Capítulo 9

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P.O.V. King

     Após tê-lo ajudado a estudar por algumas horas, Cool Boy quis me pagar um jantar. Resolvemos ir no mesmo restaurante que tínhamos comido da última vez. Era um tanto nostálgico, e aposto que se contássemos para os RamKing - foi assim que Boss resolveu nos chamar. Ele disse que era "o nome do shipp". Não entendo muito dessas coisas, mas resolvi aderir - do passado que hoje estávamos juntos, aposto que nenhum dos dois acreditaria. Ram nem sequer olhava na minha cara direito na época.
     Sentamos em uma mesa mais reservada, onde uma das garçonetes veio para anotar nossos pedidos. Não era a mesma que havia nos atendido da primeira vez, mas pude perceber os mesmos olhares excessivos na direção de Ram. Uma estranha faísca de inquietação surgiu dentro de mim, e não consigo me lembrar de nenhuma outra vez em que tenha me sentido assim.
     - E agora? Qual o meu nível de solidão? - meu júnior perguntou assim que a moça se distanciou.
     - Hm? - Por um momento, pensei que estivesse se referindo aos olhares obviamente interessados da garçonete, e a faísca cresceu.
     - Da última vez em que viemos você falou  sobre uma escala de solidão. Disse que eu estava em um nível bem alto. Mas... agora eu melhorei um pouco, certo? Em que nível você acha que eu estou? - um certo alívio tomou conta de mim, e tentei ignorar a paranóia que tinha acabado de ter. Eu não deveria pensar assim, certo?
     - Bom... você não está mais comendo sozinho... então está abaixo do nível 75. Você não precisa mais assistir filmes ou fazer compras sozinho a não ser que queira. Você tem a mim agora, então está abaixo do nível 35.
     Ram sorriu, me fazendo abaixar o olhar, tímido. Eu ainda não havia me acostumado a vê-lo sorrindo daquele jeito. Era algo novo... algo maravilhoso. Mas eu ainda não conseguia descrever a sensação radiante que me invadia quando ele sorria pra mim.
     - Gosto do nível que estou agora - ele disse, ainda sorrindo.

     A garçonete não demorou para voltar com nossos pedidos, e com eles deixou um bilhetinho com seu LineID ao lado do prato de Ram, indo embora só depois de fazer questão de dar uma piscadinha pra ele. A faísca dentro de mim agora parecia um incêndio. Estavam dando em cima do meu namorado na minha frente, mas eu nunca pensei que me sentiria tão... AAAAAAAAAA. Não soube nem como reagir. Não tive coragem de falar nada. Apenas encarei o meu prato e comecei a comer, ainda tentando entender como eu podia estar sentindo tanto... ciúmes?
     Ram chamou a garçonete de volta. MEU BUDA, O QUE ELE VAI FAZER? Eu o observava com o canto do olho, tentando disfarçar, quando ele entregou o bilhete de volta para a garçonete, que reagiu com uma expressão confusa.
     - Desculpa, eu tenho namorado - meu coração deu um salto quando ouvi o que no fundo mais queria ouvir. Respirei fundo, ainda encarando a comida, mas um tanto aliviado. A moça se afastou. Por um momento eu quis muito ter visto a cara dela, e me senti um tanto cruel. O que estava acontecendo comigo? - P'King? - não respondi. Eu sei que não tinha motivos para ficar bravo com ele, mas ainda estava um pouco em choque, sem saber como lidar com o que havia me consumido - Amor?...
     Levantei a cabeça imediatamente. Ele tinha me chamado de "amor"? Ainda demorei alguns segundos pra processar a informação. Primeiro ele se declara pra mim, depois se declara na frente dos nossos amigos, depois ainda me chama assim. Esse era mesmo o Ram? Será que abduziram ele e colocaram outro pra substituir? Não era possível.
     - Você estava certo sobre eu precisar ser mais educado dando fora nas pessoas - ele disse, começando a comer logo em seguida.
     - Eu... é... - merda, o que eu poderia dizer? - Tem tido notícias do seu irmão? - a saída que encontrei foi mudar completamente de assunto. Conversamos um pouco enquanto comíamos, e em pouco tempo eu já me sentia mais... normal.

     Ao saírmos do restaurante, voltamos para casa em minha bicicleta. Estávamos os dois bem cansados, principalmente Ram, mas ele ainda fez questão de ir dar atenção para os cachorros assim que chegamos no apartamento. Enquanto isso, reguei todas as plantas e fui tomar meu banho.

P.O.V. Ram

     Meus pequenos amigos pareciam empolgados em me ver. Empolgados até demais. Me abaixei para acariciá-los, mas os danados pularam em mim e encheram minha camisa de pelos. King teria achado engraçado, se visse de longe.
     Eu poderia passar algumas horas falando de King para os cachorros. Algumas pessoas dizem que eles não entendem nada, mas eu duvido bastante disso. Quando eles me olham, eu posso jurar que sabem como me sinto imediatamente. Ultimamente eu estava feliz, e eles reagiam a isso pulando alegremente e me enchendo de pelos e lambidas. Eu estava feliz de verdade.
     Eu me sentia diferente. De repente, haviam muitas palavras significantes a serem ditas, muitos bons motivos pra sorrir, e o desejo de companhia... de uma pessoa que, por incrível que pareça, andava sobre duas pernas e não quatro patas.
     Desci um pouco com os cachorros, já que não tinham passeado o dia inteiro, mas admito que quase não me restavam energias para andar.
     Quando voltei, encontrei King saindo do banho. Não apenas me lembrei do estranho momento em que o vi sem camisa de manhã, mas também do dia em que tivemos que tomar banho juntos por causa de um atraso tremendo. Nós não namorávamos ou tínhamos nada na época, mas eu já sentia coisas por ele. Não me atrevi a olhá-lo quando aconteceu... não pude me arriscar. É estranho admitir... mas eu gostaria que acontecesse de novo. Talvez eu pudesse me arriscar dessa vez... RAM, NO QUE VOCÊ ESTÁ PENSANDO? Só para e vai tomar seu banho. Sozinho. Nada de imaginar coisas.

     Só fui perceber que esqueci de pegar a camisa do pijama quando já estava me vestindo. Droga. Apenas me sequei e vesti o que tinha. Ao sair do banheiro, vejo King na cama, lendo um livro. Ele me olha ao ouvir o barulho da porta e congela.
     - Esqueci a camisa... - digo baixinho, sentindo que talvez devesse me explicar.
     - T-tudo bem... - King pareceu tentar voltar a se concentrar no livro - Pode ficar assim se quiser... - ele disse baixinho.
     - Hm? - quis ter certeza se tinha mesmo ouvido certo.
     - Eu disse que pode ficar assim se quiser... está calor e... eu não vejo problema - pude ver seu olhar se desviando do livro em minha direção algumas vezes. Ele parecia um tanto inquieto. Percebi seu desconforto durante o jantar, e vê-lo inquieto me fazia querer entender o que andava se passando em sua cabeça.
     - P' King... - me sentei perto de suas pernas, em seu lado da cama - O que foi?
     - N-nada... - ele continuou evitando me encarar.
     - Fala... por favor... - insisti. Eu nunca havia insistido para alguém se abrir comido. Melhor que ninguém, eu entendia como era querer guardar sentimentos. Mas King sempre esteve ali para me ouvir e me ajudar, e eu queria poder ser a pessoa para quem ele pudesse falar tudo também.
     - Eu... - King fechou o livro e finalmente me olhou - É só que... tem bastante coisa na minha cabeça. Muitas coisas boas... mas um tanto difíceis de processar. E também algumas coisas que eu não entendo ou que me deixam desconfortável - ele fez uma pausa. Manti meu silêncio, sem tirar meus olhos dos dele, demonstrando que estava escutando - Eu... senti ciúmes. Morri de ciúmes quando aquela moça deu em cima de você hoje - e lá estava meu coração agindo estranho... de novo. Saber que ele sentia ciúmes de mim me trazia uma sensação difícil de explicar. Devo me sentir culpado por me sentir bem? - Eu sei que você a rejeitou e devolveu o número, mas eu nunca tinha me sentido assim antes. Foi apenas... estranho.
     - A última coisa com a qual você deveria se preocupar são com outras pessoas... - busquei por sua mão, acariciando-a de leve - Nenhuma outra pessoa foi ou é capaz de me fazer sentir tão feliz e confortável como você - o puxei para um abraço, lembrando-me que ainda estava sem camisa apenas quando senti seu contato contra minha pele nua.
     Senti suas mãos quentes acariciando minhas costas. Quando eu menos esperava, King deu um leve beijo na tatuagem em meu pescoço, fazendo os pelos na minha nuca se arrepiarem. O olhei, com o coração à mil, e pude ver um leve sorriso em seu rosto.
     - Considere esse como o prêmio que eu estava te devendo... - ele falou baixinho em meu ouvido, me puxando para deitar.
     Naquela noite, beijos se espalharam por todas as minhas tatuagens. Marcas foram deixadas. Adormeci com meu namorado deitado em meu peito, e eu não poderia ter dormido melhor.

Tattoos Together - [RamKing]Where stories live. Discover now