ONZE

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Como costume, os dois dias de festividades, nos quais comida não faltou, proporcionou as imensas sobras no que toca ao peixe e carne e, também, em relação à doçaria. Caetana, então, auxiliava a progenitora e a avó materna a colocar os restos de comida em tupperwares distintos, como forma de organização para as próximas festividades que iriam decorrer daquele dia para o seguinte e, também, para ser transportados não só por si, como também pelo seu irmão quando retornassem a capital do país português, e a confecionar mais alguns alimentos e doces que serviam como complementos aos já existentes, enquanto murmurava as letras das músicas que iam passado na rádio disposta sobre a mesa de ferro encostada à parede, ao lado do frigorifico.

- Se te perguntasse por um tal rapaz que, hipoteticamente, foi referido pelo teu pai, contar-me-ias a história que o envolve?

A questão colocada, num tom de voz baixo, pela sua progenitora aquando da saída da mãe desta da cozinha mostrava-se ser uma pergunta que ela já queria fazer desde o minuto em que a filha tinha oferecido o seu auxílio nas arrumações.

- Referes-te ao Rúben? - Sem qualquer inquietação presente no seu tom de voz, a sportinguista inquiriu.

- O nome não me é desconhecido. - Maria interveio.

- Claro. O Rúben é o defesa-central português mais aclamado. - Caetana revelou. - O único defeito é pertencer aquela equipa que o pai e o João tanto admiram. - A sua imensa paixão pelo derrotado do jogo da Supertaça que determinou a equipa encarnada como a grande vencedora, no início da época, surgiu consoante as suas palavras iam escapando das suas cordas vocais.

- Conheceram-se através do João? - De imediato, a rapariga negou.

- Através de Isabel. O João só ajudou, indiretamente, para que o contacto entre nós não se perdesse. - Explicou. - O Rúben é o ex-namorado da Isabel. - O arregalar dos olhos da mais velha mostrou-se imediato. - Complicado, mãe. - Por entre fracas gargalhadas, a mais nova proferiu.

Limpou as mãos molhadas ao pano sobre a bancada e, de seguida, recuou uns passos até à cadeira ao lado da mesa. O seu próximo movimento foi em direção ao rádio com o objetivo de diminuir o volume provindo do objeto eletrónico para que pudesse conversar com a sua maior confidente sem elevar o seu tom de voz.

- Ainda me encontro dividida, por mais que diga que já tomei decisão certa, na verdade não tomei. Continua tudo igual. - Por entre os seus lábios, um longo suspirou escapou.

- Não há escolha nenhuma para fazeres. - Usando a sua sabedoria, a esposa de Rui disse, aproximando-se mais da primogénita a fim de repousar a mão direita no ombro esquerdo da mesma. - É complicado, sem dúvida alguma, mas os sentimentos são a única coisa que não conseguimos controlar na nossa vida. Conheço a Isabel e, ainda melhor, conheço a vossa ligação. É deveras admirável, devido aos poucos anos que já levam. Sei que uma conversa serve para vocês resolveram o que há para resolver.

- Mas, e se não obtiver a reação que desejo dela? O que faço? - Procurando por mais conselhos da mãe, a de vinte anos de idade interrogou.

- Penso que não chegará a tanto, no entanto, se chegar a esse ponto, ela é que perde, Caetana. - A morena não evitou gargalhar. - Nunca devemos prescindir da nossa felicidade pela dos outros. A única pessoa importante para ti, no final, vai ser sempre tu. Se o Rúben é quem te faz feliz, não há ninguém que te possa obrigar a mantê-lo longe. Nem mesmo tu. - Um largo sorriso ocupou os seus lábios e os seus braços envolveram a cintura da mãe, aconchegando-se naquele que era o único abraço que a acalmava, o abraço de mãe.

A procura de atenção e mimo por parte de Frodo causou o afastamento da filha da mãe e gargalhadas foram soltas pelas mulheres. Ao mesmo tempo que acariciava o focinho do animal, retirou o Huawei do bolso do casaco quente azul e pressionou a sua impressão digital contra o local indicado, desbloqueando o aparelho, o que conduziu ao surgimento da sua imensa vontade de contactar o futebolista profissional ligado ao clube que, atualmente, levava uma distância de quatro pontos do segundo classificado e eterno rival, Futebol Clube do Porto. As últimas mensagens trocadas, na véspera de natal a desejaram um 'feliz natal' um ao outro, absorveram a sua atenção, por completo, levando-a a afastar-se da realidade que a envolvia.

cedo | ruben dias ✔Onde as histórias ganham vida. Descobre agora