VINTE E TRÊS

471 17 68
                                    

Os pequenos saltos do par de sapatos pretos desconfortáveis para os pés de Caetana embatiam na calçada portuguesa ao mesmo tempo que a jovem buscava acomodar a saia preta, cuja constituía o traje académica, com uma mão, uma vez que a outra mão encontrava-se ocupada a segurar a pasta de finalista, a fim de se compor a sua aparência física. Não evitou deixar escapar um longo suspiro manifestando a sua frustração e dor sentida pelo desconforto dos sapatos calçados. Mais à frente de si no percurso, Michel encontrava-se com o braço entrelaçado no braço de Isabel envolto num diálogo profundo com a mesma, sem a preocupação de desviar o olhar para confirmar o bem-estar da universitária. Caetana não o censurava. Aliás, ninguém o faria, se estivesse no lugar dela. Era o dia de formatura para os estudantes académicos da Universidade de Lisboa, pelo que todos estavam mais preocupados e ansiosos pelo começo da cerimónia do que, propriamente, consigo mesmos ou, até, com os colegas e amizades mais próximas.

Do bolso do seu casaco, também ele, preto, a finalista de direito resgatou o seu aparelho móvel, em seguida, desbloqueou-o através da impressão digital do seu indicador e, por último, premiu o ícone representativo da aplicação das mensagens do dispositivo eletrónico, deparando-se com a última conversa que procurou criar com o internacional português. Apesar de terem cortado qualquer tipo de contacto entre ambos há perto de dois meses, Caetana desejava que ele estivesse ao lado dos seus pais, do seu irmão e de Isabel e acompanhasse a cerimónia que ditava a conclusão da licenciatura do curso, cujo ela era imensamente apaixonada. Todavia, Rúben, no seu direito, nada replicou à morena. Ela podia odiá-lo por tê-la ignorado, mas a verdade era que era incapaz de odiar a pessoa que mais amava.

- Caetana! – A voz do seu melhor amigo introduziu-se nos seus ouvidos, captando, logo, a sua atenção, e um amplo sorriso ocupou o seu rosto tristonho. Rapidamente, esqueceu a dor que os sapatos lhe causavam e correu na direção do defesa-central do Sport Lisboa e Benfica, envolvendo o pescoço dele com os seus braços, o que provocou a sua breve elevação, devido à força empregue pelo atleta, da pedra.

- O que fazes aqui? Disseste que era impossível compareceres na cerimónia devido ao horário do treino. – Quando retornou a sentir a calçada portuguesa por baixo dos seus pés, a natural de Póvoa de Varzim questionou, ainda admirada pela presença do noventa e sete dos vermelhos e brancos.

- Na cerimónia foi me impossível participar, no entanto nada me impossibilitou de vir ao teu encontro após o treino e, consequentemente, a cerimónia. Quis vir demonstrar o orgulho que sinto, imensamente, de ti. – Os seus cabelos castanhos foram beijados, suavemente, pelos lábios do defesa português, um gesto que conquistou o seu bonito sorriso e aqueceu o seu coração.

Logo, envolveu a cintura do atleta com os seus braços num caloroso abraço, sendo retribuída pelo circundar dos seus ombros por parte dele, e encerrou os olhos, mergulhando nos braços do melhor amigo e no calor que este lhe proporcionava. Lágrimas vieram-lhe aos seus olhos e, com a intenção de as conter, voltou a trazer luz para o seu castanho e esboçou um fraco sorriso para acalmar o coração da sua amizade. De seguida, abriu os seus braços, novamente, para envolver, desta vez, a namorada do natural de Oliveira de Azeméis num apertado abraço durante o tempo em que a mesma lhe murmurava palavras do mesmo caráter que o jogador e beijava os seus cabelos castanhos carinhosamente. Posteriormente, encaminhou o casal para o interior da residência universitária, onde se encontravam alguns membros de família próxima de Caetana e João juntados para festejar uma das conquistas mais importantes – e, honestamente, a primeira de muitas na carreira da morena – da universitária e conviver entre família, tratando de os apresentar à medida que os seus entes queridos ocupavam o seu campo de visão, ainda que, no caso de Francisco, apresentações fossem dispensáveis para a família benfiquista ferrenha e de os presentear com a mesa repleta de iguarias, algumas compradas, outras preparadas pela progenitora dos irmãos Ferreira.

cedo | ruben dias ✔Where stories live. Discover now