxar. Acabei lavando o cabelo, não queria lavar meu cabelo àquela hora da noite, mas se eu não lavasse, ia continuar me sentindo suja. Me enxuguei, me enrolei num roupão. É melhor eu dormir com esse roupão mesmo do que com as roupas que estava.

Saí do banheiro, Daniel estava parado na porta do quarto, me olhou e disse em um tom duro, quase ignorante

— Trouxe uma camisa para você dormir confortável e fiz um lanche, você deve estar com fome.

Olhei rapidamente, tinha uma blusa em cima da cama e ao lado uma bandeja com um sanduíche, um copo de suco e uma garrafa de água. Nem tive tempo de agradecer, ele saiu batendo a porta, dando boa noite.

Daniel...

Não vou conseguir dormir essa noite, já vai dar quase três horas da manhã e a chuva continua caindo. Abro a janela da sacada do meu quarto, gosto da chuva à noite. Fico olhando os raios riscando céu, é tão sombrio como eu.

— Ah, Suzana, o que eu faço com você? — Desde que a conheci, perdi o meu controle, quebrou minha promessa duas vezes.

Quando coloquei-a apagada no sofá, em nada se parecia aquela capetinha que zombava de mim, parecia um anjo dormindo em paz. Mas aí a capetinha despertava, me olhava com aqueles olhos de desejo, medo e raiva. Eu queria quebrar aquela paz dela, quebrar aquela autoconfiança, que ela tinha, do mesmo jeito que ela fazia comigo. Mas quando eu conseguia e a olhava com aquele olhar vazio, quebrado, me fazendo me sentir angustiado, me fazendo querer concertar o que eu tinha quebrado.

Lembrei-me de Júlia, aquele sorriso, aqueles olhos, um fantasma que sempre iria me acompanhar e só me veria livre depois da minha morte. Não posso me descontrolar mais, preciso ter meu controle de volta. Sento no sofá, da sacada olhando o temporal, me entregando ao passado para ter meu controle de volta.

O céu já está clareando quando volto a mim. Vou ao quarto e a olho. Suzana ainda está dormindo, desço na cozinha, Agnes, minha empregada, já está fazendo meu café da manhã.

— Bom dia, Senhor Daniel. — Me diz ela com um sorriso.

— Bom dia, Agnes —Vou em direção à jarra de suco e encho o copo. — Agnes, sirva o café da manhã hoje na piscina e para dois e quando ela acordar, a leve lá... Têm umas peças de roupa na secadora, providencie que estejam passadas, por favor.

Vou em direção à sala da academia. Depois de uma hora colocando minha raiva num saco de boxe, já me sinto melhor. Revigorado até. Volto e tomo um banho. Ligo para Sonia e aviso que só vou à empresa na parte da tarde, e para tranquilizá-la, aviso que consegui conversar com a Suzana. E que apenas amanhã, ela começa como minha assistente. Vou em direção à piscina e a vejo bebendo um café enquanto olhava a vista do mar. Porra, vai ser difícil me concentrar para conversar com ela daquele jeito, ela estava linda vestida com minha camisa, descalça e despenteada. Puta que pariu, meu pau já estava começando a latejar.


Intenso Demais - Série Destinos Traçados - Livro 1 ( Degustação )Onde histórias criam vida. Descubra agora