Tattoos Together - [RamKing]

Capítulo 1

P.O.V. King

Ram [12:34]: Eu não estava bêbado.

Merda. Merda, merda, merda. Merda. Quer dizer que...? MERDA. Ele lembra. O que isso significa? Por que mentiu pra mim?
Talvez ele quisesse fingir que nada tivesse acontecido. Eu agi por impulso... fui um idiota em acreditar que isso poderia dar certo. Não vou me surpreender se ele nunca mais quiser olhar na minha cara.
Mas... se ele quisesse esquecer, por que desmentiu? Por que não me deixou acreditar que tinha sido tudo efeito da bebida e que não se lembrava de um detalhe sequer sobre a noite anterior? Seria mais fácil esquecer... esquecer que perdi o controle, que me entreguei aos seus lábios e joguei na cara a tortura que era não poder fazer aquilo todos os dias. Por um momento, eu realmente desejei que ele esquecesse.
Mas ele me beijou de volta. Ele segurou o meu rosto e me beijou de novo, e de novo. E ele lembrava. Ele lembrava do que pra mim teria sido impossível esquecer, e quis que eu soubesse. Eu não entendia. Talvez você esteja errado sobre mim... de vez em quando eu não te entendo, Ram.

Fui para a casa da minha avó, como planejado. Fiz companhia pra ela, cuidei das plantas, comi até não aguentar mais e fiz de tudo pra parar de pensar no que poderia acontecer quando eu voltasse pra casa. Não apenas temi a inevitável conversa que acabaria tendo com Ram, ou uma possível rejeição de sua parte... mas temia ainda mais abrir a porta e encontrar o apartamento vazio. Sem Cool Boy, sem as poucas coisas que trouxe quando fugiu de casa e até mesmo sem aqueles cachorros assustadores.
As horas iam passando e eu me dividia cada vez mais entre dormir na casa da minha avó e evitar a situação o máximo possível ou voltar pra casa e enfrentar tudo de uma vez. Eu já estava quase decidindo ficar quando meu celular vibrou em meu bolso.

Ram [18:50]: Está bravo comigo?

Eu não tinha respondido sua primeira mensagem. Simplesmente não soube o que responder. Mas não, eu não estava bravo... não conseguia estar.

Ram [18:50]: Resolvi fazer um jantar especial hoje... você vem comer aqui?

Ele também não parecia bravo ou estranho com a situação. Talvez estivesse com dó. Abandonei meu plano de fuga e resolvi enfrentar de uma vez. Qualquer certeza, até mesmo a da rejeição, seria melhor que a dúvida sobre seus sentimentos por mim. A dúvida me matava por dentro, e já havia me matado o suficiente.

King [18:52]: Não estou bravo
King [18:52]: Estou saindo daqui agora

Peguei minhas coisas, me despedi da minha avó e voltei de bicicleta para casa. Deve ter sido coisa da minha cabeça, mas juro ter visto aquelas três meninas estranhas de novo quando passei perto do parque. Elas pareciam certas de que eu e Ram éramos um casal, e estavam sempre surtando como a minha irmã. Por muito tempo eu achei loucura. Até mesmo quando comecei a sentir... coisas... pelo Cool
Boy, nunca pensei que algo de fato pudesse acontecer entre nós. Mas aquele beijo aconteceu... e agora eu estava a poucos metros do que poderia ser uma decepção tremenda... ou um sonho de garotas adolescentes e uma irmã maluca realizado. Meu Buda, onde eu vim parar?

     Quando cheguei na porta do apartamento ainda tive que parar por um momento e respirar fundo. A chave quase tremia em minhas mãos. Antes mesmo que eu a encaixasse na fechadura a porta se abriu por dentro, me dando um leve susto. Lá estava meu junior, parado na entrada.
     - P'King... - Ram me olhou nos olhos, com aquela carinha de cachorrinho perdido (eu normalmente tinha medo demais de cachorros para achá-los fofos... mas não era a mesma coisa com Ram. Ele sempre passava um bom tempo cuidando de seus amigos cães, e não consegui não associá-lo com eles. Meu medo permanecia... mas cães já não me pareciam tão ruins assim). Ele parecia preocupado. Tentei agir normalmente, por mais que um lado meu quisesse sair correndo e o outro se jogar nos braços do Cool Boy.
     - Que susto...como soube que eu estava aqui? - Perguntei, entrando com uma certa pressa para evitar seu olhar, e fui em direção ao quarto para colocar minhas coisas.
     - Eu estava esperando você... - paralisei, surpreso com a resposta. Na verdade, eu nem sequer esperava que ele de fato respondesse. Ram não era um cara de muitas palavras, e isso não era surpresa pra ninguém. Me acostumei com seus acenos e silêncios, e aprendi a apreciar suas raras palavras quando as ouvia, porque costumavam ser significativas. Ele nunca abria a boca para falar coisas tolas, e eu gostava muito disso nele.
     Respirei fundo mais uma vez. Taquei minha mochila no canto do quarto e ajeitei meus cabelos, sem coragem de me virar  e encará-lo novamente. Eu sabia que ele estava ali, bem atrás de mim.
     - Você se lembra... - soltei as palavras de uma vez. Elas me sufocariam se eu não as soltasse.
     Silêncio. Engoli em seco, ainda encarando a parede. Ouvi os passos do garoto se aproximando, até sentir sua mão no meu ombro. Ele me virou em sua direção, me encarando mais uma vez com seus olhos de semblante triste. Quando eu menos esperava, Ram me tomou em seus braços com um abraço apertado.