SEIS

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A parede branca servia de encosto para as costas de Caetana que, de braços cruzados, tentava apanhar o fio à meada da conversa entre o irmão, João Filipe – ou Jota como era tratado no mundo do futebol – e Francisco Ferreira – ou, pelas mesmas razões, Ferro. Já se tinha perdido na conversa do trio por estar presa ao intenso olhar do colega de posição de Ferro e, por isso, esforçava-se ao máximo para não chamar a atenção do irmão, acenando, de vez em quando, assim, manifestando – a falsa – atenção à conversa.

- O que achas, Caetana? – O noventa e sete das águias inquiriu, apresentando um sorriso provocador captado pelo castanho da morena que retribuiu um igual.

- Não vão conseguir que eu fale mal da minha equipa em benefício dos bons resultados que a vossa equipa tem conseguido obter, nas últimas jornadas. – Retorquiu, cruzando os braços sobre o seu peito. – Nem penses abrir a boca para falar mal do meu Sporting, Chico. – Num murmúrio, advertiu.

- Só iria constatar factos. – Francisco ergueu as mãos em sinal de defesa.

- Não vos aguento. – A irmã de João reclamou, oferecendo aos benfiquistas um revirar de olhos.

Ajustou a sua postura, de modo a aliviar a pressão que fazia no fundo das suas costas, encostando, melhor, a sua espalda à parede fria. As suas íris castanhas voltaram a revirar, mal escutou o resultado da partida, a partir de Jota, a acontecer que colocava em confronto a equipa que a estudante apoiava fervorosamente e a equipa do Restelo, cuja encontrava-se a ganhar, marcando um golo já perto dos minutos finais.

- Aconteceu algo que não me contaste. – Num tom baixo, o ex-capitão da equipa B do Sport Lisboa e Benfica observou. – Possuo uma leve sensação que envolve o meu colega. – Perante a menção de Rúben, o tímido sorriso mostrou-se incapaz de se manter oculto dos lábios da varzinense.

- Não sei do que falas. – A rapariga encolheu os ombros, voltando a sua atenção para o amigo, e manteve a sua expressão neutra.

- Então, explica-me as constantes trocas de olhares. Até eu sinto o olhar dele nas minhas costas, caramba. – Caetana não impediu as suas altas gargalhadas.

- O que posso dizer? Sou difícil de resistir. – Brincou, logo, prendendo o seu lábio inferior com os dentes.

- Não conhecia esta faceta tua. – Visivelmente abismado, o natural de Oliveira de Azeméis apontou. – Ele é, claramente, uma má influência.

A filha mais velha de Rui e Maria tinha intenção de responder, em defesa do central benfiquista, no entanto, ao observar sobre o ombro da amizade, a aproximação do mesmo ao quarteto, remeteu-se ao silêncio e buscou o seu aparelho móvel a fim de evitar o castanho do jogador.

- O mister está a chamar-nos, maltinha. – O rouco timbre do amadorense introduziu-se nos ouvidos da aspirante a juíza que engoliu em seco pelo arrepio que sentiu pelo seu corpo.

- Boa sorte, rapazes. - João despediu-se das amizades, com o típico cumprimento de rapazes, enquanto a sportinguista, apenas, mostrou um pequeno sorriso.

Discretamente, o irmão de Ivan piscou o olho, ofertando um sorriso divertido à natural de Póvoa de Varzim e, em seguida, conquistando o tímido sorriso da mesma. Depois de verem os jogadores de Bruno Lage a desaparecerem do seu campo de visão, os irmãos Ferreira deslocaram-se para a tribuna, local onde iriam assistir a partida. A equipa da Luz, no final dos noventa minutos, saiu vitoriosa conquistando três importantes pontos para alcançar o segundo título nacional consecutivo e, ainda que triste pela vitória do eterno rival do seu clube, a estudante de direito não conseguia manter a sua frustração e tristeza perante a felicidade do irmão mais novo. Pelo contrário, não evitava deixar escapar leves risadas.

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