capitulo 10

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                        "Felicidade é uma combinação de sorte,com escolhas bem feitas..."

                                                                             (Martha medeiros)


 SUZANA...

Peguei minhas roupas com Agnes. Ela insistiu que eu deveria pedir um táxi. Nem louca, eu ia ficar ali esperando até que um táxi chegasse. E também não tinha dinheiro para pagar um táxi, do bairro do Joá até o centro, ia me custar uma fortuna. Era melhor descer e pedir informação na portaria do condomínio onde ficava o ponto de ônibus mais perto. Depois de andar durante vinte minutos até o ponto e esperar mais quinze pelo o ônibus, consegui respirar aliviada quando girei a catraca do ônibus e sentei.

Não sei o que me deu em falar aquilo com o Daniel. No fim das contas, eu que encostei nele na parede. Me surpreendi comigo mesmo. Na maioria das vezes, me torno uma completa idiota. Olho da janela do ônibus e vejo que estou passando em frente à praia da Barra, não quero ir para casa, agora preciso pensar. Dou sinal e logo depois desço. Compro uma água de coco, e vou em direção à praia. Respiro fundo, olho o céu nublado. Sinto o vento nos meus cabelos, eu preciso disso. Sento na areia e olho o mar, parece tão revolto mais mesmo assim em paz.

Lembro-me da minha mãe e a saudade me invade, saudades de Floripa. De quando ela era viva, do amor que ela me dava. O que ela falaria se me visse agora? Se visse o que estou fazendo da minha vida? E o que eu realmente estou fazendo comigo mesmo? Depois de todo esse tempo tentando me curar daquele amor doentio que me drenou completamente.

Eu querer entrar de cabeça em ser amante de um cara, que pode jogar no chão tudo que eu tive que reconstruir e estou tentando até hoje. É maluquice, suicídio moral talvez?

Mas no fundo eu sabia. E era o que eu sabia que me dava mais medo. Eu queria testar os meus limites, eu quero saber se estou curada. Desde a última noite, há seis meses, com Daniel, fiquei curiosa comigo mesmo, como meu corpo respondeu a ele tão rápido e mesmo ainda amando o Pedro. Há seis meses que não me envolvo com homem nenhum, não me sentia pronta para me envolver. Eu tinha medo de cair de cabeça em uma relação e cair naquele círculo vicioso do ciúme e da paixão, que iria me destruir novamente.

Mas Daniel apareceu de novo e eu cansei de sentir esse medo. Quero ir além dos meus limites dessa vez. Eu quero viver, quero saber se sou uma mulher normal. Não que eu queira me apaixonar por Daniel. Eu quero saber se posso me envolver em uma relação, se posso controlar meus sentimentos, se eu consigo ser uma mulher autossuficiente. E Daniel, com aquela proposta, me fez perceber o quão útil iria ser para mim aquela relação. E se tornava até melhor, pois ele não era um homem em que uma mulher poderia se apegar e eu conseguiria ver até onde, dentro de um relacionamento, eu poderia chegar, sem me machucar ou machucar os outros.

Fora o fato de ele ser deliciosamente lindo e eu me sentir atraída por ele. Era por um mês que ele me queria e eu queria esse mês junto com ele. Não por ele, mas por mim.

Sorri para mim mesma enquanto brinco com areia da praia em minhas mãos. Quando ele disse que se eu aceitasse, ele iria me levar ao inferno dele. Eu não tenho medo do inferno dele.

— Tenho medo do meu inferno e por causa desse medo, Daniel, eu vou entrar no seu. Não por você, mas por mim. — Olho para o mar, as ondas batendo na areia e o vento sopra

Fecho os meus olhos quando sinto a chuva bater no meu rosto. Hoje eu não quero correr da chuva, eu quero que ela me lave a alma. Depois de vinte minutos aproveitando aquela paz, me levanto calma e saio da praia, era hora de ir para casa.

Quando dá sete da noite, sentada no sofá da minha casa, Mariane está de boca aberta e olhos arregalados, depois que conto a ela o que aconteceu e a minha decisão.

— Porra, Suze! Nem sei o que dizer, mas eu já sabia que o ''seu Daniel" era o presidente da empresa. E antes que você me diga que eu não te contei, vai com calma, ok! Eu soube no dia em que o Marcos veio aqui na sua casa e você me contou que ele era o primo do cara que você e Luana se encontraram naquela noite

— Não acredito, Mari, que você fez isso comigo! Você tinha que ter me contado!

— O que eu ia dizer? Você ficou nervosa só de saber que eu estava com o Marcos, que era o primo dele. — Ela fez um gesto de aspas com as mãos e continua. — "Olha, Suze, sabe aquele seu Daniel, que você sacaneou, era o primo que o Marcos levou naquele dia no hotel, sinto dizer, mas ele é provavelmente o presidente da empresa que nós trabalhamos." Você queria que eu te contasse assim? — Ela revira os olhos — E depois eu estava tão atordoada com o que estava me acontecendo. Ficar noiva, ter um bebê, ressaca ... eu juro, Suze, que eu ia te contar na segunda, mas quando fui te procurar, a Fernanda me disse que você estava sendo assistente na presidência.

— Você chegou tarde demais, Mari...

— Eu sei, Suze, me perdoa, eu cheguei a subir lá para tentar falar com você, mas a Sonia me disse que você pegou a bolsa e tinha sumido. Eu te liguei várias vezes, mas você não atendia.

Assenti para ela

— Como adivinhar, não é? Essas coisas só acontecem em novela.

— Foi maluquice sua aceitar o acordo dele, Suze, tenho medo de ele te destruir.

— Tenho medo também, Mari. Mas eu preciso disso, pode parecer loucura, mas eu preciso fazer isso por mim. — Ela assente, me dando um abraço.

— Você está fazendo uma maluquice, Suze, é verdade. Mas é a maluca mais corajosa que já vi, tenho orgulho de você.

Daniel...

A foto da Júlia ainda sorri para mim debochada, jogo ela contra a parede, toda dor me consome, me destrói. Olho os vidros da moldura quebrados no chão. Mesmo depois de tudo ela ainda me controla e eu preciso do controle que ela me dá.

Coloco uma dose de uísque, bebo em só gole. Encho mais o copo.

Abro a gaveta do lado da cama e pego a chave. Abro uma porta do closet, sinto o perfume dela. Olho o colar de pérolas e uma foto de bebê. Fecho os olhos, eu preciso das sombras, eu me sinto mais no controle com a dor. E me entrego à insanidade.

— Olha o que você fez para mim, Júlia! — Grito, olhando a foto dela.

Pego a foto dela no chão e começo a rir.

— Você me fez prometer que só o meu corpo iria ser delas, mas meu beijo ia ser só seu. Mas não era não é? Você me tirou tudo, até ele. Levo essa promessa até hoje, e sabe por quê? Por que eu aprendi sua vagabunda, aprendi a te usar para o meu controle.

Jogo a foto dela longe novamente. Vou ao terraço. Voltou a chover novamente.

Até o céu parece ver e imitar a tempestade que vem dentro da minha alma. Tantos anos mantendo o controle. Tantos anos mantendo uma promessa que me fazia manter o maldito controle. Aí me aparece Suzana, uma capetinha com olhos de anjo que vira meus planos de cabeça para baixo. Mas não posso perder o controle novamente, para nenhuma mulher.

Eu não sou mais um homem de flores, chocolates e promessas de amor. Isso foi há muito tempo atrás e ser assim me levou ao fundo de um inferno que até hoje levo dentro de mim. Suzana aceitou a minha proposta, vou fazer o que faço melhor. Usá-la para o meu prazer.

Eu avisei que se ela aceitasse, eu ia destruí-la. Eu dei a ela a chance, para ela recusar. Mas ela aceitou. E eu sou um homem que cumpre suas promessas. Vou dar muito prazer a ela. E quando ela estiver apaixonada, porque no fim todas acabam se apaixonando. Eu vou destruí-la e abandona-la para o meu próprio prazer. Dou um sorriso quando ouço o trovão. Eu estava novamente no controle.


Intenso Demais - Série Destinos Traçados - Livro 1 ( Degustação )Where stories live. Discover now