DOIS

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A fervorosa adepta do Sporting Clube de Portugal esforçava-se para não revirar os olhos perante as palavras proferidas sobre o estado do seu clube e a posição em que se situava na classificação do campeonato português pelos vários adeptos benfiquistas que assistiam à partida da equipa B do clube dirigido por Luís Filipe Vieira. A conversa que escutava tinha começado pelas qualidades e talento que os jogadores de formação mostravam possuir, sendo o futuro do clube, e, logo, passaram para a primeira divisão da Liga NOS acabando por falar do terceiro classificado prestes a ser ultrapassado pelo bom futebol praticado pela equipa bracarense treinada por Rúben Amorim. Para não demonstrar a cor do seu coração, Caetana justificou o seu motivo de ausência como uma visita à casa de banho à namorada do irmão e à melhor amiga e retirou-se daquele espaço, antes que a sua irritação começasse a crescer pelas constantes piadas partilhadas entre o grupo benfiquista.

Vagarosamente, caminhava pelos corredores do Caixa Futebol Campus, contemplando e, sem evitar, admirando o que o centro de treinos e estágios do clube encarnado proporcionava aos seus atletas profissionais e dividia o seu olhar entre o seu relógio de pulso – para não se perder do período do intervalo da partida – e o espaço verde no exterior das instalações desportivas. O seu amor incondicional pelo clube de Alvalade não a impedia de apoiar o seu irmão em grande parte das partidas que tinham lugar no Seixal, igualmente, incondicionalmente, justificando como fair-play quando festejava, discretamente, as vitórias e os feitos do defesa-direito.

- A partida já terminou? – Perto do seu ouvido, uma voz sussurrou causando o seu sobressalto.

- Ai, caralho, Francisco! – Com a mão sobre o peito, exprimiu não evitando o uso do palavrão mais vezes utilizado do que gostava. – Não. – Respondeu à questão do defesa-central, ainda a recuperar o fôlego, enquanto a sua amizade próxima do seu irmão – e também de si – ria. – Está no intervalo. – Revelou.

Ferro respondeu à informação lhe indicada, contudo as suas íris viajaram para a figura que, ao lado de André Almeida e Rafa, caminhava para o interior das instalações e, rapidamente, os seus olhos prenderam-se nos dele, abafando tudo o que os rodeava. Era a primeira vez que se viam após o momento partilhado. Desde esse momento, a de cabelos castanhos evitara todas as tentativas de contacto por parte do central, bem como, as saídas do seu grupo próximo e comum de amigos. Durante um ano, Caetana e Rúben nunca se viram pessoalmente. A nortenha evitava a todo o custo encontrá-lo nos corredores do centro de estágios nos momentos em que vinha assistir aos jogos do irmão enquanto o amadorense procurava a todo o custo encontra-la.

- E, como de costume, deixei de ser ouvido. – O seu castanho retornou ao, também, castanho do natural de Oliveira de Azeméis assim que escutou as últimas palavras do mesmo.

- Lamento, 'Chico. – Expressou-se, envolvendo o pescoço do melhor amigo num curto abraço, e esboçou um belo sorriso, de modo a ser perdoada. – Antes que a 'Carol e a Isabel pensem que me perdi, vou voltar para as bancadas. – Depositou um carinhoso beijo em cada bochecha do camisola noventa e sete da equipa de Bruno Lage. – Não é por não te ouvir que não continues a ser o meu benfiquista favorito. – Endereçou-lhe uma piscadela e iniciou o seu percurso de encontro a Carolina, não evitando, dirigir um último olhar para o colega de posição de Ferro que a contemplava, atentamente, ao mesmo tempo que tentava participar na conversa partilhada com os dois colegas de equipa do seu lado.

Um involuntário sorriso surgiu nos seus lábios que procurou, imediatamente, ocultar voltando-lhe as costas e prosseguindo com o seu caminho. A sua enorme vontade de cortar o seu caminho para voltar ao mesmo espaço em que o amadorense se encontrava só para o poder admirar, depois de tanto tempo longe dele, impedia-a de pensar corretamente, ou, até, quando alcançou o seu lugar ao lado da namorada do defesa-direito da equipa B dos encarnados, de prestar atenção à partida que colocava os benfiquista à frente no marcador garantindo os importantes três pontos para subirem na tabela de classificação da LigaPro e a consolidação da série de bons resultados que a equipa vinha a mostrar dentro das quatro linhas.

- Como te sentes, campeão? – Por entre o apertado abraço, Caetana inquiriu o irmão, claramente, cansado pela difícil partida.

- Feliz por ter contribuído para a conquista dos três pontos. – A mais velha dos irmãos Ferreira sorriu, amplamente, perante o pequeno sorriso que acompanhava as palavras do futebolista. – Obrigada pelo apoio, 'Cata. – João agradeceu, como habitual, sempre que a rapariga o acompanhava.

- Estarei sempre do teu lado, João Diogo. – Ao escutar o seu segundo nome, o moreno revirou os olhos enquanto a namorada e a melhor amiga da irmã gargalhavam acabando por contagiarem a dupla de irmãos.

As íris castanhas da universitária viajaram para o único grupo de pessoas a pisarem o mesmo espaço que eles, perdendo-se nas bonitas feições do irmão de Ivan Dias, que, assim que a viu, abriu os lábios num bonito e divertido sorriso provocando-lhe o enrubescimento das suas bochechas. Inconscientemente, a morena avançou um passo, contudo a evocação do nome da sua amizade, e ex-namorada do jogador, por parte do seu irmão obrigou-a a recuar voltando à sua expressão neutra, sem qualquer pingo de emoção perante o momento que – quase – partilhou com o defesa-central.

- Pizza espera-nos pela grande vitória do Benfica. – Isabel sugeriu, com um grande sorriso nos seus lábios, desejando que todos aceitassem a sua sugestão de jantar.

O fraco sorriso surgido na face da natural de Póvoa de Varzim era para ser convincente, mas os membros do grupo aperceberam-se da ausência de vontade da rapariga em relação à sugestão da advogada.

- O que eu mais quero fazer depois do jogo é ir para casa e desfrutar do conforto da minha casa ao mesmo tempo que estudo. – Revelou, esboçando um sorriso culpado.

- Vais enterrar-te nos estudos, mais um dia? – Francamente aborrecida, Isabel perguntou.

- Tenho de começar a preparação para os exames. – Caetana replicou, encolhendo os ombros. – Já tiveste na minha situação. De todos, acreditava que serias tu que compreenderia a minha vontade de concentrar-me, em pleno, no curso. – De imediato, expressou, num tom calmo, mas, levemente, carregado de irritação.

Acomodou a alça da mala no ombro e com um curto sorriso despediu-se de todos partindo para o exterior do centro de treinos do clube da Luz. Um revirar de olhos mostrou-se a única reação possível ao reproduzir a interrogação da melhor amiga na sua cabeça. Já não se reconhecia, realmente. À mínima coisa feita ou dita pela lisboeta, a estudante irritava-se, consciente, no fundo, que se devia, certamente, ao sentimento de culpa carregado há um ano. Conhecia Isabel desde que iniciara o seu percurso académico. A de vinte e duas primaveras tinha sido a sua madrinha universitária e, ao contrário do que pensava, a lisboeta criou um laço muito forte com a recém-universitária e a sua amizade cresceu muito em pouco tempo tornando-se confidente uma da outra. Essa ligação próxima levou à aproximação de Caetana e Rúben, namorado da loira na altura. Temia que o erro cometido causaria o fim da única amizade que, genuinamente, lhe importa, uma vez que já tinha perdido a ligação que a unia ao internacional português.

Os seus passos pararam, no momento em que o seu pulso foi agarrado por outro alguém, puxando-a em direção do mesmo.

- Não vais sozinha para casa. – Francisco indicou, determinado em impedir que a amiga retomasse o caminho para a paragem de autocarros. – Nós damos-te boleia. – Os seus olhos desviaram-se da figura da amizade, ao escutar o pronome 'nós', encontrando o colega de posição da mesma.

- Nem penses, Ferro. – Murmurou, abanando a cabeça. – Não estou pronta para o enfrentar. – As suas palavras saíram numa súplica, à qual o ex-capitão da equipa B das 'águias' assentiu soltando o aperto do seu pulso.

Num murmúrio, a varzinense agradeceu e continuou o seu percurso, sendo capaz, ainda, de escutar o longo suspiro do natural de Amadora que causou o aperto no seu peito. Os seus passos aumentaram de velocidade, ao mesmo tempo que as suas lágrimas viam se livres dos seus olhos, caindo sobre as suas bochechas. Fora a primeira vez – mas não a última -, em que sentiu a verdadeira dor de ser incapaz de estar com outra pessoa. 

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Trago-vos o segundo capítulo da Cedo que explica melhor os sentimentos da Caetana face ao Rúben. Espero que gostem!
Gostava de saber a vossa opinião! Votem e expressem a vossa opinião nos comentários.

Com carinho,

mari.

cedo | ruben dias ✔Onde as histórias ganham vida. Descobre agora