Capítulo 104 - Memórias

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Severo fechou os olhos. Grace voltou a chorar. Quando voltou a olhar para seu pai, percebeu que a mordida profunda causada por Nagini havia se fechado. O corpo de seu pai estava lentamente sendo curado pelo líquido que ela deu a ele. Severo voltou a abrir os olhos, e Grace o ajudou a se sentar.

- M-mas, como...? - Grace estava sem palavras.

- Sou um mestre em Poções, querida, - disse Severo, acariciando o rosto de sua filha. - é preciso um pouco mais que um ataque de cobra para me derrotar.

- Você soube esse tempo todo que ele faria isso?

- Sim. Ele precisaria me matar para ser o verdadeiro dono da varinha, e tecnicamente ele conseguiu isso, mas a poção que você me fez tomar foi uma invenção recente minha.

Grace estava agora sentada ao lado do pai, com a cabeça encostada em seu ombro.

- Você criou uma poção para ressuscitar pessoas? - Grace perguntou, de boca aberta.

- Não, querida, não exatamente... - Severo disse, olhando para a filha, que o olhava curiosamente esperando ele continuar. - Ela só funciona em casos como o meu, segundos depois de alguém morrer, dependendo da causa da morte, é claro, a poção funcionará.

- E o que foi que você deu a Harry?

- Minhas memórias. Seu irmão precisava saber de toda a verdade. E acho que você também precisa.

Antes de contar sua versão da história, os dois deram um longo e apertado abraço.

- Eu quero que saiba que eu nunca estaria do lado dos Comensais, jamais me aliaria a eles. Foi tudo combinado por Dumbledore. Esse tempo todo fui um agente duplo.

Ele olhou nos olhos verdes de sua filha, que os lembravam tanto sua amada.

- Eu quero que saiba que nem sempre fui uma pessoa boa, como sou com você. Não me orgulho de muitas coisas que eu fiz. Conheci sua mãe quando tinha apenas nove anos, os Evans moravam na mesma rua que eu. Assim que eu conheci Lily eu sabia que ela era uma bruxa. Quando fomos para Hogwarts foi quando eu conheci James, o pai de Harry, e desde o primeiro momento detestávamos um ao outro.

Grace ouvia tudo com muita atenção, nunca tirando seus olhos verdes dos olhos castanho-escuros de seu pai.

- Acho que Potter e eu tínhamos algo em comum desde o início, Lily, sua mãe, ambos gostávamos dela. Os meus quatro primeiros anos em Hogwarts não teriam sido os mesmos se não fosse pela amizade com sua mãe. Na Sonserina eu tinha poucos amigos, Narcisa era a única na verdade, e mesmo assim não éramos tão próximos por causa da diferença de idade. Sua mãe sempre foi leal a mim, mas eu me arrependo de não ter sido sempre leal à ela. James e seus amigos sempre implicavam comigo e com outros estudantes da escola, e como ele sempre andava perto de Lily, mesmo ela não gostando dele na época, eu ficava cada vez mais irritado com isso. Me aliei a pessoas que hoje em dia são Comensais, e posso dizer com certeza absoluta que esse foi o segundo maior erro que eu já cometi na minha vida. Porque o primeiro foi ver Lily se afastar de mim por isso, foi um dia que eu estava espumando de raiva, e Potter estava implicando comigo, sua mãe foi me defender, e eu acabei descontando minha raiva nela. Eu a chamei de sangue-ruim. Não existe arrependimento maior do que esse.

Severo estava chorando? Grace nunca havia visto isso antes. Os dois choravam.

- O que fez ela perdoar você? - Grace perguntou, a voz tremendo por estar chorando.

- Posso afirmar que não foi uma coisa fácil. Depois daquele dia ela nunca mais falou comigo, nem sequer olhava para mim na escola. Mas eu nunca desisti de sua mãe. Eu, como era tímido e já sofria nas mãos de Potter e seus amigos, não quis causar nenhum tumulto tentando chamar Lily para conversar, ainda mais porque ela andava grudava em James. Eu mandava cartas toda a semana, todas pedindo desculpas, pedindo seu perdão. Nunca soube se ela abriu alguma delas. Mas aí um dia ela voltou a falar comigo. Ela já estava namorando Potter há certo tempo. Havíamos entrado de férias, quando voltei para casa recebi a notícia que minha mãe havia falecido. Como os Evans sabiam do histórico do meu pai, eles me convidaram para a casa deles. Lily voltou a falar comigo naquele dia. E eu não pude me segurar, chorei como jamais havia chorado na frente dela, porque somente com ela eu me sentia confortável em ser vulnerável daquele jeito.

Grace soluçava.

- A escola acabou. Ela e James continuaram juntos. Lily e eu voltamos a ser amigos. Até que um dia sua mãe bateu na minha porta, dizendo que James havia pedido ela em casamento, nesse dia sua mãe confessou que me amava, me amava mais do que um amigo. Lily disse que mesmo assim ela sentia que casar com Potter era o certo a se fazer, disse para confiar nela.

Grace sorria enquanto ouvia a história de seus pais.

- Até que um dia Harry chegou, nesse dia minha esperança em finalmente ter Lily desaparecera. Só que uma noite, Harry deveria ter uns três meses, sua mãe apareceu de novo. Ela me disse que havia criado coragem para agir como o coração dela mandava. Foi aí que você surgiu, querida. Você pode não ter sido concebida e vinda ao mundo no melhor dos ambientes, no melhor dos momentos, mas tenha certeza de que você sempre foi muito bem-vinda e amada. Sua mãe nunca amou tanto alguém como amava você e Harry, e para isso ela teve que tomar algumas decisões difíceis. Ela me prometeu que se a guerra acabasse ela se separaria de James e nós ficaríamos juntos, mas isso nunca aconteceu... Você nasceu, e você foi morar comigo. Lily sempre visitava, é claro. Nunca contei isso, mas quem mais me ajudou com tudo, principalmente quando Lily não podia por causa de Harry e James, foi Narcisa. Eu nunca havia cuidado de uma criança antes, ainda mais de um recém-nascido, mas Narcisa esteve lá quando precisei.

Grace segurou a mão de seu pai.

- Eu até cheguei a sugerir ela como sua madrinha para Lily, mas como já esperava, obviamente sua mãe não aceitou. Acho que se não fosse por tudo isso que aconteceu Minerva teria sido sua madrinha. No fim, quando descobri a morte de Lily fiquei devastado, a única coisa que fazia me prender aqui, continuar a viver, a ter um sorriso no rosto, era você. Então fui até Dumbledore e ele me deu o emprego de professor de Poções, a partir desse momento prometi ficar ao lado dele e da Ordem. Sabe, no início eu não suportei quando tive que deixar você com os Tonks durante o ano letivo, Sirius sendo primo de Andromeda teve forte influência nisso. Mas eu fico muito aliviado e feliz de ver que você sempre pôde ter outras pessoas para chamar de família além de mim.

Novamente os dois se abraçaram, um abraço forte e apertado.

- E-eu preciso ir... - Grace disse.

- Potter agora precisa resolver as coisas sozinho. Mas acho que você pode ajudar os outros no castelo, tenho certeza de que precisam de alguém. - Severo disse.

Grace deu um último abraço em seu pai, e Severo um beijo em sua testa.


*Espero que vocês gostem, porque eu chorei escrevendo... 

A filha de Snape e LilyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora