A Audição e o Olfato

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POV YOONGI

Rosa? Eu estava andando com um híbrido de cabelo rosa? Podia ser pior? Podia, sempre podia.

O sol morno era realmente uma novidade, eu nunca pensei que ele pudesse ser tão gentil com a minha pele translúcida. Estava aproveitando-o quando ouvi Jimin conversar com outro alguém e sua mão apoiou-se em minha perna enquanto — acho — que ele se levantava. Por instinto, levei minha mão até a sua, mas ele foi mais rápido do que eu e quando toquei minha perna, ela não estava mais lá. Mais uma vez não pude tocá-lo.

Sua voz conversando com aquela criança era gentil e carinhosa, tinha riso e sorriso em sua voz, o que me fez imagina-lo sorrindo. Como ele seria? Gordinho? Magrinho? Seu rosto era redondo ou mais angulado? Tinha bochechas fartas ou eram menos salientes? Estava curioso, mas não podia vê-lo, mesmo que ele permitisse isso e eu já duvidava.

— Pode se sentar aqui, Yoongi.

Segurei o braço dele com leveza e me sentei em um local com sombra agora. Uma brisa leve passou por mim, movimentando meus cabelos escuros e me fazendo sorrir; mais uma vez olhei para o que eu achava ser o céu, provavelmente enfeitado com copas de árvores de folhas verdinhas que formavam moedinhas douradas no chão do parque.

— Consegue ouvir?

— O que? — Perguntei.

— Então tome atenção e ouça. — ele disse suavemente.

Comecei a prestar atenção no lugar; pude distinguir crianças brincando e gritando ao longe, um ou outro cachorro latindo, carros passando. Com o tempo, notei mais coisas, como o barulho de água de uma fonte que eu não sabia que aquele parque tinha, o som de um ou outro pássaro passando, e uma... música? Quando o vento vinha em nossa direção, eu podia ouvir um som baixinho de violino, tocando algo calmo e harmônico.

— Tem uma fonte?

— Sim... ela tem uma bonita flor no centro, de onde sai água das pétalas, escorrendo por elas.

— E... alguém tocando violino?

— Muito bem, Yoongi! — tinha sorriso em sua voz. — Ele está no pé da fonte, sentado em um banquinho e tocando, de olhos fechados. Algumas pessoas passam e jogam moedas para ele, mas não param para ouvi-lo. Na verdade, apenas uma criança está ali do lado, sentado no chão e olhando fixamente para ele, admirando-o.

— Eu costumava ficar assim quando meu pai tocava piano. — eu disse num sorriso saudoso. — me sentava no tapete da sala e dormia ali, às vezes. Acordava na cama.

— Sente falta deles? — ele perguntou.

— Sinto falta do passado, do que éramos, do que tínhamos. Eu não sei se fui eu quem mudou ou eles, mas as coisas começaram a desandar e nós não nos dávamos mais tão bem quanto antes. Eles começaram a brigar e isso foi me afetando, até que eu recebi uma proposta de uma galeria para fazer quadros para ela, e quando tive dinheiro, deixei a casa dos meus pais e vim morar em Busan.

— Ah... entendo. Eu acho.

— Eu me achava bem solitário... — eu continuei. — até que você me disse que não tinha pais, ou muitos amigos.

— Eu não tenho sequer boas lembranças de onde eu morava. — disse mais baixinho. — Mas não importa. Não sente falta por estar sozinho sempre?

— Nunca tive companhia. — eu dei de ombros, olhando novamente o que achava ser o céu, com a bandagem me cobrindo. — Nunca tive uma conversa assim, também.

— Sobre seus sentimentos?

— Sobre mim. — eu fiz uma pausa. — Nunca quiseram saber muito sobre mim.

Blind Love (yoonmin hybrid)Where stories live. Discover now