Prologo

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ANNE
Hoje eu estava com mais medo que o normal.
Podia sentir que algo terrível iria acontecer. E que, talvez, tudo fosse virar de cabeça pra baixo de vez. Então fiz a comida e limpei toda a casa, deixei a TV disponível com os canais que ele gosta, deixei a almofada vermelha pra ele apoiar o braço e fiz de tudo pra que não acontecesse de novo.

Bom, e você deve estar se perguntando... acontecer o que? Primeiramente, meu nome é Anne Shirley Malborner Cuthbert e, eu tenho dezesseis anos. Malborner é do meu pai, e eu juro por Deus que vou tirar do nome assim que puder. Shirley é da minha mãe, ela era a mulher mais doce que já conheci, Cuthbert é de minha familia adotiva... Tive um lar adotivo antes daqui, eles se chamam Matthew e Marilla.

Meu pai a alguns anos me adotou de volta, tudo começou bem, eram flores e doces, brinquedos e tudo que uma criança queria pra ser feliz. Mas quando completei treze anos, começou a piorar, ele praticamente se viciou em drogas e em bebidas alcólicas.

Desde então eu venho apanhado, ou então tenho ido dormir com medo de apanhar - na verdade, eu sempre durmo com medo - dessa vez quis tentar deixar tudo perfeito, até coloquei a comida numa panelinha térmica pra não ter que esfriar e meu pai— Walter Malborner— perder tempo e vir me bater novamente.

Minha melhor amiga Diana mora do outro lado do mundo, eu a conheci pelo twitter e desde então víramos "kindreds spirits", ela sabe disso tudo, e todos os dias diz que quer me ajudar e ligar para policia daqui, mas eu a impeço, meu pai— ou melhor, aquele homem— ja me ameaçou de morte, sem contar o fato que ele me vigia sempre.

Não tenho amigos na escola porque não suportaria esconder meus hematomas. Já tentaram falar comigo uma vez, mas depois disso o boato da escola era que eu era depressiva. Aliás, não sei se sou, mas às vezes identifico alguns sinais, e os ignoro, porque se aquele homem souber, me bate até eu desmaiar.. Ele é um monstro.

Aprendi a ouvir passos do andar de baixo até meu quarto, aprendi a diferenciar passos sóbrios de passos embriagados e diferenciar até o olhar dele. Eu reconheço alguns dos meus traumas, ainda não sei se estou pronta para falar sobre eles, mas tenho a absoluta certeza que preciso mudar algumas coisas.

Fui para a cama estremecendo e orei muito. Pedi ao Pai Celestial pra que me abençoasse.. eu nao sei se eu acredito mais nele, afinal, por que é que alguém tão divino me faria ter um pai, ou melhor, projeto de pai tão péssimo?
Mas ainda peço a ele todos os dias por alguma luz.

E, quando a maçaneta da porta abriu, os passos foram até a cozinha e pararam, ouvi os barulhos de talheres, logo depois a lixeira batendo no chao, os passos na escada, eram os passos embriagados, e vinham em direção ao meu quarto. Fingi dormir, não adiantou, ele ligou a luz, e eu queria estar só sonhando, mas era real demais.

– Você não presta pra fazer uma merda de comida, Anne Shirley! - Um simples berro. Nada que não imaginasse. - Você tem que dar um jeito, ouviu? Sua vagabunda! Não vai arrumar ninguém assim. - Apertei os olhos com força. Além de agressor é burro. - Não se faça de surda, eu sei que está acordada! - Exclamou, se aproximando da cama.

Nesse momento eu fraquejei.

– Por favor... por... por favor! - Exclamei com rapidez e ainda com os olhos apertados. - Não me faça mal.

O que eu disse foi como um passe para ele me bater... me levantei correndo da cama e fui para o canto do quarto e me encolhi.

– Se voce fugir é pior ainda- Ele ameaçou. Sua voz já era horrível, mas quando ele fazia isso, ficava pior.

Antes que eu pudesse raciocinar, Walter pegou um objeto que não pude ver e o jogou em mim. Eu pensei que estivesse melhor hoje, que estaria tudo bem e que nao apanharia... eu estava totalmente enganada.
As mãos fortes e sujas dele me acertaram e, a cada unhada ou soco, eu me sentia mais fraca, em determinado ponto, não vi mais nada.

Quando acordei, era de madrugada, eu estava com o corpo dolorido demais, o rosto sangrando, um olho roxo e minhas pernas tinham hematomas gigantes. Eu odiava o que via. Tudo tão... tão dolorido e feio, não quero mais isso.
Avistei meu celular em cima da bancada, peguei o mais rápido que pude e liguei a luz devagar, tirei foto de tudo, e comecei a escrever no twitter com uma conta secreta pra que nao me achassem, fui colocando tudo que meu pai fez comigo por anos e anos. Talvez aquilo pudesse ajudar.

 Talvez aquilo pudesse ajudar

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It broke me!Where stories live. Discover now