20. o pau te acha

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— Boa tarde! Meus amigos e eu precisamos de dois quartos para nos abrigar. Chegamos agora de viagem e estamos cansados demais para continuarmos caminhando até nosso destino. - Jeonghan sorria de orelha a orelha, tentando passar o máximo de sinceridade possível para a velhota que nos encarava com desconfiança em seu olhar seco.

Para minha felicidade, nenhum Serial Killer nos aguardava, e nem coisas assustadoras. Na recepção da pousada, que julguei por abandonada, tudo era o mais bonito possível; Tinha uma decoração rústica com algumas plantas por aqui e por ali para deixar aquilo com um ar confortável, um tapete bonito de pele de tigre estampava o chão brilhante de madeira, a televisão de plasma pendurada na parede exibia um noticiário qualquer, e bem ao lado do balcão havia uma escada bonita de madeira de carvalho que, provavelmente, dava até os quartos da pousada.

Era o lugar mais aconchegante que já entrei em toda a minha vida.

— Olá, rapazes bonitos! Fiquem à vontade. Eu tenho quatro quartos disponíveis, se quiserem ter a privacidade de vocês. - Retribuiu o sorriso, tão doce que meu olhar gritava por uma dose de insulina.

— Obrigado, senhora... - Wonwoo a respondeu, dando uma pequena pausa, sugerindo que a dona da pousada dissesse seu nome.

— Abigail. E não me chame de "Senhora"! Me sinto velha. - Fez um bico, cruzando seus braços magros na altura do peito.

Soonyoung soltou um riso silencioso.

— Tudo bem, Abigail. Mas nós só vamos querer dois quartos, mesmo. Se não se importa. Ah, e eu gostaria de saber quanto custa a diária, e se não for muito incômodo, quantos quilómetros são daqui até a Califórnia?

— Vocês são de qual país? Nasceram aqui mesmo? - A senhora ignorou as perguntas e torceu o rosto com uma expressão engraçada de curiosidade, encarando cada um de nós de cima a baixo, e se bobeasse, ela estava já até ciente de nossas alturas exatas.

Jeon soltou um pigarreio, colocando a mão na boca. Claramente estava ganhando tempo para inventar alguma desculpa para convencer a senhora de que éramos apenas bons rapazes que estavam afim de passar as férias em um lugar mais peculiar – a pousada no meio da estrada deserta.

— Todos nós nascemos aqui mesmo. - Wonwoo respondeu, e então continuou quando Abigail pareceu exigir mais explicações apenas com seu olhar intrigante: — B-bom, meu nome é Liam, e estes são Louis, Harry e Niall. - Apontou seu dedo para Soonyoung, Jeonghan e eu, respectivamente. — Zayn não pôde vir.

Uau, parece que virei um membro da One Direction.

Abigail estalou a língua e continuou a nos encarar por alguns longos instantes, para só assim começar:

— A diária custa cinquenta dólares por pessoa, e bem, sobre este assunto da Califórnia, precisarei dar uma pesquisada em meu computador e já digo a vocês. - Ajeitou seus óculos redondos de lentes que pareciam bem fundas. — Enquanto isso, mandarei prepararem os quartos para se acomodarem, okay? Sintam-se em casa.

Me perguntei como alguém podia ser tão simples e tão ingênua assim?

A senhora sorriu e virou suas costas para o gabinete velho que ocupava uma mesinha atrás da bancada. Seu corpo era bem miúdo, sua pele morena, tinha braços finos e pelancas balançando por eles. Seu rosto era bem cuidado, de um maxilar marcante e olhos grandes com as pupilas sempre dilatadas. Ela aparentava ter, no mínimo, sessenta e cinco anos de idade, e felizmente muito lúcida para seus possíveis sessenta e todos anos.

Eu me acomodei em um canto que não tivesse planta, o que era um pouco difícil naquela sala, e para minha sorte, fiquei de frente com a televisão e então passei a assistir o que exibiam no jornal da tarde. Abigail notou minha atenção à TV e pegou um controle para aumentar o volume. A jornalista aparecia de blazer branco, camisa bege e uma saia preta, apresentando mais uma reportagem em frente a um lugar que não me parecia muito estranho. Franzi meu cenho e cruzei os braços, batendo meus pés sobre a madeira de forma inquieta.

— "... por dezenas de golpes, sendo eles Yoon Jeonghan como chefe do esquema, Kwon Soonyoung e Jeon Wonwoo como capangas. - As mesmas fotografias penduradas no quadro branco da agência, apareciam na tela da televisão. — ... A polícia de Nova York investiga também o sumiço de um dos agentes do FBI, Hong Jisoo, que está sendo acusado por traição ao Governo e cúmplice de homicídio e estelionato. Voltaremos em breve com mais informações e com a entrevista com o chefe de agência, Choi Seungcheol."

Minha boca estava aberta em uma reação que eu não sabia se era de pavor, de surpresa ou os dois juntos. Virei meu rosto para encarar as expressões alheias e ter certeza de que eu não era o único atônito naquela sala: Jeonghan mexia em seu celular e ria de algum provável meme; Soonyoung assistia à televisão, mas nenhuma expressão diferente da habitual tomava seu semblante; Wonwoo roía suas unhas e suava feito um porco enquanto seu desespero interno passava para a extremidade de seu corpo. Talvez Wonwoo fosse o único sensato daquela sala, apesar da ironia.

— Homicídio? Então... - Sussurrei à mim mesmo, levando uma mão na boca de forma teatral.

— Ele morreu. - Afirmou. — Eu sinto muito. - Wonwoo chegou ao meu lado, apoiou uma mão sobre meu ombro e me soltou um sorriso de compaixão, como daquele que me dera no carro. — Você pode ter certeza que o Soonyoung vai pagar por tudo o que ele fez, tudo bem? Eu te prometo.

Eu até pensei em respondê-lo o acusando de um homicídio, de acordo com fontes do FBI. Mas, além de não ter sido o momento, a intromissão de Jeonghan atrapalhou totalmente.

— One Direction? Sério isso, Liam? - Jeonghan se aproximou de nós, sussurrando ironias sobre Wonwoo, e logo depois direcionou seu olhar para a televisão.

— Precisamos sair daqui. Nossas fotos estão em todos os lugares. E o que importa é que a ideia do Wonwoo deu certo, então não reclame. - O respondi. — Vai chamar o Soonyoung, vamos meter o pé daqui, antes que seja tarde.

— Não me disseram que você virou o líder agora, Jisoo. Perdi alguma coisa? - Jeonghan arqueou as sobrancelhas e um sorriso cínico moldou seus lábios. Meu corpo tremeu de medo da cabeça aos pés.

— É para o nosso bem. - Wonwoo se intrometeu, tentando evitar algum possível conflito.

Jeonghan nos encarou, estalou a língua e só assim se virou para chamar Soonyoung:

— Louis, venha cá. - Soonyoung nem ao menos mexeu a cabeça. — Louis! - Jeonghan gritou, chamando a atenção até mesmo de Abigail.

— Sim? - Levantou-se e se aproximou de nós.

— Vamos embora. - Direcionou seu olhar para Abigail. — A senhora- Parou por um momento, se lembrando da advertência que ela dera a Wonwoo. — Você chegou a pesquisar sobre a Califórnia? Infelizmente houve uma mudança de planos e vamos precisar ir embora, se não se importa.

— Vão dar uma bela de uma caminhada daqui até lá, mas chegarão pela madrugada, isso se não pararem para comer, ou algo do tipo.

Jeonghan encarou Wonwoo por um longo momento, e parecia buscar alguma ideia no olhar curioso alheio.

— Que horas são, Liam?

Wonwoo olhou rapidamente em seu relógio de pulso, e voltou a encarar Yoon. — Faltam dez para às quatro. Não me diga que quer andar agora? Se a mulher disse que chegaremos lá de madrugada, então vou chutar umas quatro horas da manhã, das quatro às quatro são doze horas. Por que não dormimos aqui e saímos amanhã às cinco ou seis da manhã? Já vai estar clareando, e agora está anoitecendo.

Jeonghan abaixou o olhar, pensava tanto que seu cérebro parecia escorrer para fora dos ouvidos. Fitou todos nós, mordeu o lábio inferior e só assim disse, em tom autoritário e ríspido:

— A polícia rastreou nossos celulares e está atrás de nós. Vamos agora.

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