DOZE

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As suas íris castanhas observavam, aos olhos dos outros, as roupas expostas no guarda-fatos, contudo, na verdade, observavam um ponto vazio das madeiras que constituíam a mobília branca. O seu corpo, já, se encontrava envolvido pelas roupas antes escolhidas, por isso não havia razão para a sua crise existencial. Todavia, a mensagem, enviada na noite anterior, por responder por parte de Isabel alarmava-a. Não sabia o que pensar, sinceramente, visto que podiam ser por todos os motivos possíveis e imaginários. João interrompeu os seus pensamentos, mal irrompeu pelo seu quarto a dentro. De imediato, voltou-se para a direção do irmão que a fitava com uma expressão, de claro, desgosto que se devia ao fato-de-treino alusivo ao clube lisboeta dirigido por Frederico Varandas envergado por si.

- Não olhes assim para mim. - Imediatamente, a rapariga de vinte primaveras repreendeu. - Eu não mando esse olhares quando vestes o equipamento alusivo àquela pocilga. - Não desperdiçando uma oportunidade para criar picardia com o mais novo, atirou, num tom provocatório.

- A pocilga a que te referes formou o teu namorado, para além de mim, o teu irmão. - João retorquiu.

- Primeiramente, eu e o Rúben não somos namorados. Segundo, acima do meu Sporting não está ninguém. - O defesa-direito gargalhou e a estudante académica sabia que se devia à sua primeira afirmação, contudo ignorou a ação do irmão. - Vamos ficar aqui a trocar provocações, ou vamos seguir com os planos?

Com o assentir do irmão, Caetana agarrou no aparelho móvel, guardou-o no interior do bolso do casaco verde e branco e, ao lado do moreno, caminhou para a saída da habitação, trocando despedidas com os progenitores sentados no sofá, a descansar, enquanto assistiam a um canal televisivo de notícias a fim de manterem-se a par sobre os acontecimentos nacionais e mundiais. O destino combinado entre a dupla de irmãos era um percurso que iria ser feito a pé, sendo acompanhados pela bola de futebol do jogador de formação benfiquista, uma companhia já normal para o mesmo.

Enquanto João pisava o campo adequado à modalidade praticada pelo futebolista profissionalmente do Complexo Desportivo Lino Araújo, a melhor amiga de Isabel ocupava a zona das bancadas na companhia da obra reconhecida de Scott Fitzgerald, O Grande Gatsby. Por vezes, desviava as suas íris castanhas das páginas para observar o irmão com a redonda e/ou para responder às mensagens enviadas no grupo, que a incluía, ao irmão, a Ferro e a Jota, na rede social WhatsApp. No entanto, quando decidia pressionar o ícone que a levava às mensagens e, de seguida, a conversa que partilhava com a rapariga com origens na capital portuguesa, frustração e receio invadiam-na pela ausência de contacto com a loira há, já, um longo período de tempo.

Eram os últimos dias que passava na terra-natal. Depois de muitas hesitações e discussões consigo própria à frente do espelho e, também, nos momentos em que o sono se mostrava longe dela, decidira que teria de falar com a licenciada em direito, antes que ela soubesse por outro alguém, ou unisse os pontos e tirasse as suas próprias conclusões, da sua relação com o benfiquista. A cada dia que passava desde essa decisão, todos os seus movimentos e atos manifestavam a sua ansiedade pelo dia em que iria retornar à cidade de Lisboa.

Todavia, no momento em que retornasse à capital, ela iria desejar voltar e fugir de todas as complicações que tinham surgido por consequência dos seus atos.

- Caetana! - O namorado de Carolina evocou, captando a atenção da irmã. - Vem. - Caetana movimentou, apenas, os seus olhos, conduzindo-os até à figura do seu irmão.

- Nem penses, João. - Ao aperceber-se das intenções do jogador, um imediato abanar de cabeça foi inevitável. - Futebol não é a minha praia e tu sabes melhor que ninguém.

- Eu sei. - O mais novo confirmou. - E, também, sei que precisas de te distrair, senão esses impetuosos pensamentos vão levar-te a um esgotamento mental, como da outra vez. Precisas de te distrair.

A morena suspirou. Não repreendia as intenções do irmão pela preocupação manifestada pelo mesmo. Uma preocupação que se espalhava por todos aqueles que lhe eram próximos e que, no último ano, tiveram conhecimento da sua situação.

- És tramado, João Diogo. - A jovem apontou-lhe o dedo. Prontamente, levantou-se, deixando o livro, ainda por concluir, de lado sobre a pedra, e desceu as escadarias que levavam ao campo verde. - Manda lá isso. - Recuou uns passos, posicionando-se e, quando o passe foi feito pelos talentosos pés do profissional, buscou segurar a bola, ainda que tivesse sido por meros segundos, uma vez que, rapidamente, o colega do guarda redes belga, Mile Svilar, retirou o objeto redondo dos seus pés. - Não vale, João. - Lamuriou. - Idiota! - Mal escutou as altas gargalhadas do defesa encarnado, acusou.

- É lidar, irmão. - A filha mais velha de Rui e Maria mostrou a língua ao mais novo. - Vamos, maninha, mostra-me o que sabes. - João devolveu-lhe a bola.

- Saíste-me cá um parvo, maninho. - Caetana protestou, num tom divertido.

Com a redonda nos seus pés, a universitária em direito procurou imitar algumas fitas, cujas assistiu nas partidas de futebol, não só do irmão, como também as do seu clube de coração.

- Elá! - O internacional português elogiou, claramente divertido. - O Sporting ainda te recruta como está em claras necessidades.

- Não chames o meu Sporting para esta conversa. - Caetana revirou os olhos, embora se mostrasse, igualmente, divertida. - Além disso, só me recrutariam se quisessem piorar o prestígio. - Concluiu.

- Qual prestígio? - O defesa-direito inquiriu, o que lhe valeu uma alta estalada na zona da nuca por parte da força empregue pela morena.

- Não foi por falta de aviso, Ferreira. - A aspirante a juíza justificou, erguendo as mãos em sinal de defesa. - Estão a fazer os seus possíveis para melhorar. É um processo difícil. - Acrescentou.

- Se isso te faz dormir melhor à noite, concordo, Cata. - Num ápice, a bola atingiu os pés do jogador com força extrema. - Caetana! - O mesmo protestou enquanto a estudante ria.

Os dois irmãos continuaram com a troca de picardias durante alguns minutos até serem interrompidos pela vibração do Huawei da rapariga de olhos castanhos no bolso do casaco. Buscou o objeto no interior do tecido, colocou o pin correto para desativar a segurança do objeto eletrónico, e conduziu o seu olhar para a recente notificação. As suas esperanças de que a vibração devesse de algum tipo de contacto por parte da melhor amiga, como resposta, desvaneceram, de imediato, ao ler o nome do contacto da progenitora e, em seguida, a mensagem enviada pela mesma.

- Vamos, João! - Chamou, avisando, e voltou a guardar o dispositivo eletrónico no bolso do casaco.

Aos poucos, a ansiedade aumentava. Nada lhe fazia sentido, estava confusa. No entanto, não faltava muito para que tudo lhe fizesse sentido.

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Eu sei que o capítulo é mais pequeno que o habitual, no entanto, escrevi este capítulo e escolhi colocá-lo como o capítulo 12 com a intenção de vos mostrar mais da relação de irmãos entre a Caetana e o João e a maneira como ele está do lado dela independentemente das escolhas dela e vice-versa. Considerei ser importante.
Ainda vos adianto que o próximo é onde o drama volta. Acham que é desta que a Caetana conta? Ou a Isabel descobre? Contem-me tudo nos comentários!

Por fim, convido-vos a acompanharem-me em mais uma aventura do Rúben que se chama Ruin my life, cuja já se encontra disponível no meu perfil e já conta com dois capítulos publicados.

Que tudo esteja bem com vocês e com os vossos ✨🤍

Muito obrigada pelo apoio! 🌟💛

Com carinho,

mari.

cedo | ruben dias ✔Where stories live. Discover now