Camera

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Dois Dias Depois

   —Isso foi uma ideia horrível. – Sizhui repetiu pelo que parecia ser a milésima vez desde que chegaram naquela cidade fantasma.

   —Foi uma ideia ótima. – JingYi contrariou, andando animadamente pelas ruas que pareciam fazer parte do cenário de um filme pós apocalíptico. Seus olhos corriam por casa extremidade do lugar, brilhantes e curiosos demais para deixarem-se abater pela imagem do desastre.

   Sizhui, por outro lado, estava se sentindo sufocado desde que chegaram e passaram a explorar o que um dia foi uma bela cidadezinha universitária. Inicialmente achou que se tratava da energia pesada que o lugar exalava, porém logo se lembrou do real motivo de ter demorado tanto para aceitar acompanhar JingYi. Seu pai quase morreu ali. 

   —Sizhui, olha! – JingYi gritou, apontando para o que parecia ser o jardim de uma casa simples. O que chamou sua atenção foi o fato de o jardim estar cheio de flores selvagens, finalmente dando um pouco de cor à cidade que parecia completamente cinzenta.

   Sizhui sorriu, observando o amigo correr até as flores. Seus olhos desceram para um objeto escondido em meio a grama alta e, antes que pudesse alertá-lo, JingYi tropeçou, soltando um grito esganiçado ao atingir o chão.

   —JingYi! Você 'tá bem?

   —Estou... – Resmungou fazendo careta enquanto Sizhui o ajudava a levantar. – O que foi isso que me atropelou?

   —Ninguém te atropelou. – Sizhui apontou para a caixinha de metal que havia voado um pouco para longe por conta da colisão. – Você atropelou aquilo.

   —Hum... – JingYi apressou-se em pegar a caixa e se virou para o amigo. – O que será que tem aqui? 

   Sizhui deu de ombros, enquanto assistia ao outro procurar uma forma de abrir o objeto. Após alguns minutos de resmungos e tentativas falhas, a caixinha finalmente se abriu com um estalo e uma pequena bolsa preta caiu na grama. JingYi rapidamente a agarrou novamente, seus olhos brilhavam de curiosidade. 

   —Uma câmera! – Exclamou, prendendo a alça da bolsa em um dos ombros enquanto analisava o objeto. – Parece intacta. Será que ainda funciona? 

   Sizhui soltou um suspiro cansado.

   —Me deixa ver. – Após algum tempo ele estendeu a câmera de volta para o amigo. – Está sem bateria. 

   —Devemos levar com a gente?

   —Levar, carregar e, se possível, procurar os donos. – JingYi fez uma careta. – Não é nossa. Só vamos ficar com ela se não acharmos os donos.

   —Eu sei, eu sei... 

   JingYi abriu a mochila e guardou a câmera, a bolsa e a caixa lá dentro. Os dois voltaram a explorar a cidade, tomando cuidado com onde entravam para garantir que não se machucassem. Já era noite quando voltaram para o hotel e Sizhui colocou a câmera para carregar.

   —Vou comprar alguma coisa para a gente comer. – JingYi avisou, após sair do banho vestido para sair e não com o habitual pijama. – O que você quer? 

   —O mesmo que você.

   Sozinho, Sizhui tomou um banho rápido e mandou mensagem para WangJi antes de começar a analisar a bolsa onde a câmera estava guardada. Felizmente havia um carregador e um cabo lá dentro, agora, como eles ainda funcionavam Sizhui não sabia. Também havia um cartão com um nome.

   —Wei Ying... – Ao se lembrar de onde conhecia o nome, Sizhui arregalou os olhos e correu até a cama, onde havia deixado a câmera carregando. – Quais as probabilidades...

   Após apertar alguns botões, a última foto que o dono da câmera tirou apareceu. Era WangJi mexendo em um Mac enquanto mantinha uma expressão preocupada e mordia a ponta do dedo. Sizhui sentiu seu coração pular uma batida. Aquela câmera realmente pertencia ao homem que seu pai chamava sempre que tinha crises. 

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