Capítulo 10

3K 324 79
                                    

P.O.V. King

A semana se passou mais ou menos assim... dias ocupados, de muito estudo, principalmente da parte de Ram. Foi um tanto engraçado vê-lo garantindo que a gola da camisa estava alta o suficiente para esconder as marcas que acabei deixando no início da semana, mas dava pra ver seu sorriso tímido quando me via obsevando-o.
Continuei ajudando-o a se preparar para algumas das provas, e ele parecia estar indo bem. De vez em quando chegava em casa confiante, dizendo que tinha ido tão bem que merecia um prêmio. Eu o respondia com "Boa tentativa", e ele fazia uma carinha emburrada difícil de resistir; mas eu precisava manter minha palavra de só lhe dar prêmios quando eu tivesse certeza que tinha ido bem de verdade. Os resultados só sairiam na semana seguinte, então ele teria que se contentar com meus simples beijos e abraços até lá.

Era sexta-feira, e tínhamos combinado de sair depois da aula para tomar sorvete e comemorar o fim da semana de provas. Finalmente teríamos tempo para nós de verdade. Admito que estava ansioso. Terminei as atividades e provas do dia bem rápido, mesmo sabendo que isso não faria a hora chegar logo. É uma mania minha, adiantar tudo. Talvez eu devesse aprender a fazer as coisas com mais calma.

Assim que minha aula acabou, quase que corri para a frente da faculdade, onde tínhamos marcado de nos encontrarmos. Pude ver Ram de costas de longe mas, eu devia estar distraído demais, porque apenas quando me aproximei percebi que...ele não estava sozinho.

P.O.V. Ram

Minha aula de extendeu por um tempo por conta da prova mas, ainda depois de seu fim, tive que esperar um pouco pelo término da última aula de King.
Me sentei em um banco na entrada da faculdade, olhando em volta em busca de algo para me distrair, mas não muito tempo depois pude ver um carro bem familiar estacionando na rua. Um carro que eu, sinceramente, não gostaria de ver nunca mais.
Meu pai saiu apressado, parecendo surpreso ao me ver logo na frente da escola. Talvez estivesse aliviado por não precisar me procurar, ou por eu ainda não ter ido embora. Bom, assim que o vi me levantei e virei as costas, quase como um instinto, querendo fugir de suas palavras vazias. Infelizmente, ele me alcançou a tempo, e não soltava meu braço de jeito nenhum.
- Ram... por favor, me escuta. Eu vim até aqui pra falar com você. Você não atende o telefone - é claro que não. O que ele esperava que eu fizesse? - Por favor, me deixe ao menos dizer o que vou fazer.
A raiva e a decepção dentro de mim ainda eram tão fortes que eu poderia ter perdido a cabeça; mas meu celular apitou com uma notificação antes que eu pudesse fazer qualquer coisa. Chequei a mensagem imediatamente, ainda tentando fugir dos olhares do meu pai.

King: Uma hora ou outra vocês vão ter que conversar. Não dá pra fugir pra sempre.

Como ele sabia? Estava nos vendo? Olhei pra trás e o vi, um tanto escondido atrás de um pilar. Quando meu olhar encontrou o seu, King deu um leve sorriso e acenou com a cabeça, como se incentivasse que eu tentasse resolver as coisas e me transmitisse um pouco de coragem. Voltei a olhar para o meu pai, e finalmente o encarei. Ele parecia... triste? Sentei no banco, indicando que o escutaria, mas sem tolerância para mentiras ou enrolações, e ele finalmente largou meu braço.
- Eu falei com a sua mãe - ele suspirou, encarando o chão. Foi quando eu percebi que ele temia aquela conversa tanto quanto eu, mas sabia que me devia uma explicação - Eu errei, e errei feio. Estraguei tudo, eu sei. Machuquei sua mãe, e ainda perdi você como consequência. Eu vou entender se me odiar. Mas eu quero que saiba que conversei com ela e confessei meus erros. Terminei o que nunca deveria ter começado e esclareci tudo.
- O que a mamãe disse? - Mamãe. Fazia muito tempo que eu não a chamava assim. Era como se, naquele momento, eu tivesse voltado a ser um garoto pequeno. Isso me dava um certo medo.
- Ela ficou mal. Muito mal. Não sei se as coisas vão voltar a ser as mesmas. Resolvi dar a ela um tempo. A todos vocês. Estou indo viajar, passar um tempo longe pra pensar também. Eu só... precisava falar com você, e pedir desculpas, por mais que possa não merecer o seu perdão. Você deveria ir ver sua mãe quando puder. Ela sente sua falta. Precisa de você e do apoio que eu não fui capaz de dar.
Fiquei quieto. Eu não tinha nada a dizer que valesse a pena ser dito. Meu pai me observou por alguns segundos, esperando uma resposta mesmo sabendo que eu não diria nada. Depois de um tempo ele apenas se despediu, entrou no carro e partiu, carregando o peso do meu silêncio.

King se aproximou assim que o carro virou a esquina. Ao vê-lo sentar ao meu lado tudo que pude fazer foi me entregar aos seus braços. Ele não perguntou nada. Apenas senti sua mão acariciando meu cabelo, como costumava fazer ao me consolar, e eu não podia estar mais agradecido por tê-lo ali, sabendo exatamente o que fazer pra que eu me sentisse melhor.
- Ele falou com a minha mãe, e está indo viajar pra dar um tempo pra gente. Ele disse que minha mãe precisa de mim - Falei baixinho, tentando segurar as lágrimas. Eu realmente me sentia um garotinho.
- Está tudo bem. Você deveria ir visitá-la hoje e passar um tempo com ela. Pelo menos o final de semana. Talvez assim vocês possam se ajudar - King respondeu, com a voz tranquila. Eu não sabia como seus toques e carícias podiam me acalmar tanto - Seu irmão também ficará feliz em tê-lo por perto.
- Mas... e o nosso encontro? Tínhamos planejado de ficar o final de semana juntos...
- Tudo bem. Teremos muitos outros finais de semana pela frente. Isso é mais importante agora. Sua família precisa de você, e eu sei que você precisa deles também - separei um pouco o abraço para observá-lo. Ele olhou em meus olhos e sorriu. Pude sentir em seu olhar seu pedido de "Cool Boy! Sorria!" e me esforcei para lhe dar um leve sorriso - Posso te levar lá agora se quiser.
- Mas... eu preciso ir buscar os cachorros.
- Não se preocupe... - King pareceu hesitar - Eu cuido deles.
- Mas...
- Eu sei. Mas eu quero levantar a bandeira branca da paz e me dar bem com eles. Eu quero poder fazer isso por você.
- Você tem certeza? - Eu quase não podia acreditar no que estava ouvindo. Os cachorros não o machucariam, isso era certeza, mas King costumava temer só de pensar nos bichinhos.
- Tenho - ele pareceu mais confiante - Vai dar tudo certo, eu prometo.
- Qualquer coisa me liga e eu vou correndo te socorrer - ri baixinho, imaginando a situação.
- Não vai ser necessário. Pode ficar tranquilo - ele sorriu e me abraçou mais uma vez.

P.O.V. King

Levei Ram até sua casa de bicicleta. Era uma casa enorme e bem chique, mas nem ousei comentar nada devido à situação. Meu júnior desceu e me olhou uma última vez antes de entrar em casa.
- Tem certeza que vai ficar bem com os cachorros? - ele perguntou, ainda duvidando da minha proposta. Não o culpo. Eu mesmo estava me cagando de medo, mas não deixaria isso transparecer.
- Absoluta - falei, atuando a máxima confiança que eu conseguia. A minha sorte era ser um bom ator - Boa sorte com a sua mãe...
- Obrigado - ele respirou fundo e se aproximou, me roubando um selinho - me manda mensagem quando chegar.
- O-ok... - droga, por que eu gaguejei? Será que eu nunca vou me acostumar com esses beijos?
Parti para casa assim que o vi fechando a porta. Durante o caminho, meu pânico ia crescendo. Eu ia mesmo passar o final de semana com aquelas criaturas peludas de dentes afiados.
Meu Buda.... o que eu não faço por esse garoto?

Tattoos Together - [RamKing]Onde histórias criam vida. Descubra agora