I WILL NOT FORGET - [jikook]

Copo com água e autolibertação

Assim que desferiu o primeiro golpe sobre o rosto do irmão, sua vista havia se embaçado pelas lágrimas de raiva que lhe escapavam junto ao grito que soltou. Viu o irmão no chão, tentando retomar o equilíbrio e foi quando perdeu o seu. O rapaz que estava com Hoseok lhe socou a face algumas vezes, enquanto escutava uma voz pedindo para que parassem com aquilo tudo. Não queria que os lábios do irmão proferissem seu nome, mas ficou mais surpreso ainda ao escutar o de um conhecido.

— Yoongi! Para com isso! Para! - O mais velho dos Jeons suplicava vendo a gana e raiva tomando posse de seu acompanhante. Jamais havia pensado numa situação como aquela e então pensou que não apenas psicologicamente havia ferido o irmão. — Jungkook...Para, Yoongi. - O Min reconheceu o nome e ligou com o sobrenome que sabia que o Jung não gostava de usar. Qual era a chance daquele sangue em suas mãos ser do seu antigo amigo de infância e seu primeiro amor?

Estava em um lugar fofo, quentinho e virou para usufruir mais daquela maciez, até que sentiu o primeiro desconforto e então todo o resto da dor veio com uma potência enorme. Por fim abriu os olhos e por fim se lembrou de tudo que aconteceu: Hoseok estava beijando outro rapaz. Apertou as cobertas nas próprias mãos e pelo rosto se tencionar em reflexo reclamou pela dor.

Ainda era difícil processar os sentimentos. Havia entendido completamente o que era a cena e qual o protagonismo de seu irmão nela, mas não conseguia tolerar a situação porque odiava o mais velho; havia sido dito como errado, perdido pessoas ao longo do caminho e ainda sim nunca duvidou das palavras do outro. Viveu sua vida baseado na premissa de que ser realmente quem era resultaria em dor, vergonha e desgraça para si e para aqueles ao seu redor.

Nunca defendeu Namjoon e o impediu de ir embora de sua casa e de sua vida. Nunca se reencontrou com Jimin para lhe confortar e mesmo que não tenha tido tempo, nunca pensou em realmente o fazer. Teve uma vida infeliz e calcada em mentiras tão reforçadas que as vezes acreditava que eram verdades, tudo porque escutou as palavras do irmão, as tomou como lei e mesmo o odiando naquele momento, ainda acreditava nelas; Hoseok estava certo em suas palavras, ele foi um rei que desobedeceu a si mesmo.

A porta se abriu lentamente e com isso o rosto inchado e em tons de roxo surgiu em frente a si. Hoseok parecia bem e aquilo lhe consumia em puro ódio. "Porque sou eu quem está todo fudido, quando era você que merecia isso", pensou. Não sabia se levantava e gritava, se apenas fingia que nada aconteceu, se ia embora...Mas nem sabia aonde estava, primeiro imaginou ser um hotel, mas ao ver um copo com água na mão do irmão, acreditou estar em seu apartamento. Queria esquecer de tudo aquilo e pensou em como odiava a doença que tinha, mas naquele momento a ansiava com fervor.

— Como está? - Sentou na beira da cama, de costas para Jungkook. O copo ainda estava em sua mão e permaneceu por nenhuma resposta ter sido proferida. — Olha, você pode odiar tudo que viu ontem, mas não tinha o direito de fazer o que fez. Não me importo com o que você faz da sua vida, então que direito acha que tem para se intrometer na minha? - Ainda de costas e com o copo em mãos, mas dessa vez a água do recipiente levemente balançava. — Deveria agradecer que o poli... - Bruscamente foi interrompido pelo tom alterado do irmão e pela primeira vez soltou o copo.

— Agradecer? Hoseok eu passei a minha adolescência inteira me odiando porque você me fez odiar tudo que eu era. "Se você for homo vai desgraçar sua vida e a nossa.", "Que nojo!", "Seus amigos são sempre viadinhos, porque hein?". - Hoseok tentou interromper, mas se silenciou. — Eu não tive um pai, você era a figura mais próxima para eu seguir de exemplo. Você despejou em mim esse monte de merda, me fez sentir como se o melhor fosse eu nem existir, me obrigou a me afastar de quem eu gostava e me fez ser culpado de uma morte... Tudo isso e ontem eu vi você sendo feliz fazendo tudo aquilo que me disse ser errado, nojento e vergonhoso. - As lágrimas escorriam e os soluços o impediam de pronunciar o que ainda precisava colocar para fora.