21. as brasas frias

224 31 14
                                    

No meu relógio marcava vinte e dois minutos para às onze da noite. Meus pés formigavam, minha cabeça doía, e o frio começava a se fazer presente durante nosso percurso até a maldita Califórnia.
Jeonghan, Soonyoung e Wonwoo caminhavam rapidamente, como se fossem robôs, nunca se cansavam nem reclamavam nem paravam para respirar, e aquilo me dava agonia cada vez que eu pairava meu olhar neles. A todo o momento eu me perguntava: por quê?

Não me fazia sentido algum ainda estar ali, apesar de tudo. Talvez o amor que eu sentia por Jeonghan não era o suficiente para suportar aquela situação, para fugir da polícia, para ter que superar o luto da morte de um amigo, calado. E só talvez eu devesse desistir no meio do caminho, mas se eu desistisse, Jeonghan teria coragem de me matar? Ou me deixaria ir e nunca mais me veria novamente? Teria coragem de olhar bem no fundo dos meus olhos e enfiar uma faca na minha barriga? Talvez. Eu não lutava mais para ganhar o amor de um golpista, eu agora lutava pela minha vida e pelo resquício da honra que ainda me restava.

Mas no momento em que Jeonghan se aproximou de mim, tirou seu casaco de tecido grosso e o colocou sobre minhas costas, que aquelas questões desapareceram da minha mente e nunca mais voltaram. Ele andava em silêncio, não trocou uma palavra comigo, mas me encarava a todo momento, e sim, eu senti que ele queria me dizer algo mas não conseguia.

— Obrigado. Pelo casaco. - O fitei de relance, tentando não sorrir como um bobo ao sentir o cheiro de seu perfume impregnado na gola da roupa.

— Notei que você estava com frio. - Deu de ombros e enfiou suas mãos dentro dos bolsos da calça. — Não precisa agradecer.

— Quer ficar aqui comigo? Acho que seu casaco é grande o bastante para nós dois.

— Na verdade, não é.

— Não importa. É bom que ficaremos bem grudadinhos. - Deixei escapar. E quando notei a merda que fiz e procurei um jeito de consertar, Jeonghan já se colocava debaixo do casaco junto à mim. Seu corpo era quente, porém trêmulo. Ele estava claramente nervoso.

Kkwag anajwo nae mogeul gamajwo... - Cantou Wonwoo, me surpreendendo com seus dotes musicais que, até então, não imaginei que viria de um ladrão cara de pau. Ele encarava a mim e Jeonghan com um sorriso malicioso, e Soonyoung parecia gostar daquela gracinha.

— O que quis dizer com isso, seu desgraçado? - O loiro perguntou, se afastando de mim como se aquilo fosse uma ofensa.

E não satisfeito com o grito de Jeonghan, Jeon Wonwoo Estraga Prazeres ainda fez questão de continuar a provocação:

Hug, hug, hug me. - Cantou mais alto, rindo daquela saia-justa que nos apertava.

— Para agora! - Vociferou Jeonghan. Seus olhos que antes transmitiam um sentimento calmo e de ternura, agora expressavam pura raiva.

— Ah, chefe! Para com isso, eu te conheço. Tá na cara que você morre de amores pelo Joshua. Não seja mentiroso e nem tente esconder isso de nós. - Soonyoung o respondeu.

Yoon se calou. E o silêncio dele me assustava mais que qualquer grito ou ato de violência que expressava. A ideia de que ele provavelmente estava apaixonado por mim... Parece algo distante, mas que eu já sentia secretamente desde o dia em que fugimos. Mas se for mentira? Ele teve a coragem de me jurar amor eterno, ele me abraçou, me beijou, me fez sentir coisas que jamais senti antes por um outro alguém, e me disse que eu o fazia sentir coisas que ele também nunca havia sentido por outro homem. Minhas bochechas já estavam rubras só de pensar na possibilidade de um amor real com Jeonghan, e se Soonyoung disse, então está dito.

the spyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora