TRÊS

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A velha sweatshirt servia de consolo para a fadiga de Caetana que pouco se importava com certos olhares de desaprovação quanto à sua escolha de vestuário. Não compreendia a obsessão das pessoas julgarem e criticarem as peças de roupa de outras pessoas apenas com o olhar, como se não tivessem mais nada a fazer, e de certo modo não tinham. Carregava o dossiê entre o seu peito e o seu braço com cuidado para não o deixar escapar nem ao escasso conjunto de folhas soltas que se encontravam no seu interior. Levou o copo cheio de cafeína aos seus lábios aquecendo o seu coração com a bebida pela qual nutria uma paixão imensa e pousou os seus materiais da faculdade sobre o espaço verde sentando-se, de seguida, nele. Os seus auriculares encaixaram-se em cada ouvido seu e, sem demoras, iniciou a sua playlist, através do seu Huawei, concentrando-se, assim, nos conceitos e nas matérias sobre o seu curso. A música tornou-se o seu porto de abrigo muito cedo auxiliando-a em muitas coisas, especialmente, no que toca à sua vida escolar e académica, contudo, com muita pena dela, não tinha dom para o canto o que a prejudicava em locais públicos e, devido a isto, tinha que empregar a sua força total para controlar o aumento dos seus murmúrios que entoavam as letras das músicas tão conhecidas.

Embora as temperaturas frias que envolviam a cidade capital colocassem qualquer habitante fora do expediente no interior do conforto das suas casas, a universitária aproveitava o silêncio na cidade universitária para desfrutar da brisa para apreender conhecimento acerca do curso que escolhera há dois anos. Todavia, o seu alheamento à escrita nas folhas impeliu-a a quebrar a concentração e contemplar o céu escuro e o movimento dos transportes públicos e dos automóveis pelas estradas lisboeta degustando o seu expresso. As pálpebras teimavam em fechar, escutando o som da cidade que a acolhera há três anos, e optou por acatar o pedido do seu corpo pela comodidade do seu quarto abandonando o espaço e rumando em direção à residência universitária. No entanto, reparou na moderna viatura familiar estacionada perto da entrada para a estação do metropolitano interrompendo, logo, os seus movimentos assim que a imagem do camisola seis da equipa de Bruno Lage ocupou a sua visão.

- O que fazes aqui, Rúben? – Visivelmente cansada, inquiriu soltando, de seguida, um suspiro.

- Quando vais parar de me evitar? Já não bastou o último ano? – O internacional português cruzou os braços sobre o peito colidindo com o seu corpo na porta do automóvel a aguardar que a morena se aproximasse dele.

- Achas que estou a evitar-te, voluntariamente?

- Ninguém te está a obrigar, Caetana. Nem a Isabel o está a fazer. – Replicou.

- Porque ela não sabe o que fizemos, Rúben! – Frustrada pela facilidade que o jogador colocava nos problemas, a de cabelos castanhos vociferou, chamando a atenção das poucas pessoas que passavam pela dupla a fim de pisar o interior do metropolitano. – Achas que se ela soubesse, ainda, estaria do meu lado? Se eu lhe tivesse contado naquele dia, teria perdido duas pessoas importantes para mim, e já bastava ter-te perdido a ti. – Com todos os seus esforços, buscava conter as suas lágrimas.

- Caralho, tu nunca me perdeste, Caetana. – Os pés do futebolista avançaram na direção da rapariga que tentava manter uma distância segura entre ambos. – Eu estou aqui, não estou? Mesmo que não querias, eu estou aqui. – A irmã de João fechou os olhos deixando a sua testa colidir com a zona peitoral do jogador.

Suspirou.

Voltou a suspirar quando os fortes braços do benfiquista envolveram o seu corpo puxando-a para mais perto dele. As saudades que tinha daquele abraço eram maiores do que ela imaginava, o que a deixou perdida e sem noção de como se comportar perante o que o seu coração lhe indicava. De novo, num súbito gesto, afastou-se do corpo do rapaz, desta vez sem nada proferir, e, plena de mágoa, movimentou os seus pés para continuar com o seu caminho para a estação de metro. Todavia, o forte aperto do defesa no seu pulso impediu-a e, apesar de se quisesse podia ter evitado o toque dele, a ausência de forças em si fez com que ela se deixasse levar.

- Não vás. Desta vez, não fujas, Caetana. – Num sussurro pela pouca distância que partilhavam, pediu. – Eu quero-te do meu lado.

A do sexo feminino prendeu o lábio inferior com os dentes com demasiada força, o que, certamente, deixaria marca, pelos esforços que fazia para conter as lágrimas. As suas mãos foram ao encontro da face do jogador segurando nela, ao mesmo tempo que, interiormente, pensava sobre se devia acatar o pedido do mesmo. Rúben fechou os olhos ao sentir o seu toque. A universitária lambeu os lábios, suavemente, não contendo o tímido sorriso que ameaçava aparecer nos seus lábios. Num primeiro momento, chocou com os seus lábios nos dele, num simples beijo, sem intensidade qualquer, no entanto, com o retribuir, instantâneo, do amadorense, o beijo manifestou toda a intensidade e paixão existente entre ambos.

Os seus lábios moviam-se lentamente como se o beijo de uma dança se tratasse e, aos poucos, um pequeno sorriso ia surgindo nos lábios de cada um com o sentir do toque um do outro, aquele toque que nunca acreditaram necessitar tanto. Quando o oxigénio lhes obrigou a afastarem-se, as íris castanhas da aspirante a juíza penetraram o castanho do futebolista profissional aguardando pelo passo seguinte, mas o sorriso divertido do mesmo apenas lhe fez corar.

- Odeio-te. – Murmurou contra a camisola do internacional português que gargalhou envolvendo-a, mais uma vez, no seu abraço. – Para onde me pretendes levar? – A morena inquiriu.

- Pela tua conversa com a Isabel, acreditava que tinhas de te preparar para a época de exames. – O irmão de Ivan proferiu, mostrando ter estado atento à conversa do dia anterior entre a natural de Póvoa de Varzim e a advogada que tinha acabado por captar a atenção do grupo um pouco distante delas.

- Acreditas, mesmo, que me consigo concentrar depois disto? Mais vale, adiar o estudo por mais um dia e deixar-me levar por ti. – As palavras da irmã de João saíram mais rápido do que ela imaginava, não lhe dando tempo de as filtrar e pensar na melhor forma de responder.

No entanto, apesar da sua inconsciência, não conseguiu conter o seu sorriso, tal como Rúben perante as suas palavras.

- És minha para o resto da noite, então? – O aperto na sua cintura aumentou consoante escutava as palavras proferidas pelo central como também o seu sorriso que tentou abafar com o revirar de olhos.

- Só me queres nesta noite? – Perante a sua interrogação, Rúben gargalhou alto.

- Acredita, esta noite é, apenas, o início. – Caetana engoliu em seco subindo o seu olhar para o castanho-escuro das íris do benfiquista, ciente da verdade nas palavras dele.

Num ápice, afastou-se dos braços do defesa, percorreu o caminho até à porta do pendura, e adentrou na viatura esperando que o condutor replicasse os seus gestos, ao mesmo tempo que procurava uma forma de expulsar o calor que sentira naquele momento e da tonalidade escura das suas bochechas. Sem nenhuma palavra partilhada, Rúben iniciou a condução, desviando, por vezes, o seu olhar da estrada para a figura da estudante que observava a paisagem a partir da janela somente para não cruzar olhar com o jogador, receosa da sua atitude se o fizesse, e só cortou olhar com a janela no momento em que o motor se desligou e o fervoroso adepto do clube dirigido por Luís Filipe Vieira abandonou o interior do automóvel. Com o auxílio do mesmo, replicou os seus gestos e caminhou ao seu lado para a entrada dos aposentes do rapaz. Estava consciente do que aconteceria assim que pisasse o interior dos mesmos. Seria um risco que estaria disposta a pisar?

Como se lesse os seus pensamentos, os movimentos do moreno cessaram mostrando que estava à espera de uma resposta por sua parte. De tal jeito, encontrava-se Caetana. Se ultrapassasse esse risco, não havia volta a dar.

Sim.

A sua resposta saiu por meio de um assentir que levou a que o irmão de Ivan rodasse a fechadura e desse-lhe entrada para a sua humilde casa. Todavia, mal se viu no interior da mesma, os lábios da morena viajaram até aos dele deixando-se conduzir através do toque do mesmo por todo o seu corpo e o toque das suas línguas que dançavam.

Da última vez que tinha estado ali, desejou nunca mais voltar.

Agora, desejava nunca mais ir. 

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Olá! Espero que se encontrem todas bem 🤞🏻🤍

Trago-vos uma mudança total (positiva) no relacionamento da Caetana e do Rúben e quero saber as vossas opiniões. O que acham que vai ser deste dois daqui para a frente? Contem tudo o que acham. Espero que o capítulo três esteja do vosso agrado.

Com carinho,

mari


cedo | ruben dias ✔Onde as histórias ganham vida. Descobre agora