Paladar

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POV JIMIN

Meu corpo inteiro tinha gelado ao ter o rapaz tão perto de mim; ele não podia ver, mas seu rosto ficou a centímetros do meu e meus lábios se entreabriram, soltando o ar por eles. Eu quis, como poucas vezes na vida eu quis alguma coisa, beijar o rapaz naquele momento, mas eu não podia fazer isso. Não era certo.

Sua linha de raciocínio, mesmo que dita de uma forma muito leve fez meu coração palpitar. Ele havia entendido que nossas diferenças eram mínimas e que ele não deveria colocar isso como preconceito para julgar alguém. Porém, eu tinha medo, ainda assim.

Ele estava fragilizado, eu não podia me esquecer disso, e eu era a sua única mão, a sua luz naquilo tudo, não podia deixar que isso bagunçasse os sentimentos que tínhamos. Apesar de eu estar quase certo dos meus.

Não queria gostar de alguém como ele. Alguém que não gostava de híbridos, alguém que tivesse que aceitar a minha condição, e não apenas abraçá-la comigo. Ele era difícil, irritado, e só depois de um tempo que eu consegui mantê-lo calmo. Eu tinha medo que quando ele voltasse a enxergar, visse também que não era nada daquilo. Sairíamos magoados, os dois, e não era isso que eu queria.

Quando ele começou a dizer que eu tinha enfeites de Halloween, eu bati em seu ombro. Era uma afronta, mas eu tinha entendido que ele via aquilo — agora — como apenas adereços da vida, e seu coração estava calmo, assim como a respiração, a plenitude de quem solta uma corda muito pesada e respira pela primeira vez sem amarras. Sim, ele falava sério, mas eu precisava de mais que isso. Precisava saber se, quando ele me visse, ainda pensaria assim.

— Vem, vamos comer o que eu trouxe.

Ele não tinha ideia do que eu tinha trazido, porque sequer sabia que vínhamos aqui hoje. A ideia era simplesmente fazê-lo aproveitar o dia, mas acabei tendo outra ideia, e aquela aproximação foi a causa. Me levantei e ajudei o rapaz a fazer o mesmo, guiando-o para a toalha que eu tinha colocado ali perto, debaixo de uma árvore. Depois que ele estava sentado, me sentei ao lado dele e eu peguei a cesta, coloquei perto de mim.

— Você pode só comer ou nós podemos fazer um jogo. — já que ele estava tão disposto a gracinhas hoje.

Ele sorriu antes de responder. — Um jogo? Eu gosto de jogos.

— Eu trouxe muita coisa, e você tem que adivinhar o que está comendo. Na sua ficha tinha o que você gostava ou não, então não se preocupe.

— Bom... tudo bem então. — ele concordou.

Limpei as mãos com álcool em gel e começo a separar as frutas. Peguei uma uva e levei até os lábios dele.

— Abra a boca.

Seus lábios se fecharam sobre a fruta e eu tive o cuidado de não tocar seu rosto ou seus lábios no processo.

— Hmm, fácil. Uva.

— Muito bem, vamos ver se acerta os outros.

Comecei a disfarçar os gostos com mel, calda de chocolate e nutella, mas ele conseguia identificar tudo, e por último foi a maçã com mel.

— Aish, você acertou todos.

— É claro que sim! — ele sorriu vitorioso. — Sou muito bom nisso.

— Sei... Yoongi...?

— Hmm?

— Você... falou sério quando disse que me beijaria?

— Falei, sim. — ouvi o coração dele dar um salto. — Por que?

— É que... nada.

Peguei a colher que estava com chocolate e levei aos lábios; com eles um pouquinho sujos do doce, me aproximei do rapaz. Eu podia me arrepender de fazer isso, mas dormir com essa vontade ia ser bem pior.

Blind Love (yoonmin hybrid)Where stories live. Discover now