27. Linearidade

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Novembro, 2020.

Linearidade. A palavra desse capítulo não diz respeito as personagens principais, Bianca e Rafaella, nem os secundários, como Manoela, Marcela, Mari, Ivy, Flay. Não, não tem nada a ver com elas. A palavra desse capítulo diz respeito a mim mesma, narradora onipresente dessa história. Fui e voltei diversas vezes, relatando, da melhor maneira possível, a história dos encontros e desencontros das duas garotas que se conheceram no colégio. É uma história bonita? Depende do ponto de vista. É bem contada? Me digam vocês. É tendenciosa pra um lado? Você sabe que não.

Em alguns momentos pode ter parecido que eu sempre dava preferencia a Bianca, que eu narrava apenas do ponto de vista dela. Chegaram até a cogitar que eu sou a Jenifer, alter ego criado pela empresária. Afirmo que eu posso estar doida, mas não, eu não sou a Bianca ou qualquer um dos seus alter egos. A questão é que entender, ou pelo menos ver, o que a carioca sente é extremamente mais fácil do que narrar o que passa pela cabeça da mineira. Rafaella é absurdamente complexa em todas as suas falas e jeitos, é praticamente impossível deduzir o que ela sente sem que ela fale sobre isso; e por isso, só por isso, decidi dar mais foco ao turbilhão de emoções que Bianca é.

Enfim, me passei aqui né? É muito mais fácil falar de nós mesmos do que dos outros. De agora em diante sem mais flashbacks ou voltas no tempo; já deu pra entender o que Bianca fez né? E como Rafaella reagiu... Daqui pra frente a vida das duas será linear, mas apenas na forma como ela é contada, porque o conteúdo em si é cheio de curvas e ruas sem saídas.

Olha, tem algumas coisas que vocês precisam saber. Uma delas é o tempo de terapia que Rafaella fez no inicio desse ano, 2020. Por cinco meses se 'tratou' com a ajuda de Lisa, uma psicologa extremamente gentil que não só a escutou, mas também a fez entender que o passado era passado, e teria que lidar com ele. Com o passar do tempo, Rafa fortificava suas muralhas e construía aquilo que suas amigas passaram a chamar de 'blindagem'. Não descia do salto por pouca coisa e também fazia de tudo pra manter a sanidade até nos piores momentos.

Ver Rafaella discutindo com alguém era extremamente raro, e isso tudo vinha da sua re-aprendizagem a lidar com suas reações; era muito boa nisso até 2011, quando conheceu Bianca e tudo se tornou explosão. Tudo era movido por suas impulsividades, e não pela razão; tudo era reação e não intuição. Agora, Rafa tinha voltado ao comum, ao normal, e gostava de se sentir assim.

Agora ela também namora com Leo, engataram em um relacionamento um pouco depois do seu ultimo encontro com a empresária, e estavam felizes. Leo era realmente legal, fazia o tipo de Rafaella, e também não era muito grudento; eles tinham seus dias de tranquilidade. Só que recentemente um assunto sobre filhos tinha começado, coisa que deixava Rafa um pouco insegura, mas não entendia completamente porque; Leo seria um bom pai, definitivamente.

A esse ponto vocês provavelmente sabem mais sobre os acontecimentos da vida de Rafaella do que ela própria; e por isso Marcela e Manoela estavam sentadas à sua frente agora, prontas pra explicar um 'mal-entendido'.

"Pode falar, Ma." Rafaella pediu gentil fitando a médica, que a olhava aprensiva.

"Olha, tudo que eu fiz foi pra proteger a gente tá?" Falou arrancando um olhar repreensivo de Manoela. "A Bia ela..." Suspirou. "Ela foi na tua formatura, eu mandei ela embora." Admitiu soltando o ar logo em seguida. "Ufa! Agora tô mais tranquila." Confessou recebendo outro olhar severo de Manu.

"Porque?"

"Porque ela te faz mal, Rafa, qual é!" Manu defendeu a médica. "Ia estragar tudo se ela ficasse com você na sua formatura." Se explicou.

"E se eu quisesse ficar com ela? Passou pela cabeça de vocês os meus desejos?" Questionou mantendo o tom calmo. Definitivamente surtaria se tivesse essa conversa há alguns meses atrás.

End Game  |||  RABIAOnde histórias criam vida. Descubra agora