26. Libertação

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Dezembro, 2018

Eu acredito que nenhum sentimento é melhor do que o da libertação. É uma delicia quando nos libertamos de algo que nos prende e podemos, finalmente, virar a página, começar de novo e reescrever a nossa história. No mundo existem diversas histórias de libertação, e eu tenho certeza que você consegue pensar em muitas que são quase óbvias: abolição da escravidão, fim das colônias, independência. É, libertação é definitivamente ligado a independência. E ser independente também é uma delicia.

Só que nem sempre a libertação vem pro bem, as vezes a independência de alguém te machuca de certa forma, nas palavras e no jeito como ela acontece. É fácil, muito fácil, achar problema na libertação dos outros, ainda mais quando não conseguimos nos libertar.

Bianca decidiu arriscar sua liberdade e aceitar o convite de Mariana pra passar a virada do ano com elas no Rio de Janeiro. Não ia mentir e dizer que não estava confusa com aquele convite; tudo na vida de Bianca parecia confusão. Entendia que Mari e Ivy tentavam ao máximo não se afastar dela, se dedicavam demais pra não perder contato, mas era extremamente difícil. Depois de todos os acontecimentos, e a culpa que a empresária carregava, se tornava cada vez mais complicado fingir que nada aconteceu. Aos poucos conseguia admitir à si mesma que estava triste e arrependida de todos os seus atos. Teve uma amostra daquele sentimento quando Marcela a expulsou da formatura de Rafaella, e depois da traição com Barbara ela se sentiu ainda mais arrependida.

A caminho da festa da virada, Bianca ainda tentava compreender porque foi convidada. Tinha tido uma clara discussão com Marcela na formatura de Rafaella há três anos, há três meses atrás a própria Rafa descobriu que as duas tinham transado quando Bianca namorava. Sim, ela e Barbara estavam juntas mas quando percebeu a merda que estava fazendo, a carioca terminou tudo. Do que adiantava ficar com ela se a qualquer momento que outra mulher aparecia, a empresária esquecia da mesma.

A carioca até tentou falar com Rafaella por mensagem, mas assumiu que seu numero tinha sido bloqueado, coisa que, de certa forma, ela merecia. Não recebia nenhuma mensagem, nem ligação retornando, e muito menos podia ver o que a morena postava nas redes sociais; tinha sido bloqueada, também.

A lista de culpas e arrependimentos de Bianca crescia cada vez mais, se pudesse voltar atrás certamente faria tudo diferente, mas como todas as outras vezes, na hora H, ela escolhia o caminho errado.

"Dona boca rosa, que prazer." Disse um dos guardas em frente a porta que dava entrada a uma das boates mais famosas do Rio.

"Oi, tudo bom? Feliz ano novo, viu?" Respondeu com um sorriso amarelo logo adentrando a festa. Viu que o lugar estava lotado e suspirou, Flay devia estar ali com ela, mas a carioca não tinha coragem de apresentar a melhor amiga às outras amigas, não ainda.

O negócio é que Flay representava a vida atual de Bianca, que era ótima, no quesito trabalho, queria que todas as suas amizades fossem como ela e Miguel; divertidos, engraçados, bons conselheiros, e acima de tudo, estavam sempre dispostos a enfrentar tudo com Bianca, até seus próprios erros. E o lado 'Bianca' do Rio ainda era imaturo, era a mesma menininha de 17 anos que saiu do Rio de Janeiro meio fugida. Queria que a Bia de São Paulo também estivesse presente em sua cidade natal, mas era cada vez mais difícil.

Se questionava se talvez estivesse se perdendo em suas próprias personalidades. Criou a Jenifer como uma forma de explicar todos os seus atos falhos quando bebada; criou a Eva pra usar aplicativos de namoro; praticamente criou a boca rosa pra justificar o possível afastamento da familia. Qual outra personalidade ela teria que criar pra contar essa história?

De longe viu Ivy e Mariana dançando perto de uma mesa; não perdeu tempo e foi até lá. "Oi, meninas!" Se fez notada arrancando um sorriso largo das duas. "Mari, te mandei mensagem mas tu não me respondeu." Falou abraçando a menina mais alta.

End Game  |||  RABIADonde viven las historias. Descúbrelo ahora