2. Reações

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Janeiro, 2011

As reações são a parte mais importante do nosso corpo. A forma como reagimos à algum acontecimento diz muito sobre quem somos, diz muito sobre a nossa personalidade. Claro que tudo é um julgamento feito por todos a nossa volta. Sua tia pode achar você muito insensível ao não derramar nenhuma lágrima no enterro da tia avó que você mal conhecia. Seu inimigo pode te achar muito fraco se você chorar durante uma briga. Sua mãe provavelmente vai achar desrespeitoso se você rir enquanto ela te da um esporro. Novamente, nada disso deve te ofender ou te impossibilitar de mudar, mas diz muito sobre quem você é.

Suas reações também definem seu futuro; na verdade tudo define, mas suas pequenas feições e opiniões podem mudar muito seus planejamentos. Isso é perceptivel através da história, se você for analisar, grandes guerreiros, cavalheiros e heróis morreram, ou foram condenados por causa de alguma reação equivocada, ou uma ação que simplesmente não foi aceita por outros.

Rafaella sabia que suas reações eram de extrema importância, e por isso, tentou sempre contê-las e usa-las pro melhor. Não reagiria a nada antes de pensar sobre aquilo por algum tempo; precisava de um certo espaço pra colocar as idéias em ordem e, aí sim, reagir.

Quando seus pais anunciaram a mudança pro Rio de Janeiro, Rafaella tentou não reagir equivocadamente, mas foi quase impossivel não derrubar algumas lágrimas. Se fosse de sua escolha ela provavelmente não decidiria sair de Goiânia assim tão cedo, ou subitamente, ainda mais no meio do ensino médio; logo agora que ela começaria o terceiro ano. Sua mãe explicou dezenas de vezes que era um mal necessario, até porque seu pai nunca tinha tido uma oferta de emprego tão boa. Quando era pequena já tinha saído da cidadezinha em Minas Gerais onde morou pra se estabelecer em Goiânia, e agora mais uma mudança.

"Eu não sei, mãe, tô preocupada, e se ninguém gostar de mim? Eu vou ser a completa estranha em uma turma onde todo mundo se conhece há anos."

Rafaella estava preocupada com o primeiro dia de aula. Se colocava no lugar das outras pessoas, do seus colegas em Goiânia, e tinha certeza que seria muito dificil enturmar uma aluna nova no ultimo ano se já fosse 'veterana'. Ela era tão próxima de todas aquelas pessoas que é quase como se não tivesse espaço pra mais alguém; e por bem ou mal, sabia que os cariocas da sua escola nova pensariam o mesmo. Normal.

-Vai dar tudo certo, filha! Eu duvido você não voltar pra casa com pelo menos uma amiga... E outra coisa, você é linda, pelo menos os meninos vão se interessar.

A mineira suspirou olhando sua imagem no espelho. Pelo menos não precisava mais usar aquele uniforme sem graça da escola antiga e podia ficar livre pra usar qualquer coisa. A fala de sua mãe também a lembrava da festa de despedida que seus amigos tinham feito pra si, onde ela, por acaso, beijou uma amiga. Não foi nada demais, mas aquilo ainda martelava um pouco em sua cabeça de vez em quando.

"Ta bom, mãe. Se der tudo errado eu ligo p'rocê ir me buscar"

"Combinado, meu amor"

Mesmo depois de um leve incentivo de sua mãe, Rafa ainda não queria enfrentar o primeiro dia de aula.

Sua escola nova tinha um horário de chegada diferente no primeiro dia. Os alunos novos passavam por uma orientação antes dos alunos mais antigos chegarem; isso era bom, de certa forma, conheceria mais pessoas que estavam no mesmo barco que ela. Mas logo ela se lembrou que as chances de alguém ter mudado de colégio no terceiro ano eram baixissimas.

O frio na barriga e nervosismo que a menina sentia só passaram quando ela se sentou no auditório esperando a primeira sessão começar. A area reservada pros alunos do terceiro ano ainda estava vazia, só ela estava ali, e nada contente.

End Game  |||  RABIAWhere stories live. Discover now