vinte e quatro

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ATENÇÃO: esse capítulo tem gatilhos como menção de violência e homofobia.

CAPÍTULO 24

Estávamos sentados no meu sofá, um do lado do outro, e eu havia pegado um copo de água para Cole. Ele estava tremendo.

Eu nunca o havia visto naquele estado tão extremo de agonia. Sawyer sempre tentava mostrar o mínimo dos seus sentimentos e me assustou vê-lo tão abalado emocionalmente.

Não precisei ressaltar que o escutaria independente da situação, porque ele já sabia. Achei que ele estava tentando criar coragem para botar tudo para fora.

- Meu pai... Caroline... - sua voz estava rouca e dispersa.

- O que aconteceu com Caroline? - perguntei na hora, sentindo meu coração bater mais forte.

- Nada... quero dizer, algo aconteceu - ele suspirou. - Minha mãe ouviu uma conversa nossa e descobriu que Caroline é lésbica.

Meu queixo caiu. Não por causa do fato em si, mas por causa das consequências que aquilo poderia ter.

- E ela falou para o seu pai... - conclui.

Ele assentiu e o meu coração errou uma batida quando eu entendi o que tinha acontecido. Ah, não. Por favor, não...

- Sim - ele voltou o olhar para mim. - Foi horrível, Lydia. Eu só... eu não sei o que fazer...

Cheguei mais perto e coloquei minha mão em seu ombro, que estava estupidamente tenso.

- Mas o que aconteceu exatamente? - minha cabeça estava cheia de perguntas. - Quando foi isso?

- Isso aconteceu no domingo, logo após da festa de Brooke - estremeci um pouco. - Meu pai tentou avançar nela, mas eu impedi. Não podia deixar que ela fosse espancada só por ser quem é. Eu aceito ser o saco de pancadas dele, mas não posso aceitar de jeito nenhum que ela seja também...

Assenti, o escutando atentamente. Senti que eu havia começado a tremer também.

- Mas nos outros dias só piorou. Eu não fui na escola porque ele ficou o tempo inteiro em casa e eu tinha que achar um jeito de protegê-la. Quero arranjar um meio de tirar Caroline dessa merda toda. O salário que consigo com Timmy não é o suficiente, por isso tive que trabalhar turnos extras e faltei ainda mais na escola. - Ele engoliu seco. - Minha mãe só chora o dia inteiro, como se a minha irmã fosse uma aberração. Caroline está muito triste, Lydia, você não tem noção. Também parou de ir para escola e fica em estado vegetativo. E isso... Isso parte o meu coração, porque ela é a pessoa que eu mais amo no mundo.

As lágrimas que não saíam iriam surgir logo logo nos meus olhos, porque meu coração havia sido despedaçado. Eu não conseguia respirar direito e pareceu como se eu estivesse sentindo o que eles estavam passando também. E foi horrível.

Os olhos de Sawyer, que fitavam avoados a mesa de centro, demonstravam todo o medo dele. Suas mãos tremiam como se ele estivesse prestes a colapsar. Eu conseguia ler suas emoções e não gostei do que vi.

Puro e sincero desespero.

- Eu achei que as coisas estavam se acalmando, porque meu pai não tinha sido agressivo ontem. Mas hoje tudo piorou. Ele voltou para casa muito bravo porque viu um casal gay se beijando na rua e se lembrou da minha irmã. - Ele parou um tempo e eu fiquei aflita com a demora para completar o raciocínio. - Ele bateu ela, Lydia. E eu não consegui impedir.

Meu coração finalmente se quebrou. Do jeito mais metralhador e completo possível.

- Então, eu bati nele - sua voz já estava fraca, como se ele estivesse se controlando para não chorar. - E foi a pior decisão que eu já tomei, porque ele falou que era melhor eu sair da frente dele naquele minuto ou ele não pensaria antes de fazer qualquer coisa comigo.

Só FingindoWhere stories live. Discover now