O peso da culpa e do amor

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Muitos dizem que amores vem e vão, que sempre é possível superar alguém e que não há como morrer de amores, mas tudo isso se provou ao contrário para Jungkook. Havia tido alguns crushes, envolvimentos e até cogitou se relacionar com Namjoon, mas nada foi capaz de superar a enxurrada de sentimentos que o aluno transferido no primeiro ano do ensino médio lhe causou.

Jimin nunca quis se destacar, vivia amuado e mal se escutava sua voz. Parecia que o garoto não se sentia no direito de estar no mesmo ambiente que os outros e Jungkook no futuro descobriu que ele pensava assim. Foi quando viu o corpo magro dançando no vestiário, enquanto todos os outros jogavam futebol, que se encantou. Mas só quando passaram a conversar na biblioteca, na última prateleira, que se apaixonou e foi quando lágrimas escorriam pelos olhos do Park que soube que o amava. Nunca cogitou se permitir amar alguém, mão quando frequentemente escutava os comentários de ódio de seu irmão, mas então conheceu Jimin e teve a amizade de Jin como apoio, foi quando provou realmente ser feliz.

Existiam um punhado de coisas que atormentavam o Jeon caçula, mas nem por um instante seu amor pelo rapaz de lábios cheios e fios amendoados era motivo de preocupação. Na verdade, sempre que estava com o outro se sentia em paz e como se o mundo passasse a lhe sorrir; foi assim quando deram as mãos na biblioteca, quando deram o primeiro beijo cheio de receio e afoitamento quando matavam a aula de educação física e era assim sempre em que estavam próximos. Se amavam e tinham apoio de Seokjin, uma amizade linda e um futuro amor a crescer.

Dizem que primeiro surge a paixão, quando a intensidade é imensa e pouco parece muito, para tempos depois dar espaço ao amor, mais sossegado, mas extremamente vívido e afetuoso. Jungkook não conseguiu fazer tal transição com Jimin ao seu lado, lhe mexendo os fios e beijando as mãos enquanto jogavam conversa fora. Jimin se foi antes disso, mas o amor já existia e nunca deixou de habitar Jungkook. Jimin o amou e Jungkook ainda o amava.

Lembrava de como a face de Jimin perdeu o brilho quando rumores de sua escola antiga começaram a circular pela sala de aula: "Ele se declarou para um garoto.", "Soube que ele é homo, que nojo.", "Perseguiu o rapaz e teve que ser expulso"... A verdade era que havia se confessado para um rapaz, que prometeu não contar para ninguém e o recusou, mas seus amigos o viram escondido e começaram a lhe chamar de gay, foi quando culpou Jimin por o assediar frequentemente e no fim do ano os pais de ambos foram envolvidos.

Se pudesse jamais teria brigado consigo: Jimin o evitava para que não sofresse com os rumores, mas então um dia brigaram e Jungkook disse que o único culpado era o rapaz, por se afastar e deixar que tudo aquilo acontecesse. Foram dois dias sem ir a aula e quando voltou seu braço estava visivelmente roxo. Só entendeu depois que o perdeu.

Taehyung era um colega de boxe e também irmão de criação de Jimin. Fora o Kim quem avisou o que havia acontecido e contou sobre o tratamento péssimo que desde o nono ano o Park mais novo recebia. Jungkook contou sobre o envolvimento de ambos que fora recebido sem surpresa, apenas com um meneio de cabeça. Com o tempo passando Jimin voltou a falar consigo, mas também havia regredido e agia como se tivesse que ser invisível, como se o mundo não precisasse o ver interagindo e vivendo como qualquer outro. Jungkook lembra da última vez em que se viram, bem como as últimas palavras que escutou: "Eu te amo.". Nunca ouvira tal coisa do rapaz e a euforia o impediu de perceber como a ação era estranha e a face com cansaço inusual.

Recebeu a notícia na escola, no outro dia, quando em sua mochila havia um cartão enfeitado - Jimin repetidamente falava sobre as habilidades artísticas do rapaz. A ficha não caiu, participou da aula normalmente. Quando chegou em casa, olhou para o cartão que continha as mesmas palavras que escutara no dia anterior. O choro foi alto e a desculpa sincera: um amigo havia falecido. No outro dia a escola prestou homenagem e não havia um único rumor circulando pelos corredores, odiava o mundo por lhe tirar o que havia de melhor, mas se questionava como Jimin poderia ter lhe feito algo assim.

— Foi preciso tempo...Nunca vai ser o suficiente. - Em frente a lápide de Jimin, as lembranças lhe faziam aguar os olhos, mas não chorar. Havia chorado tanto na época que a dor passara a ser muda, daquelas que é mais intensa para ser notada. Nunca se esqueceu ou deixou de amar o rapaz, apenas seguiu fingindo como se nada tivesse acontecido, pois para seus conhecidos, nada havia ocorrido. — Espero que esteja me esperando do outro lado e que...Na verdade eu só espero que esteja em paz. - Sentiu uma mão repousar sobre seu ombro, era Taehyung, com o sorriso miúdo e um ramalhete de flores.

— Não sabia que viria...Você nunca veio. - As flores passaram a decorar a pedra talhada com o nome Park Jimin e acocorado em frente a ela o rapaz secava algumas lágrimas. — Se eu tivesse percebido...Não, eu percebi, só que tinha tanto medo que fingí não ver. Antes de ir para o colégio dei falta dos comprimidos que ficam ao lados das minhas vitaminas, se eu tivesse perguntado... - Nunca fora próximo, o mundo havia lhe tirado os pais e tal coisa o fazia ser fechado e nem mesmo a doçura que Jimin possuía foi capaz de aproximá-los. Como ironia do destino, Jimin que tinha tudo decidiu não ter mais nada e Taehyung estava ali, chorando por si, por não ter agido. Chorando mais do que por seus próprios pais.

— Quando Jimin me falou de você, sobre serem irmãos...Ele nunca te viu distante, sempre me falava de você e que era o único que o tratava bem, mesmo quieto o apoiava e ajudava a viver naquela casa. - As lágrimas de repente começavam a transbordar e mesmo assim não se calou, havia guardado por tanto tempo que precisava se deixar fluir. — Ele decidiu isso por ele mesmo, nem eu nem você poderíamos ter mudado as coisas. Jimin foi uma vítima e nós agora somos também. Eu sinto a falta dele o tempo todo e só de pensar que em algum momento vou me esquecer dele...Eu...Eu só precisava ter abraçado ele e dito que amava ele também. Eu nunca disse, coloquei a resposta na porra de um papel e então ele estava morto. Tenho certeza que ele pensou no quanto eu iria sofrer, mas ainda sim não imaginou que depois de todo esse tempo eu torcesse para que ele aparecesse em meus sonhos, para que pelo menos por breves momentos eu pudesse ter paz.

Ambos se abraçavam e deixavam as lágrimas se esvaírem pelos rostos. Quando se trata de culpa e amor, o peso a se carregar é enorme. Eles sabiam e por breves momentos dividiam entre si as toneladas que a vida lhes colocava sobre os ombros.

Deitou-se sobre sua cama e olhou pelas janelas, se perguntou o que Jimin teria feito se estivesse vivo. Decidiu criar uma vida para o rapaz: se formaria em artes com especialização em dança, trabalharia em um abrigo de animais, teria sua própria casa e jamais fingiria ser o que não é, se casaria consigo e o ajudaria a se assumir, visitaríam o café de Jin e teriam um encontro duplo com Hoseok e Yoongi...Foi com tais pensamentos que caiu no sono, papéis e caneta na mão e lágrimas escapando pelas laterais do rosto. Sonhou que dançava e pode escutar um sussurro em seu ouvido ditando: eu ainda te amo. Naquela noite o Jeon dormiu sossegado e quem olhasse da rua, diria que havia uma luz forte reluzindo pela janela do quarto enquanto as cortinas esvoaçavam.

I WILL NOT FORGET - [jikook]Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon