OITO

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- O meu irmão ainda tem alguns compromissos com o clube, portanto, só irá para cima na próxima semana. – Caetana colocava as últimas peças de roupa dentro da mala de viagem enquanto respondia às questões colocadas pela melhor amiga que se encontrava sentada no cadeirão situado próximo da varanda. – O meu pai teve umas reuniões quaisquer em relação à firma e será a minha, e a de Frodo, para Póvoa de Varzim.

O cão abanou a cauda, freneticamente, e ergueu o focinho com a evocação do nome, mas, logo, voltou a repousar, por completo, o seu corpo na cama da dona. Caetana preparava a mala de viagem com os bens que utilizaria durante as férias da época natalícia concedidas pela faculdade que iria passar na sua terra-natal, junto da sua família do lado materno. Isabel encontrava-se no seu apartamento com o objetivo de a auxiliar, contudo, até agora, tinha se mantido sentada no cadeirão, observando a melhor amiga a escolher e optar pelos vestuários adequados às temperaturas habituais, naquela época, na cidade nortenha e acomodá-los no interior do trolley com a devida organização.

A loira já se tinha apercebido que algo não estava bem com a amizade. Os movimentos da varzinense eram lentos, demonstrando um certa apatia da parte dela em realizar as suas tarefas a fim de, ainda naquele dia como combinado com o progenitor da mesma, partir para a região norte do país, quando, normalmente, Caetana mostrava, sempre, entusiamo por reaver a sua família e poder estar com eles mais tempo, sem se preocupar, totalmente, com o curso que a levara até Lisboa. Isabel levantou-se do cadeirão e moveu-se em direção da amiga, segurando no pulso da mesma para cessar os movimentos desta.

- Sei que estou em alto risco de me bateres, no entanto, não consigo ver-te assim e não fazer nada. – A lisboeta começou. – Encontraste bem, Cata? Não me mintas e digas que estás bem. Eu conheço-te. – Antes que a morena lhe respondesse com o habitual 'estou bem' que servia para esconder as reais emoções e sentimentos da mesma, a especializada na área de direito impediu-a.

- É a faculdade. – A mais nova das duas encolheu os ombros. – O ano passado foi a mesma coisa. As frequências dão cabo de mim e da minha sanidade mental. – A fim de convencer a sua amizade, deixou escapar uma fraca gargalhada, logo, vendo-se livre do aperto da mesma e voltou-se para o guarda-roupa.

- A razão do ano passado não era a faculdade. Nunca foi. – Os seus batimentos cardíacos cessaram com a resposta de Isabel. – Este ano é a mesma? – Após reunir forças para fitar a melhor amiga, a de vinte anos de idade voltou o seu corpo em direção da mesma e abanou a sua cabeça, negando, continuamente.

- Não sei do que falas. Nunca te menti quando, no ano passado, te justifiquei a minha falta de atitude com o esforço que dava na conclusão do segundo ano de licenciatura. – Caetana dizia a verdade, uma parte da sua apatia, no ano passado, devia-se aos seus estudos, contudo a outra parte era a consequência de o súbito afastar de Rúben.

Tal como era agora.

- Como queiras. – A de cabelos loiros revirou os olhos, discretamente. – Quando tiveres preparada para desabafar, estou aqui, no entanto, enquanto um longo almoço aguarda por nós em casa da Tia Fátima. – Indicou os planos que tinha para a dupla para a hora de almoço, que se aproximava, e para a tarde pelo costume desta refeição prolongar-se quando era nos aposentos dos seus progenitores.

- Ainda não concluí a preparação da mala de viagem.

- Terminas isso num instante quando voltares. – A natural da capital portuguesa, descontente com a justificação da melhor amiga, abanou a cabeça, desvalorizando, e pegou na mão da mesma, puxando-a para a saída do quarto, não sem antes agarrar no único pertence da estudante que esta necessitava, o smartphone.

Após abandonarem os aposentos, Caetana ocupou o lugar do copiloto, ainda um pouco resignada por não ter terminado a sua tarefa como gostaria de ter feito, e prendeu-se à paisagem provinda da janela alheia às palavras proferidas pela sua companhia. Logo se apercebendo do alheamento da amiga, Isabel silenciou-se, concentrando-se na estrada. Os dedos da morena moveram-se no visor do telemóvel, desbloqueando, depois de colocar os quatro dígitos que o protegiam, e, de seguida, pressionou o ícone da rede social que, ultimamente, tinha utilizado mais vezes do que costumava dispensar para ela. A primeira história disponível que lhe apareceu no cimo do visor fora a do defesa-central do clube presidido por Luís Filipe Vieira e, sem demoras, ela clicou nela, cuja mostrou uma imagem do treino, onde mostravam uma das amizade próximas que aquele clube lhe tinha trazido, Francisco Ferreira, num momento próximo com o seu parceiro da zona defensiva e o capitão da equipa encarnada, também defesa-central, Jardel. Um bonito sorriso ocupou os seus lábios perante tal fotografia capturada pelos fotógrafos ligados às águias e publicado pelo futebolista. Como se tivesse sido chamada à realidade, o seu sorriso esvaneceu assim que a imagem de Isabel ocupou a sua visão e o sentimento de culpa retornou a si, desligando, de imediato, o objeto eletrónico e terminando, por ali, o momento mais próximo que teve com o jogador nas últimas semanas.

cedo | ruben dias ✔Donde viven las historias. Descúbrelo ahora