21-"Ajuda ou Posse?"

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Desperto aos poucos, sentindo uma forte dor de cabeça. Consigo abrir os olhos com dificuldade para me adaptar à claridade e enfim consigo enxergar o lugar onde eu estava. Era um quarto grande, de paredes cinzas, completamente diferente do que eu estava antes, esse era limpo e não cheirava mal.

Ouço a porta ser destrancada e rapidamente fecho os olhos, fingindo ainda estar apagada. Passos se aproximam, minha respiração fica pesada sem que eu consiga controlá-la, mas não ouso abrir olhos.

- Sei que não está dormindo. - Uma voz grave e um pouco rouca, masculina diz. - Você dormiu um dia inteiro, por um momento, achei que estivesse em coma. Enfim, deve está faminta.

Nesse ponto ele estava certo, me sentia fraca, mesmo deitada. Com um pouco de coragem, eu abro os olhos novamente, vendo o homem que falava comigo, parado à minha frente. Ele tem cabelos escuros, olhos claros, e um olhar intenso que não consigo manter por muito tempo. Desvio o olhar para meu corpo, percebendo que ainda estava com as roupas da boate.

- Não vai falar nada? - Ele indaga, parecendo tão confuso quanto eu.

- Quem é você...? Onde eu estou? O que
estou fazendo aqui? E... Por que me comprou?

- Perguntei cedo demais. Bom, vamos lá, eu vi o seu estado na frente daquele palco, seu jeito desengonçado e de quem não queria estar lá, então, por impulso ou talvez muita burrice, eu te "comprei". Que estranho se dizer isso, afinal.

- Tem razão... Eu não queria estar naquele lugar. - Então ele só quis me ajudar? Me nego a acreditar nisso.

- Qual o seu nome?

- Isabelle.

- Tome um banho e desça até a cozinha, Isabelle.

Então é isso? Eu devia mesmo acreditar nele?

- Eu não tenho roupas limpas... - Não entendia por que ele estava tão tranquilo com toda essa situação, porque eu não estava.

- Falarei com a governanta da casa, ela providenciará uma roupa pra você. - Dito isso, ele caminha até a saída.

- Espera! Qual o seu nome?

- James. - O homem responde, fechando a porta.

Depois de tomar banho, me visto com um
roupão que estava pendurado lá dentro e fico esperando a senhora que trará roupas limpas para mim. Se passaram minutos, e desde então ninguém havia aparecido.

Será que eu devia ir atrás dele?

Caminho até a porta, abrindo-a e dando de cara com uma mulher alta, loira e bem elegante. Ela me olha de cima a baixo e dá um sorriso.

- Agora eu entendo o porque não atendeu
minhas ligações, James! - Ela fala alto, chamando a atenção do Homem que logo surge em nossas vistas.

- O que? Não seja tola, não aconteceu nada
aqui.

- Vai dizer que não fez...

- Você quietinha é um amor, Rose! - Ele a interrompe. - Verônica vai demorar um pouco pra voltar. Enquanto isso, terá que ficar de roupão mesmo.

- O que eu tô perdendo? - A loira pergunta confusa.

- Nada. Vamos Isabelle, precisa se alimentar. Quanto a você, Rose, não é uma boa hora.

Ele desce as escadas e eu o sigo até a cozinha, me deparando com uma mesa farta, coisa que eu não via há semanas, minha barriga comemora com a vista. Me sento meio sem jeito e fico encarando os
pratos, com receio de pegar qualquer coisa.

- Fique à vontade. - Ele me incentiva.

Começo a me servir, sendo a todo tempo
observada por ele.

- Você não vai comer também? - Pergunto.

- Eu já comi. - Apenas concordo, começando a comer. - Me diz, como você foi parar naquele lugar? Dívidas?

- Não! Eu... fui sequestrada.

- Sequestrada?! - Ele me olhou assustado. - Achei que aquelas garotas estavam lá porque quisessem, ao menos, foi o que aquele cara deu a entender.

- A maioria sim, mas tem a minoria... Que são levadas a força. Eles não fazem muito isso, procuram ser discretos.

- Eu fiquei muito confuso quando vi
aquele Homem negociando a venda daquelas garotas, mas pesquisando a caminho daqui, fiquei sabendo que isso era "normal" naquela área da cidade. Até policiais vão lá, por isso ninguém nunca denuncia.

— E onde estamos agora?

— Oakland, Califórnia.

— Tão longe... Ainda sim... Muito obrigada por ter me tirado de lá. Eu não sei o que seria de mim se eu tivesse ficado...

- Não me agradeça. Você pode ir embora hoje se já estiver melhor.

- Não! Quero dizer... Eu não posso.

- Não pode? E por quê não?

- Eu não posso voltar... Na verdade... Eu nem sei para onde voltar. - Confesso, sentindo o nó se formar na garganta.

- Calma. Não posso deixar você aqui, as
pessoas irão querer saber quem você é, e o que é minha. Se é que você me entende.

- Por favor... Eu faço o que você quiser... Só me deixe ficar aqui por uns dias. - Sinto meus olhos arderem, e o desespero voltar.

Eu até poderia ir embora, mas todo o meu dinheiro havia sido roubado quando fui sequestrada. Sem contar que eu estava a ponto de entrar em pânico, só de imaginar colocar os pés lá fora. O medo de que aconteça novamente me consumia por completo, e até mesmo, medo de algo ainda pior.

Ele passa a mão no cabelo parecendo pensar, e suspira fundo.

- Tudo bem. Mas não ficará por muito tempo.

- Muito obrigada, senhor James.

- Senhor? Calma aí também né.

- Desculpa, é só uma forma de dizer.

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