Supergirl In Training

A ɪɴsᴜᴘᴏʀᴛᴀ́ᴠᴇʟ ʟᴇᴠᴇᴢᴀ ᴅᴇ sᴇʀ ᴘᴛ. ₁

━ Oi, mãe.

Há algo que aperta o peito de Kara quando o Kryptoniano escapa da boca de Lori como seda, sem sotaque, perfeito nas inflexões que ela não ouvia desde o último adeus da própria mãe - e de repente, o momento inteiro se transforma em um conjunto de lar longe de casa. O sol poente brilha no tom vermelho da saudade de casa, fluindo para o apartamento de Lena através da parede de vidro de dois andares e traz os fantasmas de uma manhã na cidade de Argo, brincando nas bordas de sua mente.

Lori, alguns centímetros mais alta que Lena, com o mesmo rosto e o mesmo sorriso, mas com os olhos de Kara, com a linguagem de Kara, beijando o lado da cabeça de Lena antes de sair com um olhar afeiçoado - tudo é tão mundano e ainda assim existe uma lacuna  na alma de Kara, que anseia por preencher as manhãs de sua vida com esse momento, essa familiaridade. Ela sente que poderia viver aquele sentimento para sempre.

Kara é preenchida com a sensação de calor quando Lori se afasta gentilmente, porque Lena está ali, tão dolorosamente linda com as altas sombras projetadas no amplo espaço aberto. O pôr do sol traz reflexos avermelhados em seus cabelos escuros, como uma chama, abrangendo o calor das brasas em uma fogueira enfraquecida, persuadindo o raio de sol âmbar que realçam sua íris interna - os olhos de Lena são geralmente um viridiano tão vibrante cercado por um anel de azul profundo, mas agora eles lembram Kara da grama nova que espreita através de tijolos vermelhos desbotados de um antigo jardim à beira-mar.

Os olhos de Kara voam sobre sua pele pálida, do jeito que suas bochechas sempre ficam um pouco vermelhas como gotas de água de rosas em pergaminho - e o roxo que brota do corte em seu lábio.

━ Você está machucada - ela respira, correndo para a frente, com suas mãos subindo para segurá-la, examinando a ferida - ela para com as pontas dos dedos a poucos centímetros do rosto de Lena, parando com o repentino pico de seu batimento cardíaco humano. Os olhos de Lena flutuam da mão de Kara para o rosto como borboletas tímidas. Ela leva os próprios dedos aos lábios, pressionando cautelosamente antes de dobrar o queixo e desviar os olhos, e Kara pode ouvir sua respiração gaguejando no peito ao lado dos batimentos cardíacos da jovem irlandesa.

━ Eu estou bem. - A voz de Lena é sussurrada e suave no ar aveludado entre elas. Ela olha para trás e Kara não pode ajudá-la a se concentrar na maneira como seus cílios tremem tão delicadamente. ━ Não se preocupe.

As sobrancelhas de Kara se dobram.  ━ Isso dói?

Lena balança a cabeça, olhando para as mãos ainda pairando perto de seu rosto. Kara as coloca ao lado dela, hesitando um pouco, e saindo do espaço pessoal de Lena.

━ Me desculpe... Você se machucou - diz ela, sentindo a garganta se fechando. Lena une as sobrancelhas em um sorriso interrogativo, inclinando a cabeça para isso - algumas mechas de cabelo escuro caem sobre seu ombro por causa do movimento.

━ Você não tem nada para se desculpar - ela ri.  ━ Se há alguma coisa aqui, é que eu deveria me desculpar. Afinal, foi minha mãe agredindo você.

Kara franze a testa, torcendo as mãos.  ━ Você não é responsável pelas ações de sua mãe, Lena.

A maneira como seu sorriso se dobra um pouco mais com descrença benigna faz Kara querer dar um passo à frente novamente e acariciar o canto da boca de Lena. Ela não merece suportar todo esse peso - mas seu ardor toma espaço novamente e ela apenas aperta as mãos com força.

━ Então - ela começa, tentando resistir à vontade de balançar de um lado para o outro. ━ O sobrenome de Lori é...

Lena cruza um braço baixo sobre o peito e embala o outro cotovelo daquela maneira um pouco vulnerável, mudando seu peso.
━ Danvers.