Ela

ᴡʜᴇʀᴇ ɪꜱ ꜱʜᴇ?

- Onde Ela está?

O Frio da noite me abraçou confortavelmente quando cheguei na garagem gélida, entrei no carro, não liguei o aquecedor. 

Atravessei a cidade sem pressa, olhei para o lado e Harvey me ligava de novo, virei o celular para baixo no banco ao lado.

Meti o pé do acelerador. 

Meus ossos da perna congelaram, meu pé dormiu no pedal. Eu estava a muitos quilômetros por hora, não conseguia enxergar o painel direito. 

Atravessei um ou dois semáforos vermelhos, quase atropelei um morador de rua, não me importei. Saí das rodovias, peguei uma estrada de via única, sem semáforos, meu pé ainda sonhava alto. Foi numa curva aberta que meu corpo todo congelou, minhas pernas, meu tronco, meu cérebro. Um barulho alto de metal amassando e vidro quebrando, um aperto no peito onde o cinto segurava meu corpo, a forte dor de cabeça quando colidi com o volante — o airbag não ativou.

...Eu vi aquela luz se fortificar a cada instante, Ela estava preocupada, as crianças também, era o fim? Eu deveria me despedir? Não saberia o que dizer. 

As lágrimas desceram tão rápido quanto um temporal sem aviso prévio.

"Onde Ela esta?", as palavras ecoaram na minha cabeça e então pela minha boca, minha cabeça doía tanto que me surpreendi por não explodir, o corpo todo doía, a alma também. O sangue quente aquecia minha pele fria, meu coração estava como um tambor no meu peito.

Aquelas luzes coloridas estavam por todos os cantos, brancas, azuis, vermelhas, elas produziam um som alto, queria que desligassem, mas a única frase que meu cérebro conseguia falar era "onde Ela esta?". Havia uns caras me tocando, eles falavam tão alto, tantas palavras, eu nunca saberia dizer tantas. As luzes se fortificaram, eu não queria deixar essa vida, não como deixei aquela, me deixe ficar! Será que Deus me ouviria? Nunca fui um homem devoto, e acho que foi por isso que ele não me ouviu. 

— Você nem se despediu. — Ela disse em algum canto do meu ouvido. 

— Eu queria. 

— Mas não fez. 

— Não quero me despedir. Quero continuar com você. 

— Mas você já se foi. 

— Fui? 

— Sim.

Eles me balançavam tanto, as luzes andavam rápido, ou era eu, não saberia dizer. Minha respiração estava tão cansada, o ar doía para sair e entrar nos pulmões, posso ir agora? Estou muito cansado. 

Por que vocês falam tanto hein? Já encontraram Ela? Preciso me despedir. Mas se eu for sem avisar acho que está tudo bem, Ela vai ficar triste, alguém pode consolá-la? Eu faria, mas acho que estou morrendo.