capitulo 2

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 "Habituada à falta de amor em relacionamentos pessoais, está disposta a ter paciência, esperança, tentando agradar cada vez mais."

                                                                                                     (Grupo MADA)


Desembarquei no Rio de Janeiro sem conhecer nada, me sentia uma burra. Menti para o Pedro, eu não estava tão sem grana, ele sempre foi generoso comigo, me dando mais do que eu gastava. A quantia que pedi a ele no hospital era para inteirar com o que eu tinha no banco e sair de Florianópolis.

Fiquei rodando na rodoviária até descobrir onde ficavam os táxis, não sou matuta... Entendam. Mas me sentia perdida, achava até que aqueles remédios, que o psiquiatra tinha me injetado, ainda estavam fazendo efeito. E quando vi aquela fila dos táxis, fiquei lá parada, mais de vinte minutos quando um cara barrigudo me perguntou:

— Para onde, Dona?

Notei que me ferrei, para onde eu iria? Entrei no táxi e o mandei seguir, quando o taxi passou em frente a um prédio escrito hotel.

— Me deixe no próximo ponto.

— Tem certeza, Dona, quer mesmo ficar aqui? — Ele me perguntou meio assustado.

— Ahh... Senhor, eu não conheço nada do Rio, só quero ficar em um lugar que tenha uma pensão. Eu só quero descansar e pensar — Respondi a ele com voz de choro.

E foi aí que eu comecei a chorar... Eu estava tão assustada e perdida que até acho que ele, sei lá, até teve pena de mim. Eu disse em desabafo que eu estava doente, minha mãe morreu e por causa dessa doença, eu machuquei quem eu mais amava no mundo.

— Ei, respira fundo, não chore vou te ajudar. Vou te levar em Santa Tereza.

— Poxa, Senhor, eu não quero ir a uma igreja, nem sou religiosa. — Voltei a chorar mais ainda.

— Não é nenhuma igreja, é uma pensão em um bairro que se chama Santa Tereza. — Ele responde rindo.

Me senti ainda mais burra e chorei mais ainda, eu me sentia esgotada mentalmente.

Chegando lá, ele me ajudou com as malas e me apresentou a uma Dona chamada Teresa, que era a dona da pensão e prima dele. Ele me desejou boa sorte e arrancou com o táxi. Recebi um quartinho, pequeno, mas limpo. Por hoje, eu só queria dormir. Amanhã, eu iria tentar comprar ou alugar uma casa e arrumar um trabalho.

****

Demorei dois meses para conseguir comprar uma casa, os preços do aluguel eram caros demais e eu não conseguia arrumar um trabalho, então com o dinheiro que eu tinha, preferi comprar uma casa. Eu já estava no fundo do poço e para me transformar em uma sem-teto era apenas um passo.

Foi lá na pensão que conheci Mariane, ela era sobrinha de dona Tereza. Ela se tornou minha melhor amiga, me ensinou a dançar funk e foi ela que me ajudou a encontrar uma quitinete na favela.

Eu vivia depressiva, bebendo, tinha pesadelos horríveis e estava ficando sem dinheiro. Eu só pensava no Pedro. Às vezes, eu passava a noite em claro, olhando as fotos dele, morrendo de saudade. Eu precisava me cuidar, tinha medo de surtar de novo e no fundo, eu sabia que estava doente. E foi com Mariane, quando eu estava de porre e não aguentava mais sofrer quieta, que desabafei. E foi chorando e soluçando que contei tudo a ela, mostrando as fotos de Pedro e que eu estávamos. Minha vida estava precária...

— Já desconfiava que você já tivesse passado por algumas merdas. Pois qual mulher que chega no Rio, de supetão, sem conhecer nada, com dinheiro até para comprar uma quitinete na favela? Nunca comentei nada, achava que você era essas riquinhas mimadas que larga tudo. Mas calma, vou te ajudar, você não está mais sozinha. — Ela disse, sorrindo para mim.

Ela me ajudou a encontrar um grupo de apoio do Mada e conseguiu alguns calmantes para eu conseguir dormir à noite. Eu fazia bicos de freelancer às vezes, como caixa em boates, outras vezes, servindo bebidas. Mas o dinheiro não rendia, eu estava com muitas dívidas e já começando a ficar desesperada.

Estava conversando com Mariane sobre a grana quando ela me contou que trabalhava como garota de programa de luxo. E se eu quisesse, ela poderia me apresentar para uns ricaços legais, que pagavam bem. Mas eu não queria ser garota de programa, disse a ela que ia dar um jeito.

Eu continuava fazendo bicos de trabalho, mas o dinheiro era bem pouco. Eu continuava precisando desesperadamente arrumar um emprego, mas não tinha sucesso. Minha conta já estava no vermelho e já não conseguiria me sustentar nem por mais dois meses com aquela grana. Eu não tinha muita experiência, então arrumar trabalho era difícil. Eu espalhava currículos e nada, já estava quase perdendo a esperança quando Mariane conseguiu trabalho em uma empresa e disse que iria me ajudar a entrar lá. Mas eu teria que ter paciência, porque ela era nova ainda na firma.

— Suzana, você é linda, só te falta autoestima, amor próprio e grana. Olha, eu não sou mais garota de programa, mas fui, paguei minha faculdade de advocacia assim. Você não tem que gostar de fazer sexo com eles, você só tem que fazer e fazer bem feito. Ser simpática e isso, garota, você consegue. Até eu conseguir te ajudar ou você conseguir arrumar um trabalho. —Falou Mariane.

Acabei concordando com ela, olhando as contas atrasadas em cima da mesa.

— Não tenha medo, Suzana, vou ligar para Luana. Eu passei para ela todos os meus clientes, ela vai lá com você e te apresenta a um cara legal. — Continuou ela

E foi assim que parei aqui, nesse hotel de luxo.Sentada ao lado de Luana, bebendo e esperando o cliente dela que ia trazer umprimo, que seria o meu cliente.    

Intenso Demais - Série Destinos Traçados - Livro 1 ( Degustação )Where stories live. Discover now