14-"Mentiras"

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Hoje irei falar com a minha mãe. Ela não pode levar adiante essa ideia absurda, não posso me casar agora, ainda mais com aquele homem grotesco.

Desde que Papai se foi, eu quase não tenho
saído mais do meu quarto. Tudo me fazia lembrar dele, e a cada momento em que me deitava para dormir, pedia em pensamento para que tudo isso fosse só um sonho, mesmo sabendo do contrário. Não ter mais a visita dele no meu quarto todas as noites para me desejar boa noite, nem ouvi-lo me chamar de Elle, como ele costumava me chamar, sendo o único a me chamar dessa forma.

— Entre! — Respondo de imediato ao ouvir batidas na porta, me tirando de vez dos meus pensamentos profundos.

— Isabelle. — Minha mãe entra no quarto, com um sorriso terno no rosto.  — O jantar já  será servido.

— Estou sem fome. — Respondo, voltando a observar a luz da lua cheia que invadia o ambiente.

— Filha... Por favor, junte-se a nós à mesa. Ou se preferir, posso pedir para que Charlotte traga o seu jantar aqui.

— Mamãe... — Seguro a sua mão, trazendo-a para perto de mim.

— Quer me dizer alguma coisa?

— Não posso me casar com o príncipe
Christopher. — Solto, já sentindo o nó na garganta se formar.

Ela suspira e senta-se ao meu lado, antes de começar a falar.

— Isabelle, eu não posso cancelar isso, não agora que o seu pai se foi... Ele pediu a sua mão, você sabe que tem que se casar, e o príncipe Christopher vem de uma ótima família.

— Ele humilhou a Charlotte! Ele é um ogro!

— Pare, Isabelle! Eu sei que você não quer se
casar, mas não invente mentiras!

— Mas... Não estou inventando! Não faça com que eu tenha que me casar com ele... Não posso fazer isso... — A essa altura, eu já não conseguia mais conter as lágrimas que caíam. Ela nunca me entenderia, minha mãe sempre foi a mais racional.

— Você irá se casar com ele, ele não é um ogro como diz, você só não quer se casar, mas logo irá se acostumar.

— Eu não vou me acostumar! O papai me
entenderia! Ele não iria me forçar a isso! — Grito as palavras, fazendo ela me olhar surpresa.

— Já chega! — Ela se levanta, caminhando em direção a porta. — Acha que eu também não sinto a falta dele? Dói em mim também, todos os dias, mas ele se foi, e não voltará mais. — Podia sentir o peso das palavras que saiam de sua boca. — Charlotte trará o seu jantar, encerramos esse assunto.

Não ousei falar mais nada depois disso. Ficar remoendo a morte do meu pai não machucava só a mim, afinal, antes de mim, eles já estavam juntos. E por mais que eu quisesse gritar, e negar esse casamento, eu sabia que não adiantaria, ela estava com a cabeça cheia, e sua decisão já havia sido tomada.

•••

Cá estava eu, no jardim olhando as flores, onde eu sempre vinha quando queria pensar. Esse literalmente era o meu lugar favorito daqui. 

— Príncipe Christopher? O que faz aqui? — Me assusto quando sinto sua mão sobre meu ombro, me afastando bruscamente dele.

— Calma, Princesa. Eu só vim conversar.

— Não tenho nada para conversar com você. — Era só o que faltava, ser oportunada no meu único lugar de paz.

— Começamos mal, eu queria lhe pedir desculpas.

Não o respondo, apenas tentava ignorá-lo. Talvez assim ele fosse embora.

— Tudo bem, você está chateada ainda.

— Você está certo.

— E como posso me redimir?

— Desfazendo o pedido de casamento.

— Isso não será possível.

— Nesse caso, continuarei chateada.

— Acho que posso resolver isso de outra
forma. — Ele me dá um sorriso estranho, tornando a se aproximar de mim.

— Não chegue perto!

— Está tudo bem, Princesa Isabelle, só quero
conhecer melhor a boca da minha futura mulher.

— Eu já avisei... — Dou um passo para trás, temendo o que ele pudesse fazer, já que estávamos sozinhos.

— Não tenha medo, você irá gostar. — Diz ele, encostando o seu rosto próximo ao meu, para assim, ficar olhando para a minha boca. Eu estava encurralada, e conforme ele  chegava mais perto, meu medo aumentava. E foi quando senti a sua mão sobre a minha
cintura, que lhe dei um forte tapa no rosto
por impulso e me afasto rapidamente em seguida.

— O que você iria fazer? — Pergunto ofegante, já distante dele.

— Te beijar, droga! Por que fez isso?

— Não pode fazer isso!

— Ninguém iria ficar sabendo! E isso iria
acontecer de qualquer forma.

— Não... Isso nunca vai acontecer, porque eu
não vou me casar com você!

— Claro que vai, tolinha.

— Me deixe em paz! — Saio rapidamente de lá, encontrando minha mãe, na entrada.

— O que houve filha?

— Isabelle, espera! Alteza... — Christopher nos alcança, mudando falsamente o seu semblante de raiva.

— Príncipe Christopher, o que houve com o seu rosto?

— A princesa me deu um tapa, mas não
não foi nada, não se preocupe.

— O que disse? Isabelle, por que bateu nele? — Incrédula, ela me olha.

— Do que adianta eu falar, não acreditará em mim, de qualquer forma. — Dando as costas para ambos, caminho em direção aos portões, afim de que um dos guardas me levasse até a casa de Jane.

•••

— Isabelle? Aconteceu alguma coisa?

— Aquele príncipe medíocre foi até o castelo novamente.

— Mas, por que está assim? Ele fez algo?

— Ele queria me tocar... E me beijar... Isso é errado, um homem não pode fazer isso com uma mulher que ainda não seja sua esposa. Ele não podia ter tentado fazer isso.

— Por Deus! Isso está errado, esse homem não tem o mínimo de noção.

— Sim, e eu... Bati nele.

— Bateu nele?

— Eu tive que me defender, e ele mereceu.

— Não devia ter feito isso...

— O que?

— Devia ter dado um soco! Seria bem melhor.

— Eu só agi por impulso. Nunca pensei que fosse capaz de machucar alguém dessa forma.

— E fez bem! Você tem o coração muito bom, se fosse eu, ele não sairia com o rosto no lugar, iria voar no pescoço dele!

— Não tenho dúvidas disso.

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