UM

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Caetana bufava virando mais uma folha do seu caderno procurando concentrar-se para ser capaz de concluir as tarefas que tinha programado na manhã daquele dia. Por mais que tivesse evitado nos últimos dois dias a faculdade, necessitava de avançar com o seu estudo o mais rápido possível, antes de partir para a sua terra-natal com a intenção de usufruir da pausa de inverno ao máximo sem preocupações e arrependimentos no que tocava ao seu curso. No entanto, a soar da campainha do apartamento quebrou a sua leitura atentada nos apontamentos e coagiu-a a levantar-se e procurar conhecer a figura no exterior da habitação. Assim que a imagem da sua melhor amiga lavada em lágrimas ocupou a sua visão, moveu-se a fim de lhe dar espaço para entrar e, de seguida, envolveu o corpo frágil da loira com os seus braços.

- Quem te deixou assim, Isa? - Estendendo-lhe um copo com água que, certamente, iria acalmar os soluços da lisboeta, interrogou.

- O Rúben. - Por entre leves soluços, Isabel tentou proferir. - Terminámos. - O seu castanho aumentou de tamanho face às palavras da melhor amiga.

- Como? Vocês estavam bem, ainda ontem. - Visivelmente chocada, a universitária apontou relembrando do pequeno jantar organizado pelo grupo próximo de amizades.

- Nós já não estávamos bem há muito tempo, Cata. A nossa relação estava por um fio e, hoje, foi a gota d'água. - Enquanto tentava conter os soluços e as lágrimas, a de cabelos loiros revelou admirando a sua amizade.

Nada apontava para que as palavras de Isabel fossem verdadeiras. Por mais que Caetana pensasse, nenhum indício indicava os problemas que as suas duas amizades atravessavam. E, nesse momento, o seu consciente viajou até ao defesa-central questionando-se sobre o seu bem-estar.

- Interrompi os teus estudos? - Ao notar os óculos, que a estudante do segundo ano de licenciatura apenas utilizava durante os estudos, ou a leitura de um livro, sobre a mobília da sala de estar, a advogada, rapidamente, quis saber. - Perdoa-me, Caetana. Vou deixar-te sozinha, então.

- Não precisas e nem deves, Isabel. Os estudos podem ficar para outro dia, mereço, também, pausas mesmo que sejam longas. - Numa tentativa de impedir os movimentos da amiga, proferiu, num tom divertido, no entanto, Isabel levantou-se.

- Não. - Negou. - Precisas de descanso, sim, mas não precisas de levar com os meus problemas. Isto passa. Um dia, vai passar. Estar sozinha é o que necessito. - A de cabelos claros depositou um leve e carinhoso beijo na testa da melhor amiga ausentando-se, em seguida, do apartamento da mesma.

Um longo suspiro escapou por entre os seus lábios, levantando-se, de imediato, e penetrou o seu quarto, de novo, tentando prosseguir com os seus estudos. Mas, de nada valeu. A sua cabeça estava noutro lado, longe das folhas que lhe davam a conhecer mais sobre o direito penas. Só a imagem do central benfiquista lhe ocupava os pensamentos. Estava incerta do que fazer. Sentia que uma mensagem era insuficiente, mas, também, não tinha coragem para abandonar os aposentos, sabendo que se iria arrepender de não prosseguir com os estudos.

Decidiu descansar a cabeça com um relaxante banho, pausando a sua tarefa por breves minutos, desejando que, depois, se mostrasse capaz de continuar. E, quando se viu de frente para o guarda-fatos, soube que nada lhe faria se concentrar, se tudo lhe dizia para ir ao encontro do jogador. Temia a súbita vontade. Nunca a sentira antes, pelo que receava muito do que lhe daria no final. O seu animal doméstico procurou ganhar a sua atenção, logo, lhe concedida.

- Estás com fome, Frodo? - O abanar da cauda do patudo respondeu-lhe. - Vou vestir-me e tratamos já do teu jantar. - Retirou o par de calças confortáveis alusivos ao clube que, fervorosamente, apoiava e uma sweatshirt larga da mobília e envergou-as.

cedo | ruben dias ✔Onde as histórias ganham vida. Descobre agora